› Adélio Amaro
Entrevista em exclusivo ao Gazeta Lusófona, em Zurique, no projeto “Portugal em Movimento”, Rui Miguel Nabeiro divulgou os investimentos que o Grupo Nabeiro-Delta Cafés está a fazer na Suíça e revelou algumas “fórmulas” para o sucesso empresarial.
Rui Miguel Nabeiro
Depois de terminar a sua licenciatura em Gestão, iniciou o seu percurso profissional em Madrid, passando por Itália e Suíça. É Administrador do Grupo Nabeiro desde 2009, e um dos responsáveis pela criação da marca Delta Q, projeto que idealizou e que posicionou a empresa no consumo de café em casa. A Delta está em mais de 40 países e Rui Miguel Nabeiro pretende posicionar a Delta Cafés no “top 10” mundial…
O Grupo Nabeiro-Delta Cafés está presente em vários países, desde a China ao Brasil. Com a aquisição total do capital e negócio da distribuidora “AMD Swiss” pretende reforçar o Grupo Nabeiro aqui na Suíça?
Sim. É uma aquisição bastante natural. A “AMD” já era nosso parceiro, já distribuía os nossos produtos, e acabou por surgir esta oportunidade em adquirirmos uma empresa que faturava mais do que nós aqui na Suíça. Faturamos cerca de 11 milhões Francos Suíços e a “AMD”, mais ou menos, 15 milhões, onde uma grande parte é café. Portanto, é sinérgica esta aquisição e acaba por fazer sentido. Nós queremos crescer muito fora de Portugal. Temos a nossa ambição e pretendemos chegar ao “top 10” das marcas de café a nível global. Sabemos que é um longo caminho, mas é um longo caminho que também se faz, não só organicamente, mas por via de aquisições. Esta aquisição, para nós, faz muito sentido.
A “AMD” já tinha montada uma boa rede de distribuição, sobretudo a nível do retalho, que é um canal onde nós, talvez, não sejamos tão fortes, por isso, ajuda-nos a diversificar o nosso portefólio, não só de distribuição, mas de outros produtos, porque a “AMD” distribui produtos essencialmente portugueses. Assim, acabamos por reforçar o nosso posicionamento com uma distribuidora de produtos portugueses.
››› Já há muitos anos que a nossa estratégia passa por ir diversificando o nosso portefólio, com marcas nossas e produtos que vamos lançando e criando ›››
Além do café, está a falar, apenas, dos produtos do Grupo Nabeiro ou de outras parcerias?
Estou a falar de outras parcerias. Já há muitos anos que a nossa estratégia passa por ir diversificando o nosso portefólio, com marcas nossas e produtos que vamos lançando e criando, mas, também, em cada país, podermos distribuir outras marcas através das empresas de distribuição que temos. Em Portugal já o fazemos há muito tempo, com marcas muito fortes.
Essa ação passa por tirar proveito da vossa rede de distribuição, seja em Portugal ou noutros países, como, agora, aqui na Suíça?
Passa, essencialmente, em termos um aproveitamento da nossa rede de distribuição para conseguirmos diversificar o negócio. Aqui, na Suíça e nos outros países, pretendemos fazer um pouco o que já fazemos em Portugal. Aqui na Suíça a “AMD” vem complementar isso. Isto é, permite-nos alargar a nossa rede do café, mas também a nossa rede de outros produtos.
Quando refere promover a rede, essa passa, também, por conquistar o mercado suíço além do mercado português já existente na Suíça?
Absolutamente. De facto, estamos a falar de marcas portugueses, mas hoje já não é possível estarmos só entre o consumidor português. A Delta já consegue vender além da comunidade portuguesa, caso contrário não teríamos a dimensão que já temos. Fizemos um investimento grande nas instalações que temos para nos dotar de capacidade e para podermos crescer. Já o fizemos na expetativa de adquirir a “AMD” ou algo do género para continuar a alargar a nossa rede na Suíça. Os produtos são portugueses, mas não são só para os portugueses.
A Suíça poderá servir de plataforma para o resto da Europa, tendo em conta a localização geográfica?
É difícil considerarmos que na Suíça venderemos para fora deste país. Na verdade, nós somos importadores de produtos portugueses e distribuidores locais. Tudo o resto, que nós vendemos, vem de Portugal. Vendemos aos outros países diretamente de Portugal, seja na Alemanha, na França ou no Luxemburgo. Pensar que existe uma plataforma logística na Suíça… ainda não esteve no nosso raio de alcance, não quer dizer que não venha a estar. Não passa por aí. Passa por nos focarmos a trabalhar muito bem no mercado local.
Esse mercado local passa por quarenta países onde o Grupo Nabeiro está presente. Como é que é feita essa gestão? Tem trabalhadores do Grupo ou é, apenas, através de parcerias?
Nós trabalhamos com três sistemas diferentes. Um deles passa pelo investimento direto num país, como foi inicialmente em Espanha, onde temos as chamadas delegações comerciais, onde temos escritórios, onde temos armazéns e onde temos toda a operação comercial, igual ao que temos em Portugal.
