› Adélio Amaro
Na sede da fundação “La Ferme des Tilleuls”, em Renens, cantão de Vaud, foi instalada uma obra fantástica com mais de quatro mil peças e 14 metros de altura, na sua maioria em cerâmica, intitulada “Colossal d’Art Brut ORGANuGAMME II”, da artista francesa Danielle Jacqui.
Esta obra que ficará em exposição permanente, após, em 2015, Danielle, atualmente com 88 anos, a ter legado à Fundação “La Ferme des Tilleuls. Esta é uma escultura única com quatro mil peças, também elas únicas, isto é, todas diferentes, que foram erguidas numa estrutura metálica. Esta obra / escultura, produzida entre 2006 e 2014, de acordo com o projeto inicial, deveria cobrir a fachada da estação de Aubagne, a dezassete quilómetros de Marselha, no sul de França. No entanto, a artista entendeu doar o conjunto escultórico a Renens.
Após cinco anos de trabalho preparatório e dois anos e meios de construção, a Fundação inaugurou a obra da artista Danielle Jacqui, no passado mês de novembro.
“ORGANuGAMME II” foi e é a possibilidade de contemplar este conjunto de artes cerâmicas reunidas num único núcleo escultórico que acabou por se tornar um símbolo de Renens e em especial da fundação “La Ferme des Tilleuls”.
Esta obra nasceu durante uma residência artística em Aubagne, em 2006, com o objetivo já referido. Durante oito ano, Danielle Jacqui trabalhou diariamente neste projeto, criando milhares de peças de cerâmica que albergam cerca de 500 m2. Com a alteração dos responsáveis do município de Aubagne e a transformação das ideias políticas, a obra acabou por ficar sem local para ser instalada. Assim, a Fundação e a cidade de Renens, com o consentimento da artista, resgataram a obra em 2015-16.
Entre 2015 e 2020, Danielle Jacqui trabalhou, via internet, em colaboração com o arquiteto Jean-Gilles Décosterd, para se conseguir erguer a obra numa estrutura metálica tridimensional composta por 26 módulos.
Entre 2020 e 2022 a artista permaneceu regularmente na Fundação e na sua ausência trabalhou através de videoconferência, sempre acompanhada por uma equipa técnica, sendo, então, possível erguer gradativamente até ficar num objeto único.
A obra, estando no exterior, pode ser visitada todos os dias com acesso gratuito. No entanto, é possível solicitar uma visita guiada para o e-mail lfdt@fermedestilleuls.ch, havendo, também, a possibilidade de visitas com o apoio de áudio-guia, produzido por Sonia Zoran, estando esta última opção disponível apenas durante o funcionamento da Fundação.
Danielle Jacqui
Nasceu em 1934, em França. Com uma obra enorme, em vários países. Fundou o “Festival Internacional de Arte Singular de Aubagne”, em França. Durante o seu percurso de vida foi pintora, bordadeira, escritora e ceramista, tendo apresentados os seus trabalhos, principalmente depois de 1973, em vários lugares de França, Estados Unidos da América e Suíça, onde a “Collection de l’Art Brut”, em Lausanne, possui mais de sessenta de suas peças. Sendo, também, designer autodidata, é uma artista mundialmente conhecida, facto que veio a revelar no seu livro “Le roman de celle qui peint” (“O romance de quem pinta”), publicado pelas Éditions Noir sur Blanc.
La FermE des Tilleuls
Esta Fundação, fundada em 2017, além da exposição desta peça única, promove exposições, concertos, projeções de filmes, reuniões científicas, leituras, oficinas de trabalho de cerâmica, trabalhos participativos e residências artísticas, sem esquecer o seu restaurante. Tem uma programação abundante, multidisciplinar e acessível a todos, defendendo que os artistas convidados “esbatem as hierarquias entre as disciplinas artísticas” e “abrem portas dos seus espaços de trabalho e desenvolvem projetos «in situ» e originais”.
O complexo patrimonial onde está instalada a Fundação é propriedade da Câmara Municipal de Renens, desde 2008, e tem vindo a ser, progressivamente, renovado com vista a torná-lo um espaço de cultura, nunca esquecendo a essência da multidisciplinaridade e da multiculturalidade.
A “La Ferme des Tilleuls”, com a direção de Chantal Bellon, pretende, também, ser um fator de reflecção sobre a “identidade da capital do oeste de Lausanne: uma cidade industrial e operária onde a coabitação de 120 nacionalidades e a proximidade de instituições de ensino superior”.
A Fundação, na Rua de Lausanne, n.º 52, tem as suas portas abertas de quarta a sábado, das 11 às 18 horas.