No dia 1 de outubro de 2024, o CERN comemorou oficialmente 70 anos da sua fundação.
A comitiva portuguesa, encabeçada pela Secretária de Estado da Ciência (Ana Paiva), contou com a Presidente da FCT (Madalena Alves) e com outros representantes oficiais de Portugal e da Missão Portuguesa junto das Organizações Internacionais de Genebra. O programa incluiu uma visita a pontos emblemáticos das instalações do CERN e um encontro com a comunidade portuguesa.
O CERN
A 29 de Setembro de 1954, em pleno rescaldo da II Guerra Mundial, 12 países europeus juntaram-se para evitar a fuga de cérebros para os Estados Unidos e para lançar os alicerces do que viria a tornar-se a maior colaboração científica para a paz.
O CERN engloba atualmente 24 Estados membros e 10 Estados membros associados, e comporta mais de 5 000 funcionários, estudantes, estagiários e associados. Mais de 12 000 utilizadores de todo o mundo colaboram a partir das respetivas Universidades e Institutos e viajam periodicamente até Genebra, para participarem nas experiências e nas reuniões das colaborações científicas.
Portugal aderiu em 1986 e, embora contribua com apenas 1% do orçamento global, consegue ter 2 – 5% do pessoal. São cerca de 150 portugueses, com variados estatutos e funções, que participam nas atividades correntes da Organização. Os grupos nacionais que colaboram com o CERN abrangem 120 utilizadores.
O CERN valoriza o retorno de investimento na indústria, de modo a equilibrar as compras nos Estados membros relativamente à respetiva contribuição para o orçamento. Ao longo dos anos, Portugal tem mantido um bom equilíbrio. Os engenheiros, técnicos e cientistas portugueses, assim como a indústria nacional, são altamente apreciados pela Organização e pelos responsáveis dos diversos projetos em que estão envolvidos.
Na procura de respostas às questões fundamentais sobre a matéria e o universo, o CERN tem desenvolvido novas tecnologias de ponta, muitas das quais têm aplicações em vários domínios da sociedade, como a medicina, aeroespacial, inteligência artificial, supercondutividade, criogenia, distribuição de eletricidade, etc.
Outro dos objetivos do CERN é a formação científica e tecnológica, através de estágios de curta ou média duração, assim como a oferta de programas de doutoramento e teses de mestrado ou licenciatura. Por outro lado, realiza-se anualmente uma semana de formação para professores de física do ensino secundário, junto dos especialistas do respetivo país.
Desde 1998, mais de 500 professores portugueses já participaram neste programa. Em 2009, Portugal estendeu o programa aos outros países de língua oficial portuguesa (Brasil, África e Timor-Leste). Atualmente, e pelo terceiro ano consecutivo, o Instituto Camões tem financiado a participação dos professores de África e de Timor-Leste. A Coordenação do Ensino Português na Suíça também participa nesta formação, promovendo a literacia científica associada ao conhecimento da língua portuguesa (ver GL Set. 2024).
A visita
A visita começou cedo pela manhã, com João Pequenão, do grupo de Comunicação, Educação e Divulgação, levando-nos a descobrir o primeiro acelerador do CERN, o Synchro Cyclotron, construído em 1957 e operacional até 1990. Uma projeção vídeo retraçou toda a história da Organização.
Durante os 20 min do trajeto para Cessy, em França, André Tinoco Mendes, físico na experiência CMS, apresentou-nos os desafios científicos da física de partículas e os detetores utilizados nas experiências. Chegados à experiência CMS (Compact Muon Solenoid), descemos à caverna onde pudemos observar o enorme e complexo detetor, assim como receber mais esclarecimentos dos físicos portugueses.
De seguida, Miguel Bastos, do grupo Conversores Elétricos de Potência, levou-nos pelos túneis até ao acelerador LHC (Large Hadron Collider), onde nos explicou as variadas tecnologias de ponta (ímanes supracondutores, criogenia, vácuo, etc.) utilizadas para guiar e acelerar partículas a velocidades muito próximas da luz e para produzir colisões que replicam as condições do Universo, uma fração de segundo depois do Big-Bang .
