Luís Pedro Serra Ramos tem 52 anos de idade, vive em Lisboa, Portugal, e é especialista em Recursos Humanos e Gestão de Pessoas. Recentemente, foi nomeado Embaixador da DCH para o Mundo Lusófono.
Atualmente, este responsável, que trabalhou como Diretor de Recursos Humanos da TAP Air Portugal, é CEO empresa Keeptalent Portugal. Tem doutoramento (PhD) em Economia de Empresa pela Universidad Rey Juan Carlos (Madrid), é Mestre em Sociologia do Emprego e Licenciado na área das Ciências da Educação (Lisboa). Tem experiência na área executiva com mais de 27 anos de trajetória profissional enquanto Diretor de Recursos Humanos e Capital Humano em grandes empresas.
Pedro Ramos falou-nos sobre como as empresas precisam se comportar para se adaptarem à esta nova etapa, ou modelo, de trabalho num mundo que vislumbra um cenário pós-pandemia e como a gestão de pessoas deve ser formatada.
Pedro Ramos falou também sobre o papel de Portugal no âmbito dos Recursos Humanos no mundo, em especial na Suíça.
Como as empresas devem entender este novo momento pós-pandemia em termos de gestão de pessoas?
Devem entender como uma enorme oportunidade para se redesenharem os processos internos de organização das pessoas, de construção de novos caminhos e percursos de desenvolvimento, mas sobretudo, para se agilizar modelos, flexibilizar… flexibilizar o mais possível, as formas como as equipas devem ser orientadas para, de forma diversa, pensarem, viverem e “respirarem” o negócio e o relacionamento com os clientes nas suas diversas dimensões.
Quais são os novos desafios?
Durante os meses longos de pandemia, as empresas (tanto os líderes como os liderados) perderam definitivamente o medo de que os robots, leia-se, a tecnologia, fosse algo ruim e que apenas servia para matar com um grande número de empregos e postos de trabalho. Aliás, as empresas vivenciaram na prática que mais tecnologia usada nas suas múltiplas valências trouxe mais Humanização às proporias empresas. Ou seja, a tecnologia aproximou mais as pessoas do processo de trabalho, trouxe novos níveis de envolvimento e comprometimento, engajando mais as equipas em torno dos seus propósitos individuais e coletivos, e isso sem ser necessário estarem no mesmo espaço físico como no passado. Desta forma, os novos desafios são mesmo a gestão deste novo Mundo Híbrido que acaba de chegar. Que é híbrido porque integra trabalho presencial com trabalho a distância ou remoto, mas também porque integra e potencia uma maior ligação entre as Pessoas e os Robots (tecnologia) e, ainda, híbrido porque terá de integrar também os dois níveis de inteligência e construção – a inteligência artificial com a inteligência humana… Portanto, estas três dimensões avassaladoras deste novo Mundo Híbrido constituem os novos desafios para as empresas e para a gestão das pessoas.
As mudanças nesta área serão assim tão grandes?
São brutais! Surgiram mudanças impensáveis há relativamente pouco tempo… Novas formas e modelos de organização de trabalho tiveram e estão a ser redesenhados; modelos sobretudo assentes em equipas diversas (que pensem diferente) e fortemente orientadas para a obtenção de resultados rápidos. Equipas mistas onde líderes e liderados muitas vezes vão ter de alternar os seus papeis dado o quase desaparecimento das anteriores formas de estruturação formal das organizações.
Em consequência desta mudança, uma outra ainda mais desafiadora está em curso. Trata-se da necessidade de se repensarem todos os modelos de relacionamento dentro das próprias empresas. Novas relações de trabalho cada vez mais assentes nas competências individuais de cada pessoa e nas entregas necessárias para o desenvolvimento do negócio e não no cumprimento estrito de um horário de trabalho, por exemplo. Entram aqui novas formas de liderar e de ser liderado. Os anteriores “líderes analógicos” (que estavam todo o dia a tomar conta das suas pessoas, olhando para elas no terreno…) estão em extinção! Novos líderes digitais”, multiplataforma e altamente hábeis tanto em competências mais “hard” como as tecnologias e processos, como em competências mais “soft” como a flexibilidade cognitiva, a inteligência emocional, mas também a generosidade, a compaixão… passaram a ser essenciais na atual cena corporativa mundial. Já para não falar da grande mudança nas formas como hoje se passou a aprender e a valorizar e a responsabilizar as pessoas em torno das aprendizagens e dos processos de desenvolvimento… Dos anteriores modelos de “training”, nos quais os chefes mandavam as pessoas aprender ou desenvolver determinada competência ou habilidade, passamos para uma nova “lógica de learning organizacional” no qual são as próprias pessoas que precisam e procuram manter-se atualizadas e “à frente” das necessidades da própria organização atendendo a que as suas competências passaram a valer bem mais do que o seu “nome na praça”, a sua categoria profissional, o seu cargo, etc. Mas há muito mais…. Apenas só para referir mais uma… a dimensão do tempo dentro das organizações alterou-se radicalmente. Hoje, os processos de planeamento são de curto ou de curtíssimo prazo. Falar de planeamento de longo prazo deixou de fazer sentido ou, passou a ter outro sentido…
Como o mercado europeu, incluindo o suíço, se está a adaptar?
