› Ilídio Morgado
Norberto Ferreira, diz-lhe alguma coisa? Estou certo que sim. Este português de Salvador do Monte, Amarante, é um dos mais genuínos músicos/cantores/entertainers que nos delicia com os seus espetáculos pela Suíça fora e noutros países da diáspora.
Fomos ao seu encontro numa das suas muitas aparições nos palcos em Genebra, cidade onde vive, para celebrar o Amor. Foi no dia 17 de fevereiro em Thônex que Norberto juntou alguns artistas que com ele partilham palco para uma festa a que chamou Grande Gala de São Valentim. Mistura Fina, Grupo os Dinâmicos, Jorge Lima, o grande Fernando Santana e o próprio Norberto, proporcionaram uma noite dedicada ao amor, à alegria, à vida. Nas palavras de Norberto Ferreira, a alegria que traz a todos é reflexo do que desde tenra idade lhe foi incutido por pais e irmãos. Desde a sua terra natal, onde se aplicou no grupo de bombos Pai e Filhos com os seus nove irmãos. Oriundo de uma família musical, foi com naturalidade que o bichinho da música o apanhou nos campos onde ajudava a família e onde começou a sonhar com as suas atuações, imitando os cantores da época e cantando por tudo quanto era lado, a toda a hora. Orgulhosamente ligado à terra que o viu nascer, foi lá que aprendeu a dançar folclore no grupo da terra e nas festas e romarias sentia que teria de ser cantor, animador dos que com ele se cruzavam, o povo. Hoje, é denominado Cantor do Povo por manter inalteráveis esses princípios de que não abdica, adora cantar, dançar, animar, mas o que lhe toca profundamente o coração é ver a alegria que vê nos olhos de quem o escuta e acompanha.
“É a maior recompensa que eu poderia imaginar, ver todas estas pessoas que assistem e participam nos meus espetáculos, a irem para casa de sorriso de orelha a orelha, felizes, relaxados das amarguras da vida por terem passados uma noite de convívio são, genuíno, partilhado em comunhão com todos, cantando, dançando e soltando a alegria que têm dentro e que por vezes não sabem que a têm. É muito gratificante e a ideia do nome Cantor do
Povo surgiu precisamente por esse sentimento de grande amizade que partilho com todos. É uma forma de estar, quando era moço gostava de animar todos à minha beira e hoje não fujo à regra, é um dos meus destinos da vida, cantar, amar, celebrar a vida”, disse.
Depois de muito esforço, treino, noites mal dormidas e ralhetes de pais e irmãos, aprendeu a tocar acordeão e esse novo elemento veio acrescentar uma alegria nova ao grupo de bombos, colorindo as apresentações em que as suas prestações aumentavam o seu desejo de transportar o seu gosto pela música a todos. Pensou, delineou e começou a cantar na sua e em terras vizinhas, sem os suporte técnicos que hoje existem, mas com a sua energia que todos contagia e que o levou a trilhar um caminho num mundo que respira a cada instante. Foi numa dessas festas que conheceu a sua esposa e com ela emigrou para a Suíça. Com o bichinho da música sempre vivo, começou a construir a sua carreira passo a passo, a pulso, com abnegação, resiliência, sacrifício e muito trabalho.
“Canto a saudade do meu povo, do mau país, da minha terra, mas canto sobretudo para alegrar o coração das pessoas. Nas muitas viagens que fiz para ir cantar para os emigrantes, senti sempre um grande carinho, o retorno do meu trabalho. Foi assim que comecei a carreira de cantor da emigração, do povo, do meu povo. Gravei o primeiro CD dedicado à minha terra, Amarante, maioritariamente com músicas de outros artistas, e recentemente gravei o meu quarto CD, com músicas e letras da minha autoria e que falam das minhas experiências, das minhas gentes, família, emigrantes, amigos, amores, histórias. Destacam-se temas que todos reconhecem e dançam afincadamente, Rabinho a abanar, Carro do Amor, hoje nas bocas de muitos emigrantes e também nas articulações de quem as dança”, recordou.
A Gala do Amor, como também lha chamou, é uma declaração de amor ao seu público e uma manifestação de carinho de quem o acompanha.
