No último dia 24 de março, a Cátedra Lídia Jorge, concretamente Sofia L. Borges, organizou, na Universidade de Genebra, uma jornada de estudos intitulada “Estética do Poder, Poder da Estética”. No final do evento, foi projetado o filme de Marco Martins, “Um Corpo Que Dança – Ballet Gulbenkian 1965-2005”.
“Inicialmente estavam previstas outras áreas de estudo, mas, devido a problemas vários, alguns dos convidados acabaram por não poder participar, pelo que se concentrou sobretudo no discurso fílmico”, disse Sofia L. Borges.
O objetivo do evento foi “discutir os conceitos poder e estética a partir de experiências contemporâneas no contexto lusófono que salientem as práticas de regimes autoritários e os seus cruzamentos sociais e históricos”.
“Esta jornada de estudos pretendeu promover um encontro entre especialistas de diferentes domínios disciplinares em que a discussão foi capaz de abrir novas perspetivas. Os textos tiveram também o intuito de ser, mais tarde e sob a condição de revisão por pares, publicados no número 8 da Revista Língua-lugar: História, Literatura, Estudos Culturais”, comentou Sofia L. Borges, que destacou ainda que esta jornada de estudos “tencionou dedicar-se a pensar a estética usada pelos órgãos de Poder, leia-se poder político, enquanto elemento tão essencial para estabelecer dinâmicas de influência quanto o poder social ele próprio (W.J.T. Mitchell, 2004)”.
“Pretendeu-se estabelecer a ênfase no visível e no mostrado que parte, essencialmente, da perspetiva do agente dominador, e na mensagem, seja ela a palavra ou a imagem, que é articulada com intenções concretas. Com ênfase na força da imagem, como o cinema, o vídeo as artes plásticas e a fotografia, este estudo estará também aberto a outras formas de esteticização do poder como a música, a literatura ou a publicidade”, sublinhou esta responsável.
“Pretendemos definir a questão da estética, neste contexto, enquanto espaço delimitador de lógicas visuais de poder: traz à superficialidade da imagem as estratégias de autoridade. Por outras palavras, a estética não é aqui apenas o visível, mas aquilo que no visível é redutível: consigo reduzir, de alguma forma, a imagem singular de um regime, quer através sua propaganda quer de mecanismos de autoritarismo, a um número limitado de lógicas visuais? Procura-se a marca desse processo de esteticização respondendo a questões como: que marcas distinguem e separam visualmente determinadas forças autoritárias de outras? Como estão restringidas essas marcas? Procurou-se também trabalhar as coerências das imagens usadas com a sua intencionalidade. É possível estabelecer algum grau de sucesso da efetivação de poderes políticos ao uso de demarcados programas estéticos? Ou insucesso? Terá a estética, ou o efeito de estetização, usada por determinadas forças, sido construída em função da permeabilidade do seu espectador? A mediação ganha uma robustez independente, analisável autonomamente. É nesta dicotomia Estética e Poder e nas relações entre estes dois conceitos que se quis incidir a atenção. Justapõe-se a necessidade de atualizar as formas de estudo da imagem com as formas de fazer político que envolvem disciplinas como a História, Estudos Culturais, Estudos de Imagem”, finalizou Sofia L. Borges.