› Ígor Lopes
Fernanda Maria Rodrigues da Silva tem 54 anos de idade e é natural da Apúlia, no concelho de Esposende. Tem família em Portugal, “um pouco por todo o país”, como na própria Apúlia, além de Braga, Matosinhos, Porto, Viseu e Lisboa. Hoje, vive em Genebra, onde diz sentir-se em casa.
Sobre a vida na Suíça, Fernanda reforça que é “reformada há vários anos, vive com e para as minhas paixões! A família, que é a minha prioridade, a pastelaria, o artesanato e o folclore. Dedico-lhes o meu tempo!”.
É também vice-presidente de duas associações, tendo sido uma das fundadoras da Associação Tradições – GFPG. E orgulha-se por conviver com a comunidade portuguesa no país. “(…) e não poderia ser de outra forma! (…) E sempre que posso integro-me nas atividades das outras associações”, disse.
“Já cá estou há 32 anos e sinto-me perfeitamente adaptada ao estilo de vida que se vive aqui. É um país multicultural e integro-me com o viver em comunidade com outras culturas, usos e costumes. Suíça, e em especial Genebra, tem um lugar especial no meu coração”, sublinhou Fernanda Silva, que trabalhou em diversas funções na Suíça, desde estar com “crianças, na limpeza, trabalhei na restauração, também em pastelarias (como empregada de mesa/balcão), no meio hospitalar…”, afirmou esta responsável.
Para Fernanda, todos os cidadãos, de todas as nacionalidades, são recebidos “da mesma maneira” na Suíça.
“Ao meu ver, não há qualquer descriminação. Desde que tenham um teto e um trabalho, as coisas fluem. Há um sem fim de papelada, mas o sistema suíço é bem organizado. Serviço de saúde, escolas, emprego, até no lazer nota-se esse sistema!”, afiançou.
Sobre como consegue matar as saudades de Portugal, Fernanda refere que “agora é bem mais fácil”, pois “tudo se faz perto. Com as novas tecnologias podemos ver e falar com os familiares e amigos que deixamos lá. Recordo que, antigamente, telefonar para os meus pais era só uma vez por semana (sábado ou domingo). Na cabine metia uma moeda de 5Frs e a conversa era até acabar o dinheiro… sabia sempre a pouco! As viagens também, além de serem mais acessíveis agora, existem com mais frequência. Lembro-me de quando aqui cheguei, que nos juntávamos no quarto de algum conterrâneo para vermos o festival da canção, por exemplo! A ida á igreja era outro ponto de encontro, para ver/rever pessoas da nossa terra, do nosso país! Os bailaricos, lugar onde passávamos uma tarde de domingo e que nos sentíamos menos nostálgicos. Eram outros tempos!”.
No país helvético, Fernanda vive com a sua família, constituída já em solo suíço. Mas, quando as saudades apertam, o sentimento ao regressar a Portugal de férias é único.
“Ir de férias é sempre bom! Ir a Portugal é motivo de visitar um ou outro lugar do nosso país, praia sol (se for de Verão), estar com família e amigos, fazer umas jantaradas… porque descanso, por muito que digam que vamos descansar, nunca se descansa!!! Levantar cedo para aproveitar ao máximo o dia, e deitar tarde para não perder aquelas horinhas junto de quem gostamos de estar! Por muito que esteja integrada no país que me acolheu, Portugal é o meu cantinho!”, revelou Fernanda, que disse que, “francamente, ainda não pensa a sério” em voltar a viver em Portugal.
