› Maria dos Santos
António Soares, para os amigos o Tony, é um português nascido em Castro D`Aire, distrito de Viseu, no ano 1963. A 3 janeiro 1984, idade de prestar serviço militar, opta então por ingressar no Corpo de Tropas Paraquedistas em Tancos.
Pai de dois filhos e numa relação sólida com Maria Augusta, António Soares fixou-se na Suíça na cidade de Berna, em 1989. Homem de união e confraternização, dedica-se ao Movimento Associativo para juntar portugueses, mas o dissabor chegou com a discórdia de muitos outros portugueses que o obrigaram injustamente a deixar para trás um projeto sonhado com respeito e dignidade.
Mas a fome de estar entre os seus e da língua de Camões falaram mais alto e num jantar em sua casa, quando nasceu o projeto que já conta com sete anos. Este projeto chama-se Núcleo de Boinas Verdes do Cantão de Berna. São todos eles paraquedistas, mas todas as pessoas que queiram aderir são sempre bem-vindas.
Com este projeto, António Soares é um homem realizado. Cada encontro anual que organiza em conjunto com o Miguel Fernandes é a prova do sucesso. Excelente comunicador e homem determinado, gosta da verdade e respeito nas relações, sejam elas pessoais ou profissionais. O seu prato preferido é uma feijoada à transmontana. Gosta de todo o tipo de música, consoante o local e ambiente, e dispensa o género ópera, que não é a sua praia, com todo o respeito. As suas cores preferidas são o verde e o preto… quiçá o elo ao militarismo.
Vamos descobrir o Tony, o homem que, dentre muitos, talvez tenha estado mais perto do céu.
Deixar Portugal e vir viver para a Suíça foi uma decisão fácil? Integrou-se bem?
Tendo em vista que me foi proposto um contrato de trabalho enquanto cumpria o serviço Militar, aceitei porque nessa época não tinha nenhuma profissão e o mercado de trabalho em Portugal era precário e por também gostar muito de aventura, vir parar à Suíça.
Como foi chegar a Berna e pensar logo em unir a Comunidade Portuguesa na Suíça?
Só passados alguns anos é que descobri que já se faziam encontros anuais entre Camaradas. Foi então que, passados alguns anos, foi proposto que se fizesse algo para que fossemos reconhecidos como grupo associativo e com respostas negativas por parte de muitos camaradas, que resolvi agir em prol da Comunidade Boina Verde na Suíça.
Fundou uma Associação onde não conseguiu vingar pelos motivos menos bons. O que aconteceu exatamente neste projeto?
Foi um dos períodos mais tristes da minha vida. De início foi tudo muito bem-vindo, porque era eu a trabalhar e as coisas iam aparecendo, iam crescendo, até que um dia quando a associação já tinha atingido uma estabilidade razoável, alguém pensou em arranjar maneira de, através de uma mentira monstruosa, virar camaradas, que sempre me apoiaram, contra mim. Quando tive conhecimento de tão monstruosa ação coloquei a questão na justiça com cinco queixas crime que essas pessoas recorrendo a advogados das firmas onde trabalhavam conseguiram arquivar o processo porque não tinham como provar as acusações baseadas em mentiras. Descontente com o rumo que as coisas levaram, não baixei os braços e, num serão entre amigos, nasceu um novo projeto.
Que emoções se vive quando se pensa no Núcleo Boinas Verdes do cantão de Berna?
Fico de coração cheio. Sempre que vem mais um Boina Verde aos nossos jantares de confraternização, é mais um “MANO” que aparece, mais um membro da nossa valiosa família e assim cada vez mais tenho orgulho em ser um Boina Verde.
Nestes últimos sete anos, têm organizado anualmente um jantar.
Cada ano juntam-se mais elementos ao vosso evento. Como é ver o grupo crescer de ano para ano?
Estes encontros têm tido um impacto muito positivo. O grupo cresce a cada ano que passa e ano após ano a alegria cresce também ao revermos camaradas ao fim de muitos anos, conhecer camaradas novos embora mais antigos no cumprimento do serviço militar. Também quero deixar assente que serão bem-vindos TODOS os camaradas boinas verdes, mesmo aqueles que não estão de acordo com a maneira como trabalho. Somos uma FAMÍLIA!!!
As vossas festas têm uma temática totalmente diferente daquelas a que a comunidade está habituada. Como reagem aqueles que participam pela primeira vez?
Reação sempre positiva. Seja pela própria organização, seja porque no fim de muitos anos estão a confraternizar com muitos Camaradas, ou seja, porque fora da nossa Pátria encontram um número grande de Camaradas, suas respetivas famílias e amigos concentrados a festejarem a família Para-quedista.
Nos vossos eventos temos a possibilidade de ver uma exposição de material que lhe pertence.
Como conseguiu juntar todos estes pertences?
Temos alguns Para-quedas que nos foram oferecidos, que irão estar ao dispor de toda as pessoas, umas que queiram experimentar pela primeira vez a sensação de equipar com um conjunto de Para-quedas Dorsal e Reserva, outro para recordar a sensação. Também tenho uma pequena coleção onde constam algumas peças oferecidas e outras que adquiri.
Tem uma preocupação de querer chegar e dar a oportunidade a todos de vos conhecer de perto. Por isso, preocupa-se em escolher vários cantões. Tem sido fácil encontrar associações que aceitem o vosso evento?
Sim, tem sido relativamente fácil. Nós pensamos na parte onde entendemos que devemos organizar, contactamos Camaradas dessa área que nos aconselham e até nos acompanham aos locais para vermos se há condições para realizar o nosso jantar, visto que precisamos de locais onde o preço seja acessível e tenha espaço suficiente para acolher um número considerável de participantes.
Existem muitos paraquedistas portugueses que exerceram atividades aqui na Suíça? Tem sido gratificante representar esta área que foi a sua na juventude?
Para-quedistas que exerçam o para-quedismo na Suíça, só a nível de desporto. Sim, conheço alguns e é muito gratificante para todos nós pela vivência, pelas histórias que relatam e assim também contribuem para que outros jovens sigam o caminho do Para-quedismo desportivo civil.
Ao longo da sua vida, teve que se despedir de colegas que perderam a vida em saltos. Existe o medo após esta vivência e como o gere?
Não é fácil recebermos a notícia que alguém parte, quando faz parte da nossa família a dor ainda é maior. O medo é constante, não podemos deixar transformá-lo em pânico, senão perdemos o controlo.
Um dos seus sonhos é conseguir trazer de Portugal uma alta patente paraquedista militar. É este ano que realiza esse desejo?
Estamos a tentar. Os contactos com camaradas Boinas Verdes da classe de Sargentos ou Oficiais são constantes. Espero que apareçam alguns. Serão muito bem-vindos.