› Maria dos Santos
Para desintoxicar a memória com as brutalidades políticas e sociais que dominam o nosso Portugal, fui sentir as fragrâncias da natureza.
Sabia que mergulhar nas altitudes, me iria por breves horas fazer esquecer que há um ano começou a guerra ali ao lado. E os grandes senhores da política continuam sem serem capazes de gerir mais um *Holocausto*, isto no século XXI. Inacreditável.
O terramoto na Turquia e Síria deixam-nos imagens devastadoras e sentimo-nos impotentes, perante tal resposta da natureza.
O palco para acolher o Papa é mais uma aberração da nossa classe política, temos de ser os maiores e mais bonitos, quando o Papa é o primeiro a dizer: Simplicidade. Temos tanta pobreza no nosso país, que para os cidadãos portugueses nunca há dinheiro. Só existe para os altos cargos que a cada dia se mostram corruptos profissionais. Sendo que a classe mais frágil continua ao abandono. O Clérigo terá de prestar contas, se é que esse dia chega. Muito se fala, mas o que seria também importante era que mudassem a lei e que deixassem casar, constituir família e quiçá assim se tornasse uma profissão como tantas outras, com menos escândalos que nos dilaceram o coração. Possivelmente os abusos a menores deixassem de aumentar abruptamente. É vergonhoso e inaceitável.
Os nossos professores, desta vez, decidiram calçar sapatos de ferro e estão para o que der e vier. Tenho pena de cá não estar para ver a geração dos meus netos. Talvez seja melhor assim, para não chorar baba e ranho. Em casa educa-se, nas escolas aprende-se.
E foi bem pertinho dos três mil metros que mudei o disco e me deixei embalar pela deslumbrante paisagem, num céu azul com as montanhas vestidas de branco.
Falo-vos de Schilthorn, a 2970 metros de altitude. Uma montanha que pertence aos alpes da nossa capital, Berna. É considerada uma das mais visitadas pelos turistas. Bem no pico da montanha, eleva-se um deslumbroso restaurante, o Piz Gloria. Em constante rotação e enquanto degustamos uma boa refeição, podemos fazer uma visita a Eiger, Mönch e a famosa Jungfrau. Possível porque os 360° são visíveis sem se levantar da sua mesa. A rotação demora cerca de uma hora. Existem, na totalidade, 200 picos montanhosos cobertos de neve. É imponente.
Para visitar esta montanha, conte com cerca de cinco a seis horas, isto porque bem pertinho do céu tem toda a história do famoso filme “Her Majesty Secret Service” do James Bond 007, que ali foi gravado em 1969 com o ator George Lazenby. Um museu, uma sala de cinema, uma estátua do artista em causa, copos, pratos, enfim tudo ali é 007. Registado estão também outros artistas do famoso Bond, entre eles o Sean Connery em 1964, Roger Moore 1981, Pierce Brosnan em 1995, Daniel Crain em 2008 e por aí fora, pode ver extratos de todos estes filmes.
Muito interessante também é 007 Walk of Fame. Os artistas do filme que ali foi gravado deixaram o molde da mão numa parede como testemunha de presença.
Não para todos temos a Skyline Walk, uma ponte ao redor da montanha, com o chão em vidro, onde os olhos se perdem no vazio da altitude. É um teste à coragem.
Devemos caminhar devagar, pois a altitude avisa constantemente ao cérebro que o oxigénio é reduzido.
Ao subir ou ao descer, não deixe de visitar uma extraordinária aldeia de nome Mürren. Localizada a meio do caminho para Schilthorn, é construída com chalés todos de madeira. Os seus habitantes estão habituados aos turistas, são acolhedores e prontos a cavaquear sobre a história daquela lindíssima aldeia, que, como muitas outras, tem a sua própria narrativa.
Devemos caminhar devagar, pois a altitude avisa constantemente o cérebro de que o oxigénio é reduzido.
De regresso à civilização, percorra as ruas de Lauterbrunnen e deixe-se encantar pelas maravilhosas cascatas. No inverno, de gelo, e no verão, de água. Se escolher os dias mais quentes, aproveite a beleza incomparável do lago Grauseeli.
Existem dias perfeitos: Claro que sim, basta que o queiramos viver.