Em relação às conquistas na Suíça, esta cidadã portuguesa acredita que, “em termos afetivos, a minha família, que é o meu tudo! Um núcleo restrito de amigos que valem muito também. Os valores como pessoa. A humildade e a sinceridade são virtudes que tenho das quais me orgulho! Para mim as conquistas não são só materiais! Ter habitação, carro, dinheiro não é tudo… e eu sei bem por que digo isto! Emigrei jovenzinha e com o sonho de uma vida diferente! Não digo vida melhor, porque nunca fui ambiciosa. Mas gosto de desafios! A nível profissional, como fiquei incapacitada de trabalhar desde bastante nova, o meu percurso fica aquém daquilo que eu poderia ter feito. Aos 33 anos deixei de trabalhar por motivos de saúde e por muito que tentasse, nunca mais pude ter a mesma qualidade a nível laboral que tinha antes. Foram 11 operações e um cancro! Naquilo que fiz, tentei sempre ser exemplar”.
Mãe de um casal, Fernanda comenta que a Suíça, para si, significa “o país de todas as oportunidades e, se conseguirmos agarrá-las, podemos ir longe!”. Também sobre a imagem de Portugal, esta responsável é enfática.
“Sou portuguesa e adoro o meu país! Mas sou consciente que há muito ainda para fazer. Para nós, emigrantes, quando vamos de férias, ganhamos a nível de qualidade de vida. A nível económico apesar de que com a crise (agora também por causa da guerra na Ucrânia) está tudo mais caro, ainda conseguimos ter pontos positivos, mas, para quem lá vive, com os salários que têm, não é fácil. Depois, também há aqueles que vivem acima das possibilidades. Queixam-se da má gestão do país (que há, sem dúvida alguma), mas fazem uma vida sem olhar a essa mesma penúria que se vive em Portugal. Temos bons profissionais em todas as áreas, mas que se vêm na obrigação de emigrar para garantirem um futuro melhor. (…) É sempre difícil porque para quem vive cá como eu há 32 anos, fazer comparações é complicado”, opinou Fernanda, que explicou ainda como veio viver na Suíça.
“Depois do 12.º ano, fui estudar no Porto no ISCIE (Instituto Superior de Ciências e Informação e Empresas), estava em Letras, ia para Jornalismo, mas não terminei o curso. Mais tarde, após ter saído da faculdade, inscrevi-me para a PSP (Escola de Sargentos), ainda fiz os testes escritos e, em conversa com uma vizinha que cá estava há já alguns anos, houve a possibilidade de vir e resolvi tentar uma nova etapa na minha (jovem) vida … e aqui estou há 32 anos! Do futuro, espero saúde e ver os meus filhos realizados. O Ruben é um menino autista (26 anos) e a nível profissional não exerce nenhum trabalho, mas vê-lo feliz e com saúde é, sem dúvida, umas das minhas prioridades! A Beatriz (13 anos) tem todos os meios para conseguir ir em frente e lograr na vida! Além de ter jeito para a música, tem na Suíça a passagem para um bom futuro! Os jovens têm muito mais possibilidades do que nós tivemos aqui. Sendo lusodescendentes, nascidos aqui, é meio caminho andado. A nível pessoal, viver um dia de cada vez em harmonia e continuar com os objetivos a que me propus ao ser mãe; ensinar aos meus filhos os verdadeiros valores da vida, e que nunca lhes falte nada. A um nível mais basto, dar seguimento ao que comecei, em conjunto com os colegas que queiram continuar a trabalhar com o Tradições, porque um grupo é um constante labor. Haverá sempre recolhas a fazer, novas ideias, novos desafios… e só em conjunto se pode fazer alguma coisa e bem! Em pastelaria, continuar a ser aquela que, com um bolo, consegue alcançar muitos sorrisos!”, frisou Fernanda.
Fernanda afirmou que o coração do imigrante português na Suíça vive “apertadinho”, no seu caso, pela ausência da mãe e dos amigos que estão em Portugal.
“O cheiro da maresia (vivi sempre à beira mar), a praia, o sol…! Portugal é lindo e tem tanto para mostrar, podemos aprender muito em cada lugar que visitamos! Na hora de regressar, digo, com um nó na garganta, um “Até logo mãe!”, porque um simples “Até breve!”, custa-me a soletrar!”, finalizou Fernanda, que nunca sentiu dificuldades no país em virtude da língua estrangeira.