Grande parte dos editoriais que escrevi ao longo destes mais de 4 anos em que assumi a direção do Gazeta Lusófona têm sido direcionados para o associativismo e imensas iniciativas que a comunidade portuguesa tem desenvolvido e apresentado na Suíça, desde a cultural mais tradicional até aos projetos fantásticos da Academia, com realce para a promoção da Língua Portuguesa.
Relendo as conclusões da Conferência Internacional de Atenas sobre o restauro dos monumentos, que decorreu em outubro de 1931, constatei que a grande preocupação do segundo quartel do século XX estava relacionada com a necessidade de conservar os monumentos, a forma de os restaurar e que materiais usar.
Oitenta anos depois, a 1 de junho de 2011, entrou em vigor a Convenção-Quadro sobre o valor do Património Cultural para a Sociedade do Conselho da Europa, assinada em Faro, em outubro de 2005, elaborada por um grupo de trabalho presidido por Guilherme de Oliveira Martins.
Esta Convenção, conhecida por “Carta de Faro”, gerou conclusões focadas na ideia de que o conhecimento e o usufruto do património são relevantes para o direito de participação dos cidadãos na vida cultural, como consta na Declaração Universal dos Direitos do Homem. É neste conceito que nasceu a ideia de o património cultural ser útil para o desenvolvimento humano e promoção do diálogo intercultural como polo central para a participação do cidadão em geral, além de ser um meio fechado no âmago do mundo académico.
Todavia, a sensibilidade que é pedida a todos os cidadãos só pode ser alcançada se existir conhecimento. É na ausência do mesmo que surge o conflito que nos leva a uma “perigosa fragmentação europeia” que “resulta da incompreensão em relação à memória, à história política e à sociedade”, como sublinha Guilherme de Oliveira Martins no seu livro “Património Cultural”. O mesmo autor defende que o respeito das diferenças obriga “a compreender de maneira nova o património cultural como fator de aproximação, de compreensão e de diálogo”.
Contudo, não podemos ignorar o trabalho desenvolvido pela comunidade portuguesa pelo mundo. No que concerne à Suíça, os portugueses têm dado a conhecer a cultura através das mais diversificadas iniciativas. Também esse trabalho é património português que deve ser reconhecido e valorizado. É tempo de unirmos esforços, em todas as localidades helvéticas com associações portuguesas, para que renasça uma instituição associativa capaz de unir todas as associações portuguesa com o intuito de ganharem mais força e voz…
A dimensão do património cultural só poderá ser alcançada quando o conhecimento for parceiro da sensibilidade. Esta não existe sem o primeiro. Por isso, Leite de Vasconcelos (1858-1941) defendia que quando estudamos o passado prestamos “culto aos venerandos velhos que nos legaram a herança que usufruímos”.
Adélio Amaro, diretor