› Ígor Lopes
Paulo Jorge Bernardo Pinto tem 51 anos de idade e é natural de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa. Este português, que reside em Genebra, fala, em entrevista ao Gazeta Lusófona, como é viver na Suíça e recorda Portugal.
Em que locais de Portugal tem família?
Tenho família em Pontinha, Lisboa; São Martinho de Mouros, Resende; Silves e Portimão.
Como é a sua vida na Suíça?
Essencialmente trabalho.
Em que trabalha na Suíça?
Sou empregado de limpeza.
Convive com a comunidade portuguesa na Suíça?
Pouco, devido a ter falta de tempos livres. Pois também trabalho aos fins-de-semana.
Como os portugueses são recebidos no país?
Bem, tal como os outros cidadãos, desde que estejam no ativo.
Frequenta associações portuguesas?
Raramente, por último dou apoio á Académie des Lettres et Arts Luso-Suisse (ALALS).
Como consegue matar as saudades de Portugal?
Com a TV por cabo, rádio on-line desde Portugal, noticias on-line ‘facebook’, ‘whatsApp’, vídeo chamada, chamadas telefónicas. Tudo está à distância de um clique, porém falta um abraço.
Vive com a sua família?
Eu e a minha esposa. Porém, sentimos falta dos amigos e familiares de Portugal.
Qual o sentimento quando regressa a Portugal de Férias?
Quando vou a Portugal, volto com a sensação que deveria ter vindo para a Suíça na minha juventude e ter feito carreira profissional, ou, ao invés de acreditar no meu país e na capacidade de mudança, investi tempo e dinheiro na aprendizagem, fiz um curso na universidade e depois nada, desemprego!
Pensa em voltar a viver em Portugal algum dia?
Sim, talvez se tiver saúde e poder de compra, nunca em antes da idade de reforma.
O que conquistou na Suíça até agora?
Embora eu seja português, não me identifico com a epopeia das conquistas, sou empregado e vivo com salário mínimo, o qual serve para pagar a minha subsistência e pouco mais.
Tem filhos?
Não pude, fiquei muitos anos só e a acreditar no amor, sem poder de compra. Quando encontrei a pessoa e decidi viver em matrimónio, já era demasiada tarde para a conceção.
O que a Suíça significa para si?
Democracia, segurança, organização de serviços públicos, respeito e cidadania, possibilidade de estabilidade financeira.
Que imagem tem de Portugal?
Falta de oportunidade de trabalho, salários mínimos, mal chega para alugar casa, excesso de burocracia, envelhecimento de população, baixo índice de natalidade, incêndios florestais e a consequente erosão não apenas da natureza, mas, principalmente, humana (êxodo).
Como e por que veio viver neste país?
Desde a infância, influência da ‘Heide’. Apoio de conhecidos e parentes que por cá se estabeleceram. Fiz um estágio profissional durante três meses no Verão de 1992, no cantão de Friburgo, aquando do fim de ensino secundário ainda com 21 anos. No ano 2000, vim às vindimas apenas um mês. Em 2002, estive a trabalhar de abril até agosto, como assalariado agrícola, numa quinta no cantão da Trogovia. Em julho de 2010, trabalhei como ajudante de cozinha em Luzerna. Em janeiro de 2011, vim para Genebra e sou empregado a tempo inteiro.
O que espera do futuro?
Oportunidade de desenvolver projetos relacionados com a minha aérea de formação. Mais humanismo (respeito, tolerância, solidariedade), Verdade em democracia.
Qual a diferença de vida entre Portugal e a Suíça?
O poder de compra e as carreiras profissionais. Alguns bens são mais caros, o acesso ao serviço de saúde é através de um seguro de saúde, porém, melhor atendimento do que nos nossos centros de saúde (não é preciso ir para a fila às 5h).
A língua é um problema?
Depende das bases na língua mãe e os conhecimentos que temos de língua estrangeira, para mim não sinto dificuldade no francês, porém, no alemão tenho pouca prática.
Como a pandemia impactou o teu dia-a-dia e o da minha família?
Aderi muito mais à informática, fiz mais vídeo chamadas, trabalhei mais a desinfetar do que a limpar. Foi muito difícil estar longe da família e dos amigos, particularmente, na época, senti falta do calor humano.
Colabora com projetos culturais da nossa comunidade lusófona na Suíça?
Sim, na ALALS, gostaria de fazer mais e melhor podendo deixar um legado, afinal, os conhecimentos teóricos e práticos que adquiri só serão proveitosos se puderem ser partilhados.
Por fim, como vive o coração do imigrante português na Suíça?
Certamente, muito melhor do que de outro compatriota a residir noutro continente, ou noutro país da Europa que tenha maior distância física de Portugal e cujos salários sejam baixos. Saudades. As pessoas que deixei, os momentos de convívio, o Natal, a páscoa, os aniversários, e etc., falta de estar com as minhas sobrinhas, com outras crianças, de as ver crescer e apoiar nos bons e maus momentos, das vivências nas festas e romarias. «Longe da Terra distante, longe do seu pessoal, vai lembrando o emigrante a sua Terra Natal».