› Clément Puippe
À custa de muitos esforços e dedicação, o grupo de teatro AtrapalhArte traz o teatro à Suíça, principalmente aos alunos de português, com uma ajuda incrível de muitos professores do Ensino Português na Suíça, no âmbito do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua. É de louvar e de apoiar. Não é simples nem evidente para um grupo de 4 pessoas se deslocar de Portugal para representar uma peça de teatro pelos quatros cantos da Suíça. Demasiados quilómetros, muitos esforços para montar e desmontar o material, condições de alojamento às vezes difíceis, mas uma paixão e dedicação de mover montanhas entre Portugal e Suíça. Depois de 4 vindas à Suíça e da interrupção devida à pandemia, era tempo de voltar a reencontrar este grupo simpatiquíssimo. Apresentaram “A Maior Flor do Mundo” de José Saramago (o escritor português Prémio Nobel de Literatura), uma história infantil que fala a sério para as crianças, deixando um pouco de lado o riso e a gargalhada. Às vezes é bom arriscar e tentar coisas novas.
Assistimos ao espetáculo em Lausanne numa grande sala do Colégio Elysée. Uma sala cheia e plena de entusiasmo. Encontrámos o seu diretor artístico e também ator Paulo Ribeiro e os atores Rita Salomá, Joana Silva e Bruno Alves.
Teatro online durante e depois
da pandemia – conversa
com Paulo Ribeiro
“Quando a pandemia chegou, foi como um murro no estômago, o que vamos continuar a fazer durante este tempo? Foi abrir e fechar. Aproveitámos para desenvolver uma plataforma online AtrapalhArte.pt, onde passámos a disponibilizar todas as peças de teatro que até aí eram em presencial. Gravámos todas essas peças durante a pandemia. Foi engraçado porque uma professora ligou em março por perguntar se íamos propor alguma coisa no Dia da Criança que é celebrado a 1 de junho em Portugal e respondi, como fazer alguma coisa, está tudo fechado, ela sugeriu que se pudesse realizar online. Achei uma boa ideia e propusemos em direto nesse Dia da Criança três espetáculos que foram transmitidos para Portugal, houve muitos acessos, não conseguimos um apanhado do número de pessoas que assistiram a este espetáculo. Mas foi muita a gente. Foi muito difícil chegar a um número concreto de pessoas que viram essas peças. Por exemplo, a biblioteca de Alcobaça comprou para todos os alunos do primeiro ciclo até ao secundário. Foi só um acesso que teve. Tivemos em direto em página de Facebook, em página de Municípios, páginas oficias de empresas. Essa plataforma ainda continua. Assim conseguimos durante a pandemia pagar os atores, a Joana, o Bruno e a pessoa que realizou a gravação.”
Rita Salomá entrou há um ano em outubro: “Estive sempre em digressão, mas na Suíça é a primeira vez, já fomos a salas muito bonitas e alguma coisa importante está a ser feita, estamos a levar crianças ao teatro.”
Joana entrou na companhia há um mês: “Sou a menina mais nova que está na companhia dessas pessoas incríveis, ainda não fez um mês, e mandaram-me logo para a Suíça, ver novos ares. A minha estreia foi dia 16 na Suíça. Foi logo uma estreia internacional. Tem sido toda uma aventura, muito boa.”
Bruno que tratou da parte técnica na Suíça é também ator e seguiu em Portugal uma formação de teatro. “Participei também em quase todos os outros espetáculos como ator. A experiência está a ser boa, é o início do ano letivo, é tentar poupar energia ao máximo por que o ano é longo. Quando voltar para Portugal, vou de novo estar como ator nas peças. “A Maior Flor do Mundo” e “As Viagens de Gulliver” vão continuar durante o ano. Temos datas marcadas durante todo o ano, já fizemos oito peças.”
Paulo explica que “somos uma companhia de teatro conhecida pela comédia em geral, porque rir é melhor que chorar. Nós estamos habituados a representar comédia e subitamente aparece a peça “A Maior Flor do Mundo”, e perguntámo-nos como vamos pegar nisto e de que maneira. Há momentos cómicos, há momentos em que se explora pela emoção, pela resiliência, pela insistência em não desistir nunca no que acreditamos. Tive um pouco de medo, mas o espetáculo está a ser bem recebido e acho que a mensagem está a ser passada, estão a interiorizá-lo pelo menos.”
Viagem comprida
“Parece que há meio ano que estamos em viagem”, observou Rita a rir-se. Dia 12 à noite deixaram Portugal de autocaravana e começaram esta longa viagem para a Suíça para 8 representações. “Santiago de Compostela estava previsto dia 30 de setembro, mas tivemos que adiar visto termos esta viagem para a Suíça.”
Os professores são a melhor parte – em todo o lado e sem exceção
“São eles que fazem a ponte entre o público e nós. Fazem um trabalho magnífico e exemplar em todo o lado, não há exceção. As associações também, estivemos em Monthey na Apma, foram excelentes, impecáveis. Em Uster, na parte alemã, estivemos com o Jorge Fernando que é uma pessoa cinco estrelas, maravilhosa, que gosta de estar e participar neste tipo de eventos.”
Rita, “É de louvar que a companhia leva teatro a sítios remotos e com grande esforço, não é fácil. Sou duma pequena cidade, não estudei em nenhum dos grandes centros de Portugal e há poucas companhias em Portugal que levam o teatro onde não há tanta oferta cultural. O teatro está muito concentrado em Lisboa e no Porto e parece que o resto está ao abandono, é a questão da descentralização. A cultura é uma coisa muito importante. Quando era miúda gostava que mais companhias viessem à minha escola para apresentar teatro, é de louvar que esta companhia faça isto. Para que os miúdos consumam teatro.”
Projetos mais recentes – visitas encenadas e sempre novas ideias
“Para além desta viagem, nós temos a nossa digressão, “Velhos são os trapos”, uma comédia musical, que gostaríamos de apresentar também na Suíça. Temos o nosso serviço educativo em que existe professores que vão às escolas para dar teatro, vamos abrir uma turma de idosos junto da Universidade Sénior que estão em lares ou centros de dia. Durante o verão fizemos umas visitas encenadas em quatro municípios, como em Sever do Vouga, com textos originais que nós desenvolvemos e outras em parceria com outras associações.
Para além da comédia, pegamos em monumentos históricos, com historiadores, com histórias locais. Realizamos uma recolha, andamos pelas aldeias, falamos com pessoas idosas, como se viviam antigamente. A tradição oral vai-se. Em Oliveira de Frades fizemos uma dramatização da “Lenda da Moura”.
E sempre surgem novas ideias. Nessa mesma localidade, com um lago enorme, nós temos de propor “A Jangada de Pedra” de Saramago, com Portugal e Espanha que se desagregam da Europa.
Para além da comédia e deste público infantil e escolar, oferecemos outras experiências teatrais.”
O teatro é a vida e a vida é um teatro, no fim das contas.
Para mais informações: www.atrapalharte.pt