O mercado europeu, incluindo o suíço, está a saber adaptar-se muitíssimo bem aos novos desa-fios do mercado de trabalho e ao novo mercado de competências. Rapidamente se promoveram ações de desenvolvimento de competências e as dinâmicas de mobilidade interna da Europa também ajuda nessa abordagem. A globalização já tinha feito um caminho a seu tempo… a Pandemia fez o resto. Agora, tudo é mais partilhado, mais interativo e as melhores práticas e experiências são partilhadas entre os profissionais do “mesmo ofício”.
Existe um perfil indicado de trabalhadores para as empresas neste momento?
Sim, existe! Trata-se de um “generalista especializado”. Durante muitos anos andámos todos a promover uma formação e qualificação especializada, ou seja, saber tudo (ou o mais possível) de uma determinada matéria… Depois, andámos a formar e a qualificar profissionais generalistas, que soubessem de pouco, mas de muitas coisas diferentes… Hoje, o perfil ideal é alguém que sabe muitas coisas de muitas especialidades…. O tal “generalista especializado” … Para além de tudo, tem de ser alguém que tenha uma “bagagem poderosa” em termos de competências comportamentais, a que eu gosto de chamar “power skills”, e que são características como: resiliência, cooperação, capacidade de promover e estimular o trabalho de equipa, “agile thinking”, flexibilidade, flexibilidade cognitiva, generosidade, comportamento ético, entre outros.
Como Portugal é visto pelo olhar europeu na área de Recursos Humanos e Gestão de Pessoas?
Portugal, hoje, é visto como um país moderno que sabe qualificar os melhores profissionais do mundo… Todos os anos, os rankings das universidades colocam os cursos e as universidades em lugares cimeiros em inovação e qualidade técnica. Cada vez mais as universidades estão “cheias” de alunos estrangeiros, provenientes das mais diversas geografias, e grande parte dos programas de MBA, formação de qualificação superior, pós-graduação, entre outras, é ministrada em língua inglesa exatamente porque reúne um conjunto de alunos provenientes dos mais diversos pontos do globo. Obviamente, associar boa qualificação académica a uma excelente qualidade de vida e segurança, entre outros factores, transformam Portugal um dos países mais atrativos para estudar e um país muito interessante para empreendedorismo e para os novos nómadas digitais.
Como Portugal é visto nos demais países de língua portuguesa na área de Recursos Humanos e Gestão de Pessoas?
Há uma grande atratividade de Portugal pela forma como constrói e implementa as suas práticas de gestão de pessoas e, sobretudo, as questões relacionadas com a Liderança. Eu confesso que tenho ajudado muito na criação de um conceito integrado de “Liderança Lusófona” e isso já entrou na agenda dos líderes de língua portuguesa. Frequentemente, faço palestras no Brasil e nos países africanos de língua portuguesa como Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e até… Timor! A aceitação da minha experiência, das minhas ideias e até das minhas “provocações” junto dos outros profissionais são muito bem aceites.
Que investimentos a pandemia “forçou” nas companhias?
Investir mais nas pessoas, repensar os espaços físicos de trabalho, investir nos aspetos relacionados com a saúde física, mental e bem-estar organizacional, são exemplos de investimentos “forçados” pela pandemia em grande parte das organizações. Da mesma forma, os investimentos e apostas na tecnologia como extensão das capacidades e criações humanas, de forma conjugada, proporcionando novas formas de agir, gerir e “dignificar” em termos da nova centralidade do papel das pessoas nas várias empresas. Isso aconteceu exclusivamente graças à pandemia!
Que mensagem deixa para os gestores e as empresas?