“Sim, esta festa é dedicada ao amor, a São Valentim, e penso que pela participação que teve, tem e certamente irá continuar a ter, é uma festa bonita, para celebrar a vida e a mor das pessoas, para dizer também que amar e ser amado é maravilhoso e que a música ajuda muito a criar esses sentimentos, essas ligações”, avançou.
Criador de um espaço onde atuou muitas noites, o Olá Portugal, local onde pode desenvolver as suas músicas, Norberto Ferreira está mais que nunca firme na sua carreira, é amado pelo povo que assiste aos seus espetáculos sempre emotivos e vai continuar a transmitir-nos toda a sua inesgotável energia, a sua genica e a sua música que alegra corações. Decerto que um destes dias o vão cruzar por aí e certamente ficarão como todos os que o ouvem, nunca mais lhe serão indiferentes.
Fernando Santana, “O amor é o maior dos sentimentos”
No espaço de duas semanas, Genebra acolheu eventos de música portuguesa diversa, com a presença de Fernando Santana, Emanuel Moura e João Pedro Pais. A música portuguesa esteve em alta. Fernando Santana é uma das melhores vozes da música popular portuguesa.
Poderosa, melodiosa, canta como poucos o melhor que a música popular portuguesa oferece, canções de amor. É uma voz de eleição, onde muitos se encontraram e viajaram nas suas histórias de amor. Encontrámo-lo na Gala de São Valentim.
Fernando Santana, voz inconfundível nas grandes festas portuguesas e na emigração. Em Genebra uma vez mais, as sensações são diferentes?
Obrigado pela receção e oportunidade de comunicar com os leitores do Gazeta Lusófona e com a nossa emigração. É verdade, uma vez mais em Genebra, cidade onde já atuei diversas vezes e na qual sempre tive muito carinho e reconhecimento do meu trabalho. É uma cidade onde gosto muito de atuar, o calor dos portugueses é inigualável em qualquer parte do mundo e aqui não é diferente.
Onde é que tudo começou?
Tudo começou na aldeia de Soutelo do Douro, concelho de São João da Pesqueira, onde nasci. Região do Douro, de excecional paisagem, gostos, cheiros e sabores. Foi embalado por aquela paisagem magnífica que nasci para a música. Artisticamente comecei num grupo de música tradicional portuguesa, com o conhecido nome de Som 2000, depois foi um caminhar por Portugal a fora e pelo estrangeiro. Tempo das cassetes e muitos palcos no remoto do nosso país, cantando para portugueses em todo o mundo.
Músicas e letras especialmente criadas para si, emoções, sentimentos, o amor sempre presente. É onde se sente mais confortável?
Posso dizer que sim. Gosto de interpretar canções que tocam as pessoas e o amor é indiscutivelmente o maior dos sentimentos, além disso dizem que tenho jeito.
Estamos de acordo, tem mais que jeito, é um dom que transmitir em cada nota e na potência que mantém numa voz de uma melodia só ao alcance de poucos.
Obrigado pelas suas palavras, fui bafejado pela sorte e Deus concedeu-me esta característica.
Carreira longa, feita de caminhos, viagens e muitos êxitos…
Carreira de grandes viagens para cantar para toda a gente, 40 anos, 25 álbuns, prémios, muitas músicas que ficaram na memória de muita gente. É gratificante olhar para trás e ver que o meu percurso é reconhecido pela qualidade e por ter sido transversal a, pelo menos, duas gerações. Por vezes, ouço a minha música a sair de um café, um bar, na rádio e sinto-me orgulhoso do meu percurso.
Viver de e para a música é hoje mais fácil?
Hoje há uma rápida divulgação, nada que se compare, eu sou do tempo das cassetes. Quando comecei, a divulgação era feita nas rádios locais nas festas de aldeia por Portugal fora, hoje é um clique e já está. O tempo evolui e tentamos acompanhar, os meios à disposição são obviamente muito diferentes para melhor. Mas fizemos o nosso percurso e cá continuamos.
Agradecemos a sua disponibilidade e dizemos até breve num palco perto de nós…
Eu quero agradecer ao Norberto Ferreira o convite para estar presente nesta Gala de amor, mais uma oportunidade para estar junto da comunidade portuguesa a quem envio um grande abraço de sentido reconhecimento pela forma tão calorosa com que sempre me recebem. Até breve.