› Ilídio Morgado
“A comunidade portuguesa tem o prazer de lhe dar as boas-vindas a Genebra”. Foi deste modo que recebemos a nova Cônsul-Geral de Portugal em Genebra, Leonor Esteves, que teve a amabilidade de disponibilizar um pouco do seu tempo para se apresentar à comunidade portuguesa através da Gazeta Lusófona e aos microfones da Rádio Arremesso.
Chegada há pouco tempo, em 1 de setembro, gostaríamos de a conhecer pelas suas palavras…
Grata pelo convite e a oportunidade à Radio Arremesso, já uma instituição na comunidade. De facto, cheguei há pouco tempo, assumi funções no dia 1 de setembro encontrando-me no chamado estado de graça. Tenho tentado conhecer a comunidade e aproximar-me das pessoas. Um dos principais vetores do meu trabalho passa por conhecer a comunidade e estar dela próxima, ser uma figura presente, rebatendo a ideia de consulado e/ou o/a cônsul como algo de distante e até por isso agradeço poder esclarecer esta minha vontade. Para me apresentar, o último posto foi na Embaixada na Cidade da Praia, acreditada como Ministra Conselheira, a número dois da Embaixada, onde estive três anos, período durante o qual tive duas missões de serviço público, uma no consulado da Africa do Sul, grande desafio por ter coincidido com o período da pandemia, um grande desafio devido às circunstâncias numa comunidade muito dinâmica. Período durante o qual o Sr. Embaixador Júlio Vilela era o Diretor Geral dos Assuntos Consulares das Comunidades Portuguesas, e a segunda missão em Vinduk, na Namíbia. O meu percurso diplomático é longo, comecei a carreira no ano de 1996 e grande parte do meu percurso foi na área consular, poderia ter sido noutras áreas, mas casualmente foi nesta. O primeiro posto foi num consulado pequeno, em Belém do Pará no Brasil, o qual me deixou muitas saudades e boas memórias, pelo que estou preparada para enfrentar este novo desafio. Relativamente ao primeiro posto, não há amor como o primeiro. Exato, acresce a curiosidade que nasci no Brasil e que me sentia um bocadinho em casa, conhecia um pouco, embora o Brasil seja enorme, um universo muito diversificado e ter a oportunidade de lá ter começado foi muito bom.
É certamente gratificante ter o reconhecimento e recordarmos as experiências onde fomos felizes.
É bom ter essa segurança em termos pessoais e profissionais e sentir o retorno do nosso empenho, o resultado do nosso trabalho, o que espero poder dizer quando terminar a minha missão em Genebra.
Sendo a estrutura consular burocraticamente pesada, não obstante a evolução que se verificou, administrativamente ainda existe um certo estigma na relação entre utente e estrutura que coíbe e constrange.
Como diz, e bem, a evolução é tremenda. O trabalho consular evoluiu com a tecnologia e todas as dinâmicas foram alteradas, se nos lembrarmos, quando eu entrei para o Ministério, as comunicações eram feitas pelas fitas perfuradas, por fax. As minhas primeiras competências foram fazer um jornal interno do Ministério onde elaborava as notícias consulares, as trocas de informação com ministros e secretários de Estado, além de notícias que nos chegavam dos consulados espalhados pelo mundo. Hoje, há uma miríade tecnológica à disposição que mudou por completo o desenrolar dos atos consulares, e não só, é tudo rapidíssimo e ao momento, o universo é outro e há que aproveitar e otimizar para melhor servir. Foi uma mudança mais profunda que o tempo.
É formada em Comunicação Social, podemos dizer que é uma colega, além disso, é a segunda mulher que assume o posto em Genebra. Sendo que as mulheres têm outra sensibilidade e, segundo se diz, serem as melhores gestoras, poderá ser uma diferenciação positiva, não menosprezando, obviamente, os seus antecessores.
Já ouvi isso, mesmo o nosso embaixador já teve essa simpática abordagem. Pessoalmente, não sou muito favorável com essa ideia de género, somos todos funcionários que temos as mesmas responsabilidades, obrigações e direitos, a carta de missão é, obviamente, igual. Concordo que tenhamos abordagens diferentes, até em termos de exigência, não tendo de provar algo, o percurso das mulheres no mundo diplomático é recente, deu-se depois do 25 de abril. A primeira mulher nomeada como embaixadora foi Maria do Carmo Allegro de Magalhães, nomeada pelo Ministro Jaime Gama. Dei-me conta que sou de facto a segunda mulher no posto, mas é uma casualidade, os desafios são os mesmos que os meus colegas e o empenho também. Espero, obviamente, a minha visão, imprimir um cunho pessoal, distintivo e positivo, em estreita colaboração com a embaixada, com o consulado de Zurique e com os escritórios consulares, principalmente de Sion que me diz mais respeito.
Responsável pela área consular de Genebra, não tendo ainda tempo suficiente para uma ideia mais concreta, qual é a sua sensibilidade quanto à comunidade.
Nestes primeiros tempos procuro estar no maior número de eventos onde possa tomar o pulso à comunidade. É uma comunidade grande com dinâmicas próprias e diversificada, não colada a uma imagem na qual está rotulada tal como foi apresentado num recente estudo onde estive presente. Nesse estudo apresentava-se a comunidade sem grandes aspirações, envelhecida, de nível académico baixo, usando o termo de “locataires”, um padrão que não se adequa à realidade. Embora tenha ainda pouco tempo, pude constatar que não corresponde ao que me foi dado a observar na comunidade, esse paradigma está ultrapassado, há uma grande mobilidade de jovens licenciados, assim de repente lembro-me da associação AGRAPS, que congrega graduados portugueses na Suíça, conduzida pelo engenheiro Paulo Gomes, entre outras organizações, a diversidade da comunidade é de espectro alargado e não afunilado em estereótipos ultrapassados. A minha intenção, e missão, é aproximação às pessoas, entender os contextos, adequar práticas, dialogar, interagir positivamente para que juntos possamos melhorar relações e que de esbata a imagem de distância que possa existir entre o trabalho consular e a sua estrutura e a comunidade que nos procura.
