› Adélio Amaro
O tenor português Rodrigo Carreto é um dos laureados da 11ª edição de Le Jardin des Voix a realizar-se na temporada 2023/24 com a orquestra Les Arts Florissant, William Christie e Paul Agnew. Foi aceite na 2021 Bach Young Soloists do Collegium Vocale Gent sob Phillippe Herreweghe, com quem tem trabalhado desde a temporada 2021/22.
Nasceu em Lisboa. Cresceu e estudou na capital portuguesa. Aos 22 anos, depois de terminar a licenciatura em direção coral e formação musical na Escola Superior de Música de Lisboa, mudou-se para Zurique, onde reside, para estudar canto com o prof. Scot Weir na Universidade das Artes, apoiado da Égide Associação Portuguesa das Artes. Ali concluiu o mestrado em performance e continua, atualmente, o seu desenvolvimento musical e técnico em paralelo com a orientação do barítono ingles Peter Harvey.
O seu gosto e percurso pela música surgiu com o apoio dos pais que, “apesar de não serem músicos, quiseram que a música fizesse parte da nossa educação, minha e do meu irmão mais velho que estudava piano e acordeão e foi com ele que dei os primeiros passos”, disse-nos Rodrigo Carreto, relembrando que também o seu avô tocava acordeão.
Depois de entrar para o conservatório em Odivelas, “foi-me muito fácil perceber que o meu futuro passaria por uma carreira na música, não necessariamente como cantor, mas sim como maestro. Mais tarde e ao longo do curso de direção percebi que era no canto a área em que me queria focar e especializar”, revelou-nos Rodrigo Carreto.
Atualmente trabalha como freelancer, principalmente a solo. No entanto, além de outros grupos europeus, com quem vem colaborando, o músico português integra a lista de cantores do Collegium Vocale Gent (Bélgica). o Schweizer Vokalconsort e a La Cetra Ensembles (Suíça).
Vencedor do 3º prémio na 2021 American Music Talent Competition, Rodrigo Carreto apresenta uma versatilidade que lhe permite cantar repertório do período Barroco até ao século XXI. Tem-se dedicado principalmente à interpretação de obras de J. S. Bach e G. F. Händel, do Barroco francês de haute-contre, bem como ciclos alemães de Lieder do período romântico e outras obras sinfónicas.
Rodrigo Carreto tem vasta experiência em concertos e festivais em toda a Europa, incluindo em Portugal, Suíça, Bélgica, França, Alemanha, Áustria, Polónia, Holanda, Espanha e ainda China. Tem-se apresentado em palcos tão prestigiados como a Filarmónica de Berlim e Elbphilharmonie, Filarmónica de Paris, Het Concertgbouw Amesterdão, Auditório Nacional de Música Madrid.
Tem participado em oficinas de trabalho e “masterclasses” com cantores de renome internacional como Barbara Hannigan, Dame Emma Kirkby, Werner Güra, Robert Murray, Margreet Honig, Peter Kooij, Yvonne Naef, Jill Feldman, Geert Smits, Lothar Odinius, Flavio Ferri-Benedetti.
A curto prazo, já no próximo verão, irá integrar o Jardin des Voix com a orquestra parisiense Les Arts Florissant e os maestros William Christie e Paul Agnew que em conjunto com outros 7 colegas cantores e uma equipa dançarinos vão produzir a ópera The Fairy Queen de Henry Purcell. Este projeto dura uma temporada com cerca de 30 apresentações numa tournée internacional nos maiores palcos de festivais, óperas e salas de concerto da Europa, Estados Unidos e Canadá. Na Suíça vão estar no KKL (integrado no Festival de Lucerne 2023) e em Lugano. Rodrigo afirma que será “uma oportunidade de projeção de carreira além de poder fazer ópera ao mais alto nível e aprender com músicos de excelência”.
O músico fala em vários “sonhos” ao ponto de ser “muito difícil escolher um. Obviamente há maestros, orquestras com quem sonho trabalhar a solo: John Elliot Gardiner, Simon Rattle, e outros; e lugares onde sonho cantar. Contudo, o meu grande sonho é ter uma carreira longa, variada e saudável e, mais do que para trabalhar com este ou aquele, é para atingir isto que trabalho diariamente”, acrescentou.
Quando questionado na equivalência de oportunidades entre Portugal e Suíça, Rodrigo Carreto descreve, naturalmente, que existem mais no país helvético, tendo em conta que “há mais poder financeiro e… mais interesse na cultura. A Suíça, apesar de ser um pequeno país em dimensão, está cheia de oportunidades para jovens músicos, com muitas orquestras e coros profissionais e amadores que regularmente precisam do apoio de profissionais. A instituição Igreja que devido ao sistema de impostos tem poder financeiro para contratar músicos para ajudar na celebração das missas e concertos religiosos. Além do vasto investimento estatal na cultura, há um investimento privado muito grande – instituições e individuais – o que leva a que não só haja mais oferta como mais interesse do público nas artes”, afirma Rodrigo Carreto.
Para este jovem músico português, com uma carreira motivadora, viver em Portugal iria diminuir-lhe as oportunidades, acreditando que a maioria daqueles que optam por ficar em Portugal, tendo possibilidades de sair, “têm outros objetivos de carreira e vida. A distância cultural e geográfica entre Portugal e o centro da Europa é considerável e é mais fácil contratar um músico que está perto do que voar outro que está numa das pontas da Europa. Infelizmente, no meu caso e face aos meus planos de carreira não creio que seja possível atingir um percurso idêntico vivendo em Portugal, por agora…”, confessa Rodrigo Carreto.