Maria Ester Vargas, candidata do PSD
Maria Ester Vargas de Almeida e Silva tem 66 anos de idade, é professora e candidata, nas próximas eleições, à deputada pelo círculo eleitoral da Europa pelo PSD. É natural de Lisboa e residente em S. Pedro do Sul, no distrito de Viseu. Atua como líder parlamentar do PSD na Assembleia Municipal de S. Pedro do Sul e foi Adida Social na Embaixada de Portugal em Berna, na Suíça, entre 2015 e 2021.
Em entrevista à nossa reportagem, esta candidata falou sobre as comunidades portuguesas e a decisão em participar ativamente neste pleito eleitoral.
Como avalia o cenário político atual em Portugal?
Neste momento, fruto da crise política que se instalou, na sequência da não aprovação do Orçamento de Estado e que levou a que o Senhor Presidente da República dissolvesse a Assembleia da República, estão marcadas eleições para o próximo dia 30 de janeiro. Este momento é aguardado com expectativa por todos os portugueses, na medida em que o mesmo pode originar uma mudança de rumo na governação do país. Espera-se que o novo ciclo político possa retirar Portugal do impasse em que se encontra, limitado que tem estado por agendas políticas que têm conduzido ao empobrecimento do país face aos parceiros europeus e que urge reverter, de modo a ser possível o crescimento económico, a redução da dívida pública que atinge níveis insustentáveis, a par da eficiência da ação pública da Administração e do Estado, apenas para citar alguns exemplos do que é imprescindível reformar. Por tudo isto, estas eleições são muito importantes e é imprescindível que todos os portugueses – os que vivem no país e os que vivem fora, participem no ato eleitoral, ajudando a escolher o caminho que Portugal deve seguir para ultrapassar os problemas com que se depara atualmente.
É a primeira vez que se candidata?
A minha participação política já vem de longe, sobretudo ao nível autárquico, no concelho onde resido – S. Pedro do Sul, no distrito de Viseu. Desde a década de 1980 que sou membro da Assembleia Municipal desse concelho, tendo tido a honra de presidir a esse órgão autárquico durante 3 mandatos, liderando neste momento a bancada do PSD nessa mesma Assembleia Municipal. Entre 2011 e 2015 exerci funções de deputada à Assembleia da República, eleita pelo Círculo Eleitoral de Viseu. Nesse período, enquanto Vice-Coordenadora dos deputados do PSD na Comissão dos Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, contactei muito de perto com as temáticas inerentes às Comunidades Portuguesas, acompanhando muito de perto o trabalho levado a cabo pelos então deputados eleitos pelos Círculos da Europa e Fora da Europa, participando em reuniões com o Conselho das Comunidades que, como é sabido, é um órgão consultivo do Governo em matérias de interesse para as comunidades e mesmo em visitas a diferentes países em contacto com portugueses aí residentes, podendo dar como exemplo um Encontro com a comunidade portuguesa em Estugarda (Alemanha), que foi muito participada e proveitosa. Entre 2015 e 2021 exerci funções de Adida Social na Embaixada de Portugal em Berna, em contato direto com os muitos portugueses que vivem neste país (210.731, dados de 2020). Tive a oportunidade de identificar os principais problemas que afetam os portugueses que aqui vivem e, desenvolvendo um trabalho de grande proximidade, enquanto a pandemia o permitiu, tentei ajudar e resolver muitas situações complexas. O facto de integrar o Conselho Consultivo da área consular de Berna e de ter um contato permanente com os Senhores Cônsules de Genebra e Zurique permitiu a que pudesse ter uma visão global da comunidade portuguesa neste país. Importa referir ainda o contato muito próximo com o movimento associativo português na Suíça, não apenas na participação de eventos levados a cabo, mas, sobretudo no apoio à elaboração de Planos de Atividades e de Projetos, com o objetivo de contribuir para uma melhoria do seu desempenho, à luz das exigências atuais. Mesmo durante a pandemia esse contato não foi interrompido, pois, por telefone, e-mail ou videoconferência, houve sempre um apoio e acompanhamento muito próximo a todos os portugueses que solicitaram a minha intervenção. Face ao exposto, fica patente a minha ligação às comunidades portuguesas, que sempre considerei como parte integrante do nosso Portugal e não como um grupo separado ou marginalizado.
Como considera a comunidade portuguesa espalhada pela Europa?
