A reportagem do Gazeta Lusófona acompanhou, entre os dias 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro, Brasil, a participação da comitiva portuguesa nas reuniões do G20, uma oportunidade disponibilizada a Portugal, na qualidade de observador, a convite da Presidência brasileira. Portugal esteve representado pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro; pelo ministro de Estado dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Rangel; e pelo embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos.
Durante o evento, o governo português anunciou que vai contribuir com 300 mil dólares anuais para a nova Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, iniciativa lançada pelo presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, durante a cimeira do G20.
“O nosso compromisso é firme, assim como será o nosso investimento. Portugal irá contribuir com cerca de 10% do custo de funcionamento do mecanismo de Apoio da Aliança, 300.000 dólares (cerca de 284 mil euros), pelo menos até 2030”, afirmou Luís Montenegro.
No âmbito deste evento internacional, e durante a primeira sessão de trabalho da reunião de chefes de Estado e de Governo do G20, Montenegro saudou o presidente Lula por trazer para o centro da discussão “temas absolutamente essenciais como a erradicação da pobreza e da fome”.
“A decisão histórica de criar uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza irá imprimir uma nova dinâmica política e deverá mobilizar-nos a todos para atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável 1 e 2 (das Nações Unidas) até 2030”, afirmou.
A agenda da comitiva portuguesa no Brasil, a primeira de Montenegro no país irmão, contou com encontros com a comunidade portuguesa na cidade maravilhosa, mas também em São Paulo, maior cidade da América Latina. Em ambos os casos, o foco esteve na diáspora lusa.
No Rio, Montenegro discursou para dezenas de portugueses e lusodescendentes, no dia 19/11, nas instalações do imponente Palácio São Clemente, no Consulado-Geral de Portugal no Rio de Janeiro, na presença do deputado luso-brasileiro eleito pelo círculo de Fora da Europa, Flávio Martins, que é também presidente do Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Portuguesas (CP-CCP); e de Gabriela de Albergaria, cônsul-geral de Portugal no Rio de Janeiro.
“Ser português é uma coisa única, é uma coisa que em si mesma nos dá alegria, nos dá alento, nos dá força, nos dá motivação para levarmos os nossos projetos para a frente, projetos individuais, coletivos e os nossos projetos de governação”, disse o primeiro-ministro português. Esta iniciativa reuniu diversos líderes associativos, empresários, artistas, políticos, entre outros nomes de vulto ligados a Portugal e ao universo lusodescendente.
“Eu sei que todos carregam nos vossos corações aquele sentimento que não é que é possível de ser descrito com exatidão (…) que é ser português”, enalteceu Montenegro, num discurso emocionado, direcionado à comunidade lusa local.
Durante o encontro no Palácio São Clemente, o primeiro-ministro afirmou, ainda, que o Governo tem vindo a “tentar modernizar a rede consular, dar-lhe mais equipamentos, dar-lhe mais meios humanos”, bem como apoiar o movimento associativo, que considerou “fundamental para estimular o ensino do português”.
Este chefe de governo defendeu o trabalho do movimento associativo na manutenção da cultura e das tradições portuguesas no mundo.
“Nós entendemos que o movimento associativo é fundamental para uma maior cumplicidade entre a nossa comunidade, para a consagração das nossas tradições, das nossas identidades, e também para o ensino português. O movimento associativo é fundamental para estimular o ensino do português, da cultura portuguesa. (…) sei que há muitas outras instituições, quer no âmbito cultural, quer no âmbito do assistencialismo social, da saúde, quer no âmbito descultivo, recreativo, do âmbito da educação”, reconheceu.
O programa oficial no Rio de Janeiro incluiu uma visita ao Real Gabinete Português de Leitura, localizado na zona central da cidade, onde Montenegro destacou o trabalho realizado pelo presidente desta instituição, Francisco Gomes da Costa.
“É muito raro e valioso encontrar tantos traços da nossa identidade e tantas referências da nossa caminhada e presença no mundo. Uma nação inovadora, corajosa e talentosa. Muitos parabéns, caro Francisco, em homenagem a todos que preservam aqui o ser português”, agradeceu o primeiro-ministro, que foi agraciado pelo Real Gabinete com uma medalha comemorativa dos 500 anos do nascimento de Camões e que retribuiu com as obras completas do ensaísta Eduardo Lourenço, uma edição da Fundação Gulbenkian.
No dia 20/11, pela manhã, a comitiva portuguesa seguiu para São Paulo para mais um dia dedicado à comunidade lusa e à cultura. Teve lugar um almoço com as autoridades locais, incluindo o Cônsul-Geral de Portugal em São Paulo, António Pedro Rodrigues da Silva.
Na sua passagem pela Casa de Portugal de São Paulo, Montenegro foi agraciado com a comenda da Ordem do Mérito do Infante Dom Henrique.
Em palavras dirigidas aos empresários presentes num almoço, Montenegro deixou um convite para que “invistam em Portugal”.
“Também registo positivamente a afirmação de portugueses e de lusodescendentes em termos de participação cívica e política, exercendo cargos de responsabilidade. Não será por acaso que quer o prefeito, quer o governador deste Estado têm nacionalidade portuguesa”, afirmou.
Ainda em São Paulo, Montenegro visitou o Museu da Língua Portuguesa. De seguida, regressou a Portugal.
Recorde-se que o G20 é um dos principais fóruns internacionais sobre cooperação económica e desenvolvimento internacional. Foi estabelecido em 1999 e inclui, desde 2008, uma Cimeira anual, com a participação dos respetivos Chefes de Estado e de Governo.
Os membros do G20 são: EUA, China, Alemanha, Rússia, Reino Unido, França, Japão, Itália, Índia, Brasil, África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, Coreia do Sul, Indonésia, México, Turquia e, ainda, a União Europeia e a União Africana e representam as maiores economias, compondo cerca de 85% do PIB mundial, mais de 75% do comércio mundial e cerca de 2/3 da população mundial.
› Ígor Lopes