Só é possível garantir a sustentabilidade das empresas através uma eficaz gestão da equação Pessoas & Negócios! Medir, medir tudo e estimular as Pessoas e comprometerem as Pessoas em relação aos resultados do Negócio é a chave dessa sustentabilidade. A “boa notícia é que há futuro na gestão de pessoas e das empresas…
Que projetos tem pela frente?
Acabo de lançar a Empresa Keeptalent Portugal! Uma consultora constituída por pessoas que sabem bem o “cheiro do chão de fábrica” e sabem “por as mãos na massa”. Completamente focada na eficaz articulação da equação Pessoas e Negócios, a Keeptalent atua nos mercados de Portugal, Brasil, Angola, Moçambique e Cabo Verde proporcionando soluções inovadoras que permitam posicionar as Pessoas a pensar e respirar o Negócio das suas empresas. Por exemplo, entre outras soluções, estou muito animado a construir modelos de “RH Partilhado” e até de “RH Digital” para poder ajudar presencial, e à distância, outros profissionais da Gestão de Pessoas a poderem enfrentar os desafios deste nosso novo mundo FANI (Frágil, Ansioso, Não Linear e Incompreensível). Nesse contexto, também vou estar cada vez mais envolvido enquanto Embaixador e Speaker em programas de formação e qualificação dos Gestores de Pessoas da Lusofonia, bem como na promoção de dinâmicas e práticas similares nos vários países. Sou o mentor, embaixador e keynote speaker dos Fóruns de Gestão de Pessoas de Angola, Moçambique e Cabo Verde. Vou continuar a participar na organização de eventos de Gestão de Pessoas no Brasil e coordeno a equipa que está a conceber o próximo Encontro Nacional da APG. Será a 52ª edição do Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Gestão de Pessoas que, durante três dias, irá lançar e discutir os temas mais atuais da Gestão de Pessoas envolvendo o nosso Mundo Lusófono. Para além disso, irei continuar a ajudar a formar e qualificar os melhores profissionais de Gestão de Pessoas enquanto Professor do Mestrado de GRH da Coimbra Business School e irei continuar a influenciar, em diversos grupos de intervenção e consultivos, relacionados com a Gestão de Pessoas, outros colegas e profissionais sobre novas formas de fazer e empreender nas suas empresas.
Quem é Pedro Ramos?
Neste momento, sou o CEO da Keeptalent Portugal. Tenho um doutoramento (PhD) em Economia de Empresa pela Universidad Rey Juan Carlos (Madrid), Mestre em Sociologia do Emprego e Licenciado na área das Ciências da Educação (Lisboa). Sou um executivo com mais de 27 anos de trajetória profissional enquanto Diretor de Recursos Humanos e Capital Humano em grandes empresas, tendo sido o seu último projeto o Grupo TAP Air Portugal. Já desempenhei o cargo de Administrador Executivo (COO, CCO e CHRO) numa grande empresa do setor da aviação, tendo sido um dos primeiros DRHs que passaram a assumir funções em Conselho de Administração de grandes empresas. Sou professor universitário (Coimbra Business School) nas áreas de Gestão de RH e Liderança, nos MBA Executivos do ISCTE Executive Education e fui Coordenador Científico do Mestrado de Operações de Transporte Aéreo do ISEC Lisboa. Sou um palestrante internacional frequente em Portugal, no Brasil, nos vários países de Africa e em Espanha, nas áreas de Liderança e Gestão de Pessoas. Sou Vice-Presidente da Associação Portuguesa de Gestão de Pessoas (APG), Membro do Conselho Estratégico da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH Brasil) e fui Presidente da DCH – Diretivos de Capital Humano em Portugal. Recentemente, fui nomeado Embaixador da DCH para o Mundo Lusófono. Sou autor de vários livros e artigos sobre Liderança e Gestão de Pessoas, incluindo o sucesso “PESSOAS & NEGÓCIOS – Mobilizar para a Obtenção de Resultados”, bem como coautor das obras “Conta-me Estórias – Storytelling na Gestão de Pessoas” e “Sharing My Change – Viagem pela Gestão da Mudança” publicados em Portugal e no Brasil. Sou conselheiro editorial da várias publicações especializadas em Gestão de Pessoas e Liderança e tenho sido referido em vários eventos, trabalhos científicos e profissionais nas áreas de RH/Gestão de Pessoas. Ao longo da minha carreira, recebei vários prémios e distinções enquanto Profissional e Diretivo de Gestão de Pessoas, incluindo o Prémio Carreira RH pela carreira de mais de 25 anos ao serviço da Gestão de Pessoas em Portugal e no mundo.