Maria da Conceição Santos Vaz Maurer tem 54 anos de idade, é natural da freguesia de Matança, no concelho de Fornos de Algodres, distrito da Guarda.
Em Portugal, tem família no Porto e na margem Sul do Tejo, em Moita, Lavradio, Palhais, Barreiro, mais alguns parentes na Matança, que é a “minha aldeia”. Atualmente, vive em Hornussen, uma aldeia no Cantão de Aargau, na parte alemã, junto da autoestrada que liga Basileia a Zurique.
Para Maria da Conceição, viver na Suíça com “tempos melhores, outros piores”, pois, “ao contrário do que se pensa por aí, viver na Suíça não é fácil, tem que se trabalhar muito para se poder viver”.
Em solo helvético trabalha no ramo da gastronomia. Não encontra muito tempo para conviver com a comunidade portuguesa no país, já que, onde mora, não existe nenhuma casa portuguesa.
“Na zona onde vivo, praticamente não há portugueses, mas, quando tenho oportunidade, sim. Para além disso, tenho os meus dois irmãos com respetivas famílias na Suíça, como estamos longe uns dos outros, juntamo-nos de vez em quando”, contou.
Maria da Conceição revela que, de uma forma geral, os portugueses são “bem recebidos e apreciados pelos suíços”, pois “dizem eles que nós somos um povo agradável, muito trabalhador e honesto”.
Para matar as saudades de Portugal, utiliza as redes sociais, televisão e o contacto com a família. É divorciada, o seu ex-marido era suíço e hoje vive com a sua filha de 20 anos de idade.
Maria da Conceição não esconde o sentimento quando regressa a Portugal de férias.
“Um sentimento agradável, é como voltar à casa, apesar de o fazer muito pouco, pois, infelizmente, a vida nem sempre nos corre como desejamos, e, assim, às vezes, temos que abdicar de muitas coisas, como, por exemplo, ir de férias”, comentou Maria da Conceição, que não pensa muito em voltar a viver em Portugal algum dia.
“Sinceramente, não sei. Depende do rumo que a minha filha der à vida dela, de como decorre a minha vida até me reformar, de momento não estou em nenhuma relação, mas isso pode vir a mudar, etc. Como em Portugal não possuo casa própria nem terrenos, teria que começar do zero, quando estiver mais próxima da idade da reforma, então tomarei uma decisão”, adiantou.
“Estou na Suíça desde fevereiro de 1992. Desde 2003 possuo cartão de identidade suíço e não posso falar de conquistas, foi um processo de adaptação e integração, sinto-me tão portuguesa quanto suíça, não possuo muitos bens materiais, vim de um meio rural e continuo num meio rural, nem sempre se tem oportunidades na vida, mas, como pessoa simples que sou, aprendi a dar valor às coisas e a agradecer todo o pouco que a vida me traz”, afirmou.
Para Maria da Conceição a Suíça é a “sua segunda pátria, um país que me deu oportunidades que em Portugal não teria tido, onde, apesar de pouco possuir, posso ter uma vida razoável, pois o sistema burocrático funciona, paga-se tudo muito caro, mas funciona”.
Sobre Portugal, Maria da Conceição confessa ter “reservas, pois vou lá muito pouco, por questões pessoais, para poder julgar o país, mas continuo a achar que Portugal tem muito mais potencial do que realmente é aproveitado”, já que, “pelo que se vê nas redes sociais, infelizmente, dá a entender que existem muitas deficiências, muito caos, muitas questões sem resolução”.
Maria da Conceição disse que foi viver na Suíça “através do meu irmão que me arranjou um contrato de trabalho no restaurante onde ele já trabalhava há alguns anos, porque os meus irmãos já estavam cá os dois e a vida de campo no interior da Beira Alta não era propriamente fácil ou promissora”.
Sobre o futuro, esta cidadã portuguesa espera poder “continuar a trabalhar até me reformar e depois decidir o que fazer”.
Em relação à diferença de vida entre Portugal e a Suíça, Maria da Conceição recorda que “cresci numa quinta, sem água, sem eletricidade, sem casa de banho, quando chovia de noite, a minha mãe tinha que me cobrir com um plástico, senão, chovia-me em cima, trabalho duro no campo, guardar cabras, era a minha vida. Na Suíça, mesmo trabalhando num ramo que não pagam muito, dá para ter uma vida confortável, as casas, mesmo as arrendadas, têm todo o conforto, no trabalho existe muita segurança e o Sistema, de uma forma geral, funciona bem”. A língua foi um problema no início, mas hoje “não tenho qualquer problema em me comunicar, seja por escrito ou falando”.
Quando o assunto é como vive o coração do imigrante português na Suíça, Maria da Conceição reforça que é como se estivesse “partido ao meio, apesar de tantos anos fora de Portugal, as raízes continuam vivas, e, graças às redes sociais, vai-se comunicando com colegas de escola, amigos e familiares, mas o dia a dia é a outra realidade, enfim, é a nossa vida, e não se pode ignorar”.
Ígor Lopes