Foi o que fizeram aqui na Suíça?
Sim, nós na Suíça adquirimos a carteira da “Sousa Vaz” que era o nosso distribuidor na Suíça. Por força da necessidade e pelas dificuldades que a “Sousa Vaz” atravessou, nós não quisemos perder o negócio e ficámos com ele. Tivemos de montar a nossa operação para continuar o projeto da Delta na Suíça.
Então, esse é um modelo. Isto é, o Grupo tem uma operação direta e faz a venda aos clientes. Contudo, referiu que eram três modelos…
Sim, esse é um modelo. Um outro modelo passa pela exportação simples, em que temos um importador, como era a “Sousa Vaz”, que importa o nosso café ou os nossos outros produtos e distribui no mercado local. Depois, temos um terceiro modelo, que é como aquele que no início me estava a dizer, perante o qual temos alguns países como Emiratos Árabes Unidos, Estados Unidos ou Reino Unido, nos quais temos, temporariamente, uma ou duas pessoas que trabalham com o nosso distribuidor para ajudar a fazer crescer o negócio.
››› Temos investimento direto em Espanha, França, Luxemburgo, Suíça, Angola, Brasil e China. ›››
Onde tem investimento direto?
Temos investimento direto em Espanha, França, Luxemburgo, Suíça, Angola, Brasil e China. Os restantes são parceiros ou distribuidores.
É notório que o Grupo tem um grande investimento fora de Portugal. Tem sido uma marca de excelência ao longo dos anos. A Delta é verdadeiramente reconhecida pelos Portugueses. Mas, agora, como é que pretende conquistar os quarenta países, como aconteceu em Portugal?
Nós tivemos essa primeira experiência no Brasil, em São Paulo, onde não existe uma grande comunidade portuguesa, esta está mais no Rio de Janeiro, onde não contámos apenas com o reconhecimento dos portugueses. No fundo, o que acontece um pouco por todo lado é que vamos obtendo uma carteira de clientes, como aconteceu aqui na Suíça, no Luxemburgo e na França. Fomos comprando a carteira que era dos nossos parceiros e deu-nos uma base muito boa para fazer crescer a marca. Isto ajuda-nos a colocar a marca, gradualmente e organicamente, em crescendo. Depois, é um trabalho que não é diferente do trabalho efetuado em Portugal. É um trabalho de persistência e consistência. Crescer organicamente é difícil. Estamos a falar de mercados maduros… mercados europeus, mas onde as coisas nos têm corrido bem.
Qual a razão que o levou apostar nos Açores, numa produção tão mínima, concretamente na ilha de São Jorge?
Na verdade, o que acabou por acontecer foi a oportunidade de podermos fazer nos Açores aquilo que já fazemos noutros países. No fundo, é apoiar agricultores
››› Crescer organicamente é difícil. Estamos a falar de mercados maduros… mercados europeus, mas onde as coisas nos têm corrido bem. ›››
locais a poderem ter a sua subsistência do café. Nós, através da rede “International Coffee Partners”, da qual fazemos parte, assim como as maiores marcas de café de empresas familiares da Europa, fazemos isso, apoiamos os pequenos agricultores, principalmente, em África e no Brasil. Quando soubemos que havia a possibilidade de produzir nos Açores fizemos um estudo alargado, durante quatro anos, até termos um caderno para entregar ao Governo Regional, em busca de uma parceria para podermos apoiar a produção nos Açores.
Acabou por ser uma atitude altruísta?
Sim, não há um gesto comercial. Mas, obviamente que queremos vender café dos Açores. Se apoiamos agricultores fora de Portugal entendemos apoiar no nosso país. E, os Açores é um local que tem condições ótimas para produzir bom café, nunca será em muita quantidade, mas a qualidade poderá fazer a diferença, principalmente para a população daquela Região.
Veio até Zurique para participar no evento “Portugal em Movimento” que envolve portugueses de excelência. Como vê este tipo de evento a quase dois mil quilómetros de Portugal?
É um projeto ótimo. Existe muito a ideia de que os portugueses não se apoiam fora de Portugal. Termos um fórum onde os portugueses podem trocar ideias, partilhar experiências e podem ajudar-se, acaba por ser muito positivo. Os espanhóis e os americanos organizam muitos eventos deste género e os portugueses não. Por isso, este tipo de movimento é extraordinário e era bom que houvesse mais.
O Grupo Nabeiro tem surpreendido ao longo dos anos com estratégias, novos produtos, inovação, etc. A curto prazo o que podemos esperar de novo?
Terá de esperar até ao dia 8 de maio para saber as novidades. Nesse dia iremos ter um evento com o maior número de inovações de sempre. Isto só denota o ritmo, a vivacidade da forma como a empresa está viva e, sobretudo, denota tudo o que advém daí… que é uma empresa onde todos têm oportunidade de provar aquilo que querem. É isso que venho ambicionando. Isto é, ter uma empresa onde todos podem partilhar e onde todos podem ter ideias. Não vamos virar o mundo ao contrário, mas vamos surpreender.