› Adélio Amaro
› Ígor Lopes
O empresário português Rui Nabeiro, fundador do Grupo Nabeiro – Delta Cafés, foi sepultado no dia 21 de março em Campo Maior, uma vila raiana no distrito de Portalegre, em Portugal. O adeus a um dos principais nomes de Portugal nas últimas décadas aconteceu diante de centenas de pessoas de todo o país, com vários funcionários do grupo Delta a demonstrarem a grandiosidade deste empresário.
Manuel Rui Azinhais Nabeiro nasceu em Campo Maior, vila do interior do país, no distrito de Portalegre, junto à raia com Espanha, em 28 de março de 1931. Morreu no domingo, dia 19 de março, aos 91 anos, vítima de doença decorrente de problemas respiratórios, no Hospital da Luz, em Lisboa.
Em vida, era conhecido pela sua sensibilidade e humildade no trato com as pessoas. Nasceu no seio de uma família humilde, começou a trabalhar por volta dos 12 anos de idade. Ajudava a mãe numa pequena mercearia e o pai e os tios na torra do café, numa época em que se sentiam os efeitos da guerra civil em Espanha e a zona raiana era lugar de contrabando.
Aos 17 anos, após a morte do pai, assumiu os destinos da pequena torrefação familiar. Para fazer crescer a empresa, fomentou a venda de café em Espanha, constituindo depois uma sociedade com os seus tios, a Torrefação Camelo, da qual tornou-se gerente. Contudo, insatisfeito com a sociedade deixou a gerência da empresa, fundando com a esposa e filhos seu próprio negócio em 1961, a Delta Cafés que, além dum pequeno armazém de mercearias, logo se iniciou na torra do café. Nascia assim a marca Delta, que passados poucos meses se distribuía em todo o país, abrindo um entreposto comercial em Lisboa, em 1963, e outro no Porto, em 1964.
Antes do 25 de abril de 1974, e por duas vezes, Nabeiro foi nomeado presidente da Câmara Municipal de Campo Maior — em 1962 e em 1972, tendo exercido a função por menos de um ano, alegando ter-se incompatibilizado, a primeira vez, com os restantes membros da Câmara, e a segunda vez com o Governador Civil de Portalegre. Nabeiro voltaria, no entanto, a exercer o cargo — agora democraticamente eleito, pelo Partido Socialista — em 1977, sendo reeleito duas vezes, e mantendo-se no cargo até 1986, ano em que fugiu para Badajoz após ser acusado pelo Ministério Público dos crimes de fraude fiscal e associação criminosa, referentes à falta de pagamento da taxa de importação sobre café proveniente dos Países Baixos. Viria a ser ilibado, não tendo sido submetido a qualquer julgamento criminal.
Empresário líder no mercado dos cafés, constituiu em 1982 a Novadelta e, em 1984, criou uma nova fábrica de torrefação, na altura a maior da Península Ibérica. Em 1988 criou a holding Nabeirogest, através da qual soma investimentos no ramo agrícola e vitivinícola, na distribuição alimentar e de bebidas, no retalho automóvel, no comércio imobiliário e na hotelaria.
A 9 de junho de 1995, Mário Soares atribuiu-lhe o grau de comendador da Ordem Civil do Mérito Agrícola, Industrial e Comercial Classe Industrial, e a 5 de janeiro de 2006, Jorge Sampaio distinguiu-o como comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
Em 2002, foi apresentada a biografia de Rui Nabeiro, intitulada O homem. Uma obra – a de Rui Nabeiro, da autoria de Tereza Castro Ribeiro Reis. Em 2007, inaugurou o Centro Educativo Alice Nabeiro, para dar resposta às necessidades extraescolares das crianças de Campo Maior. Com o patrocínio da Delta, a Universidade de Évora criou, em 2009, a Cátedra Rui Nabeiro, destinada à promoção da investigação, do ensino e da divulgação científica na área da biodiversidade.
Foi cônsul regional honorário de Espanha, com sede na vila de Campo Maior e jurisdição nos distritos de Castelo Branco, Beja, Portalegre e Évora. Já em 2020, foi agraciado com o Globo de Ouro de Mérito e Excelência por Pinto Balsemão.
Na véspera da sua morte, recebeu a visita do presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, que lamentou o seu falecimento. A família de Nabeiro recebeu mensagens também do presidente da Assembleia da República, do primeiro-ministro e de diversas personalidades, tendo Rui Nabeiro sido consensualmente lembrado pelo seu humanismo e dinamismo empresarial.
A Câmara Municipal de Campo Maior decretou cinco dias de luto municipal, ao passo que a Câmara Municipal de Elvas decretou três dias de luto municipal.
O Gazeta Lusófona lamenta a morte de Rui Nabeiro e deseja à sua família força neste momento de luto, agradecendo a parceria da marca Delta com o nosso jornal, num esforço conjunto que dignifica Portugal e as comunidades portuguesas no mundo, em especial na Suíça.