A comunidade portuguesa espalhada pelos diversos países do continente europeu tem uma característica extraordinária e que importa salientar – a de transportar em cada um, o nome de Portugal. Por muito bem que estejam nos países de acolhimento e por muito integrados que se sintam, o sentimento que os une é o da portugalidade, facto que só se consegue entender quando estamos fora, com eles, a vibrar, a sofrer e a regozijarmo-nos ao ouvir o nome Portugal. De um modo geral as comunidades portuguesas são respeitadas e apreciadas nos países onde vivem e trabalham enquanto cidadãos e profissionais e muito contribuem para dar uma imagem positiva do nosso país. É de salientar igualmente o número muito significativo de jovens qualificados que saíram de Portugal nos últimos anos e que, nos diversos países de acolhimento, são já referências pela qualidade da sua formação (obtida em Portugal) e pelas suas elevadas competências profissionais, em sectores de grande importância, como sejam a investigação científica, saúde, indústria farmacêutica, banca e muitas outras. Este grupo de portugueses que agora vive «fora de portas» contribui também para a imagem de um Portugal evoluído, moderno e inovador e não pode nem deve ser esquecido.
Na sua opinião, que políticas são necessárias neste momento para a diáspora portuguesa?
Em meu entender, os portugueses que vivem além-fronteiras têm de ser considerados cidadãos de plenos direitos, ao nível dos seus compatriotas que residem em Portugal. O nosso país sempre foi caracterizado por fluxos migratórios e a mobilidade que nos foi garantida pela adesão à União Europeia veio incrementar as movimentações intrafronteiras. Assim, não me parece correto considerar as questões das comunidades à parte das questões do país, pese embora aspetos específicos que importa tratar e analisar. Todos somos Portugal, Todos somos Portugueses e é com base neste pressuposto que, na minha opinião, as diversas políticas para as comunidades devem ser consideradas. Há um conjunto de temas que devem ser considerados, podendo salientar como mais relevantes a questão da necessidade de se fomentar a participação política de quem vivem fora, simplificando e unificando o leque de sistemas eleitorais vigentes que, a manter-se, conduzirão a um maior afastamento dos cidadãos da causa publica. Outro aspeto tem a ver com a representatividade política, pois o sistema atual não respeita a representatividade proporcional ao número de cidadãos. Assim, e no seguimento de uma iniciativa já apresentada na Assembleia da República pelo Partido Social Democrata, devemos pugnar pelo aumento do número de deputados dos Círculos da Europa e Fora da Europa, passando numa primeira fase de 4 para 5 deputados. Este desígnio depende de uma aprovação de 2/3 em sede da Assembleia da República e obrigará sempre a entendimentos parlamentares, como é óbvio. A melhoria do atendimento consular, a revitalização do movimento associativo, o apoio aos investidores da diáspora, o ensino e a afirmação da língua e da cultura portuguesas, a ligação do cidadão com as instituições do seu país de origem, as questões relacionadas com o Conselho das Comunidades Portuguesas, no que tem a ver com as eleições (inexplicavelmente atrasadas) e o seu modo de funcionamento são apenas alguns destaques daquilo que importa trabalhar para dar resposta aos anseios da comunidades portuguesas.
Que linhas pretende seguir em relação às comunidades portuguesas caso seja eleita?
Caso seja eleita, farei aquilo que sempre fiz no diálogo que sempre entabulei com as comunidades: proximidade, respeito e verdade. Os nossos compatriotas poderão contar com o meu trabalho, dedicação e determinação no tratamento dos temas que lhes dizem respeito e terão, na minha pessoa, uma voz na Assembleia da República a defender os seus pontos de vista e a trabalhar para a resolução dos seus problemas, sempre numa perspetiva integradora e colaborativa, ouvindo os diversos agentes sociais envolvidos e articulando com eles o melhor caminho a seguir para a defesa das suas posições. Comigo não haverá «política espetáculo», mas sim uma política de verdade e de responsabilidade que possa contribuir para uma melhoria do relacionamento dos portugueses que estão fora com o seu país de origem.
O que essa mesma comunidade deve esperar das eleições de janeiro?
As próximas eleições devem ser encaradas com muita esperança em dias melhores, com a convicção de que é possível inverter a situação de impasse em que Portugal se encontra. O nosso país não pode continuar a ser um dos países cada vez mais pobres da União Europeia e, pelo simples ato de votar, todos temos o dever de contribuir para que possamos crescer e afirmar-nos no mundo, ombreando com os melhores e acreditando que Portugal no século XXI pode voltar a ser grande. Tanto, quanto a dimensão das suas comunidades no mundo que, no momento certo, saberão dar novos horizontes ao seu país. Pela minha parte, tudo farei para isso. Mas para que o «barco seja levado a bom porto», é necessário que todos colaborem, que todos votem, pois TODOS SOMOS PORTUGAL, independentemente do local onde nos encontramos a residir.
Ígor Lopes