› Júlio Vilela
Embaixador de Portugal na Suíça
Os laços criados no final do século XIX e a maior consistência da relação bilateral entre Portugal e a Suíça conduziram, necessariamente, a que a implantação da República não tivesse passado despercebida aos olhos da sociedade suíça.
Coube ao novo Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário (EEMP), Abílio Guerra Junqueiro, o primeiro da era republicana, cujo pedido de “agrément” foi solicitado no final de 1910, chegado a Berna a 9 de junho de 1911, manter as primeiras interlocuções com o Governo Federal da altura.
Guerra Junqueiro prosseguiu na sua missão dois objetivos essenciais: contactar os diretores dos jornais suíços para obter a sua influência a favor do novo regime republicano em Portugal e fazer da comunidade portuguesa na Suíça uma grande família de que ele seria o “chefe espiritual”. Depois duma fase inicial particularmente desgastante na sensibilização da comunicação social para as virtudes da República e no combate às “ondas” monárquicas que se mantiveram vivas numa fase inicial na Suíça, o desempenho de Guerra Junqueiro depressa se pautou pela estabilização do diálogo político institucional com as autoridades suíças e na consolidação de progressos em áreas de interesse para Portugal, como aliás se havia comprometido quando entregou as cartas credenciais. Assim, a ele se deve, por exemplo, o aparecimento do primeiro curso de língua portuguesa na Suíça destinado à ainda escassa, mas presente, comunidade portuguesa residente.
De facto, a 1 de março de 1913 Guerra Junqueiro comunicava ao Ministro dos Negócios Estrangeiros António Caetano Macieira Júnior, que “Antes de chegar a Berna e de reassumir em 17 as funções do meu cargo demorei-me alguns dias em Genève e em Lausanne, com o fim de obter naquela cidade, do chefe do Departamento da Instrução Pública, uma sala para a nossa escola de língua portuguesa (…)”. E acrescenta “A sala para a escola foi-me desde logo concedida, e com palavras de muita amizade e reconhecimento. Eu julgo que o sr. Emílio Costa (professor residente local) nos vem prestar aqui um bom serviço.” E a 21 de maio do mesmo ano, oficiava a Lisboa dizendo “No dia 13 do corrente teve lugar no Colégio de St. Antoine de Genebra (que corresponde aos nossos liceus) a abertura do curso de língua portuguesa, regido pelo Sr. Emílio Costa.” Mas não deixava de relativizar o sucesso e obstar a uma maior publicidade do ato acrescentando “Como a época escolar vai quase no fim e a inscrição de alunos não podia portanto ser muito numerosa, não quis imprimir ao ato solenidade, comparecendo apenas a ele o secretário da Legação. A inauguração oficial com a assistência do Presidente do Conselho de Estado de Genebra, realizar-se-á em setembro.”
Assim, decorre a 13 de maio de 2023, a passagem de 110 anos da abertura do primeiro curso de língua portuguesa na Suíça e que foi ministrado, crê-se e de acordo com dados da época que chegaram ao nosso conhecimento, no Colégio de Saint Antoine em Genebra, por iniciativa de Guerra Junqueiro com apoio do Governo português e da Associação Comercial de Lisboa. As aulas tinham lugar duas vezes por semana a partir das 16 horas, como então bem divulgou o jornal Tribune de Genève.