Tecnicamente, a sua missão estará hoje mais apetrechada a nível tecnológico, mas sabe-se que algum material informático estará quase obsoleto, prejudicando os trabalhos dos funcionários que se confrontam com esta contradição, numa era tecnologicamente avançada, as ferramentas ao dispor não ajudam a obter essa vantagem.
Nessa vertente tenho uma boa notícia, em primeira mão e aos microfones da Rádio Arremesso, finalmente equipamento moderno e condizente com as exigências atuais vai estar disponível já na próxima semana. A renovação vai estar a cargo de uma equipa de técnicos que virá fazer essa mudança, o equipamento já está todo em Genebra e vai ajudar muito as funções da estrutura consular. Não se podia continuar a trabalhar em regime quase provisório, no que diz respeito à informática. Vai ajudar muito a eficiência dos serviços e a celeridade dos processos ajudará igualmente os utentes.
Ao fim ao cabo, os funcionários serão os mais contentes por terem agora à disposição material que lhes permite ser mais eficientes e profícuos. Trabalham muito e estavam até aqui bastante condicionados.
Corroboro as suas palavras e aproveito para agradecer à equipa de funcionários que colaboram comigo. O consulado não sou eu, nem os meus colegas assim o entendiam. O consulado é uma equipa e a que encontrei é muito preparada e experiente. São 17 funcionários que são uma base de apoio muito importante, acolheram-me muito bem, são pessoas muito sólidas que com a exigência de um posto como este é uma mais-valia fundamental.
A diversidade do seu percurso, essa inquietação ligada ao “ser português” no sentido de sermos um povo que busca a aventura e novos mundos, embora inerente ao seu cargo, depois das descobertas que já teve, os contactos com outras formas de sociedade, pessoas, etc., estar hoje num país como a Suíça, digamos, mais sofisticado, estruturado, sente todas essas diferenças.
Sinto, claro e muitas. O último posto foi em Cabo Verde que está quase no extremo. Tenho boas memórias sendo que era mais confortável e tinha um grau de exigência mais tranquilo, digamos. Passei por Londres, Eslovénia, entre outros, e agora terei de me adaptar. Tenho tido um apoio assinalável por parte do Sr. Embaixador, profundo conhecedor da Suíça, pela sua passagem por Genebra, e que será fundamental para que eu possa me adaptar o mais rapidamente possível.
Recentemente, houve um encontro online, denominado “Portugal Escuta”, promovido pelo Embaixador e que visa estabelecer uma maior interação entre as estruturas consulares e as associações portuguesas. Por ter participado, notou-se uma boa química, uma concertação positiva entre todos.
Totalmente. Fui o último elemento a entrar, mas todos estão muito empenhados, a embaixada e os consulados, os diversos serviços, de ensino e de assuntos económicos e comerciais, existe uma articulação muito positiva e proactiva que visa promover iniciativas no sentido de uma maior e melhor ligação entre todos. Foi daí que já nasceu a ideia de dar continuidade da colaboração com a Rádio Arremesso onde teremos a partir do mês de janeiro, um programa para esclarecer os atos e funções da estrutura consular e outros de interesse da comunidade. Foi por sugestão da Rádio Arremesso e o Sr. Embaixador quase não me deu tempo para pensar e sugeriu de avançarmos com o programa o que também me entusiasma. Far-me-ei acompanhar de outras pessoas com valências diversas, segurança social, ensino, etc., para conseguirmos abranger o mais que possível de temas de interesse geral. Promover, ouvir sugestões, críticas. Onde possamos igualmente ter conhecimento de alguns detalhes que nos possam escapar no dia a dia e que sejam importantes para um melhor desempenho para que todos sejamos ganhadores. Dou o exemplo do último ato eleitoral para o CCP, onde houve muitas pessoas que vieram de longe e não puderam votar porque estão recenseados noutros locais ou que tinham outros impedimentos. Com esclarecimento poderiam ter evitado o transtorno e podido retificar as suas situações. Nestes casos contamos com o Dr. Porfírio, um elemento conhecido da comunidade de uma capacidade extraordinária nesse e noutros assuntos.
Além de todas as ideias que lhe irão pela mente, seria bastante interessante procurar-se a colaboração das associações para ajudarem na missão de informar e esclarecer…
Obviamente que sim, as associações são uma base essencial para que seja possível obter uma interação proactiva e positiva. Pretendo que possamos criar algo que perdure, mas, para isso, é igualmente importante que as associações se cheguem à frente e se apresentem, se não conhecermos não conseguimos “descobrir” todas. Por isso, é um apelo a que se juntem à ideia de nos conectarmos eficientemente.
Para finalizar, e já praticamente em época natalícia, pedia-lhe que deixasse uma mensagem à nossa comunidade.
A minha mensagem é de agradecimento pela forma como fui recebida. Pela minha equipa, em primeiro lugar, à comunidade, à Rádio Arremesso que, desde que nos conhecemos, tem sido de um apoio muito importante e dizer a quem nos ouve que o consulado está aberto a todas as pessoas e que, por opção minha, todas as sugestões serão bem-vindas. Um bom Natal a todos de paz, um período de Festas Felizes e calmas, seja aqui ou em Portugal.