O Colóquio Internacional “O poder da imagem na obra de Lídia Jorge”, teve lugar na Universidade de Genebra, nos dias 15 e 16 de setembro e deu assim início oficialmente à cátedra da escritora, nesta prestigiada universidade da Suíça.
A Cátedra Lídia Jorge foi criada graças a um protocolo estabelecido entre a Faculdade de Letras da Universidade de Genebra e o Instituto Camões, tendo por objetivo prestar homenagem a uma das personalidades literárias mais importantes da atual literatura portuguesa. Com livros traduzidos em mais de 20 línguas diferentes, recebeu prestigiados prémios internacionais: Prémio Jean Monet de Literatura Europeia, Escritor Europeu do Ano (2000), Prémio Internacional de Literatura da Fundação Günter Grass (2006), Prémio FIL de Literatura em Línguas Românicas de Guadalajara (2020), entre outros.
O evento teve início no dia 15, às 10h, com a presença de prestigiadas personalidades: do lado português a escritora Lídia Jorge, Augusto Santos Silva, Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros (MNE), o Presidente do Instituto Camões, Embaixador João Ribeiro de Almeida, o Sr. Embaixador de Portugal na Suíça, António Ricoca Freire, o Sr. Cônsul-Geral de Portugal em Genebra, Bruno Paes Moreira, entre outras e do lado suíço estiveram presentes o Diretor da Faculdade de Letras, Prof. Jan Blanc e o Diretor do departamento de Línguas e literaturas românicas, Prof. Abraham Madroñal, e a diretora da Cátedra, Dra. Nazaré Torrão.
O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva deu início aos trabalhos referindo a importância da cultura na política externa deste momento: “A imagem que queremos projetar de Portugal no exterior faz-se de uma diversidade de realidades e nada melhor que a literatura para nos desafiar a entender essas realidades”
Lídia Jorge nasceu em Boliqueime, no Algarve, há 74 anos, e a sua infância passada nessa região algarvia ligada a tempos de pobreza definiu a sua sensibilidade, compaixão e humildade, sempre com um olhar muito atento aos problemas da nossa sociedade.
“Eu pensava que as cátedras eram destinadas a escritores que já não vivessem neste mundo”, referiu Lídia Jorge, em entrevista num dos intervalos do colóquio “Aconteceu que me apresentaram a situação de uma maneira diferente, dizendo que quereriam reforçar com algumas pessoas que pudessem dar o seu testemunho vivo para tornar mais dinâmico o arranque de algumas cátedras”, prosseguiu a escritora, salientando que se sentiu muito honrada pelo convite e com uma certa responsabilidade. “Achei a ideia de renovar o conceito das cátedras algo muito positivo, até porque se pode criar uma dinâmica de aproximação muito interessante entre a língua portuguesa e os estudantes suíços”, afirmou a autora de O Cais das Merendas, deixado transparecer o seu forte agrado pela iniciativa.
Recordando ainda um pouco as obras de Lídia Jorge, convém relembrar que publicou tarde o seu primeiro livro, quando já tinha 33 anos, O Dia dos Prodígios, em 1989. Seguiram-se depois outras obras: Notícia da Cidade Silvestre, O Jardim sem Limites, A Costa dos Murmúrios, O Vale da Paixão, O Estuário, Em Todos os Sentidos, entre outras. Em 2018, Lídia Jorge editou o seu primeiro livro de poesia, O Livro das Tréguas, e no ano de 2020, tendo sido um ano bem atípico, tendo perdido sua mãe com o Covid -19, publicou a sua mais recente obra Em Todos os Sentidos, sendo um livro de crónicas, onde a autora reflete sobre a pandemia e a relação do Homem com a Terra.
Ao longo destes dois dias de colóquio, centrado na força da imagem na obra da autora, não deixaram de ser abordados os grandes temas da obra da autora, como a relação com a história, a memória, o papel da mulher na sociedade, sempre com a intervenção de vários professores, de diferentes escolas e universidades, que estudaram as suas obras. As atuais restrições sanitárias fizeram com que os professores que trabalham fora da União Europeia participassem à distância, o que não impediu todavia de criar um painel diversificado de universidades de diferentes universidades do Brasil, dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, para além da França e de Portugal
No final do evento, Nazaré Torrão sentia-se naturalmente contente com o sucesso do evento, referindo que “espero que este novo passo no desenvolvimento dos estudos universitários de português na Suíça possa trazer mais estudantes portugueses a entusiasmar-se com a nossa cultura e a participar nos cursos da unidade de português, seja de língua, de literatura ou de cultura. O reconhecimento da nossa cultura no país que nos acolhe deveria ter esse efeito. Por outro lado, é importante reforçar a ligação entre os especialistas da cultura portuguesa que trabalham fora de Portugal com os das universidades portuguesas num diálogo sempre profícuo, em que as diferentes abordagens enriquecem todos e estes colóquios servem para isso mesmo. Por outro lado, encontros desta natureza são uma oportunidade de alargar os horizontes de formação dos professores de português dos cursos de Português Língua de Herança, saindo fora da utilidade imediata do ensino aos mais jovens, mas a análise literária é essencial para enquadrar a cultura portuguesa num âmbito mais lato sempre necessário a quem ensina. Foi uma pena contarem-se tão poucos entre o público presente. Na Cátedra Lídia Jorge, toda a equipa vai continuar com o trabalho de divulgação da cultura portuguesa e de outros países de língua portuguesa.”
Augusto Lopes