De volta ao campus principal, a comitiva teve uma reunião com vários especialistas. Foi apresentado o CERN, por Paulo Gomes; os projetos de transferência de conhecimento para a sociedade, por Rita Pinho; e vários projetos de desenvolvimento tecnológico, nos quais estão envolvidos colegas portugueses e instituições nacionais, por João Simões, Pedro Costa Pinto, Carolina Amoedo, Diogo Santos, João Fernandes, André Henriques.
Seguiu-se um animado e simpático encontro com cerca de 50 membros da comunidade portuguesa no CERN. A Secretária de Estado quis saber quantos se encontravam a fazer doutoramento ou estágios, e quantos tinham acabado por cá ficar muito mais tempo. Congratulou-se com o êxito e a reconhecida qualidade dos profissionais nacionais. Salientou que o Governo tem a intenção de criar condições para motivar e facilitar o regresso a Portugal dos profissionais qualificados que o desejem.
Finalmente, depois do almoço, teve lugar a cerimónia oficial dos 70 anos do CERN, no novo centro Science Gateway. Participaram 38 delegações nacionais de alto nível, incluindo Chefes de Estado e a Presidente da Comissão Europeia (Ursula von der Leyen), num total de mais de 700 convidados.
A AGRAPS
A Associação dos Graduados Portugueses na Suíça (AGRAPS) aproveitou a ocasião desta visita para abordar, com a Secretária de Estado e com a Presidente da FCT, vários pontos a desenvolver no futuro, com interesse para os graduados nacionais no CERN e na Suíça em geral:
– desenvolver canais expeditos para a divulgação das ofertas de estágios, teses, ou emprego no CERN;
– explorar oportunidades de colaboração em I&D com Universidades, Politécnicos, e associações industriais;
– formalizar entre a FCT e a AGRAPS um protocolo para reforçar a diplomacia científica nas relações bilaterais entre Portugal e a Suíça, ao nível da investigação, inovação, desenvolvimento e cultura científica.
A AGRAPS conta com vários membros, colaboradores e amigos entre os portugueses do CERN, que têm participado na organização de vários encontros e eventos de divulgação científica, junto da comunidade portuguesa na Suíça. Em colaboração com a Coordenação EPE-CH do Instituto Camões, temos prestado atenção particular aos jovens luso(-descendentes):
Maio 2023, Neuchâtel: evento dedicado às Mulheres cientistas portuguesas na Suíça incluiu um painel, no qual várias cientistas partilharam o seu percurso académico e profissional. Abordaram também a igualdade de género no local de trabalho. Seguiram-se ateliês científicos para os mais jovens, dinamizados pelas cientistas do painel e por colegas do CERN (ver GL Maio 2023).
Junho 2023, Genebra: integrado na festa do 10 de Junho da Rádio Arremesso, o stand AGRAPS-CERN com informação e ateliês científicos foi visitado pelo público de todas as idades, e também pelo Secretário de Estado da Educação António Leite e Embaixador Júlio Vilela.
Janeiro e Abril 2024, CERN: visitas para os membros e amigos da AGRAPS, seguido de um jantar de confraternização (ver GL Junho 2024).
Abril 2024, CERN: cinquenta alunos portugueses, de uma escola na Suíça e outra em Portugal, celebraram os 50 anos do 25 de Abril apresentando os resultados dos seus trabalhos de investigação com o detetor de partículas MEDIPIX, fornecido pelo CERN. Assistiram a um seminário sobre a tecnologia associada e puderam discutir os resultados com os especialistas (ver GL Maio 2024) .
Setembro 2024, CERN: visita de dois agrupamentos escolares portugueses (ver esta edição da GL).
Outubro 2024, CERN: visita e sessão de Desafios de Programação em Scratch, para 33 alunos de várias escolas da Suíça (ver próxima edição da GL).
› Paulo Gomes (Oficial de Ligação do CERN para Portugal e Presidente da AGRAPS)
› Lurdes Gonçalves (Coordenadora do EPE-CH e Comunicação da AGRAPS)