› Adélio Amaro
› Ígor Lopes
Há pouco mais de um ano, Júlio José de Oliveira Carranca Vilela assumiu funções como embaixador de Portugal na Suíça, um país que alberga milhares de portugueses que decidiram emigrar para encontrar uma nova forma de vida. Em entrevista ao Gazeta Lusófona, este diplomata ressaltou os trabalhos realizados neste período, explicou o que espera do futuro das relações entre Portugal e Suíça, sublinhou o papel da comunidade portuguesa no seio da sociedade nesse país de acolhimento e destacou as ações que promovem o diálogo com empresários locais e a importância do movimento associativo português.
Que balanço faz após este primeiro ano como Embaixador de Portugal na Suíça?
O balanço de uma missão iniciada com o propósito e motivação de desenvolver a relação bilateral de forma mais profunda e tão visível quanto possível.
Como tem sido a interação com a comunidade portuguesa?
Sóbria, motivadora e muito dialogante. A comunidade portuguesa na Suíça manifesta todos os dias a sua maturidade, compromisso e grau de integração com o país que a recebeu, mas continua indissociavelmente ligada à sua Pátria.
O movimento associativo continua a ser um grande pilar de promoção de Portugal no estrangeiro?
Certamente que sim ainda que a pandemia possa ter constrangido a vida de muitas associações que deixaram de poder usar o modelo normal de convívio e de promoção das suas atividades. Creio estarmos em 2023 num ano de redescoberta e renascimento, onde se procura retomar o percurso interrompido bruscamente em 2020.
No caso da Suíça, a aposta, como Embaixador, será no sentido de valorizar e apoiar as associações portuguesas na Suíça? O que tem sido feito nesse sentido?
Manteremos sempre todo o interesse no contacto com as associações e seus dirigentes. Estamos numa fase de aferição da real dimensão do movimento associativo na Suíça depois de dois anos e meio de paralisação de atividades. Procuraremos divulgar através da rede consular disponível no país, todos os mecanismos de apoio a que as associações podem recorrer para apoio às suas ações e projetos. Acompanharemos e participaremos nas suas iniciativas.
Além do movimento associativo, existem portugueses muito conceituados no mundo académico, cultural, social, assim como empresarial e nas áreas da ciência e ensino. Tem contactado com estes portugueses e de que forma têm colaborado para a dignificação de Portugal nos quadros médio e superior na Suíça?
Tenho mantido um contacto regular com muitos membros da nossa comunidade residente, independentemente da sua formação, idade, origem, credo e género. Todos são uma mais-valia para Portugal e para a Suíça, como me tenho apercebido quer nas visitas que efetuo às universidades, escolas, empresas ou associações, quer nos contactos que mantenho com as autoridades locais que muito os elogiam. Um português, uma portuguesa na Suíça são uma mais-valia nacional e um ativo cultural que enriquece a difusão da língua portuguesa.
O Ensino do português na Suíça tem revelado, cada vez mais, ser importante para a promoção da identidade portuguesa. Como vê o futuro da Língua Portuguesa e do Ensino do Português na Suíça?
Vejo-o com otimismo, consciente dos novos desafios que temos de enfrentar. As sete dezenas de professores e os cerca de sete mil alunos são uma garantia da presença assídua da nossa língua em casa de milhares de portugueses e também de cidadãos suíços, e o Estado continuará a apostar de forma muito evidente em toda a rede, no seu desenvolvimento e modernidade. Mas temos de ser capazes de continuar a captar mais alunos e sensibilizar encarregadas de educação, para a importância de o português continuar a ser falado e escrito pelos mais jovens, enquanto ativo fundamental para o seu crescimento humano e enriquecimento académico. A divulgação do acesso às universidades em Portugal, por parte dos jovens que terminam os seus estudos secundários na Suíça, continuará a ser de marcada e renovada importância, o mesmo indo suceder com o programa de digitalização do ensino do português que se aproxima, e que constituirá uma enorme oportunidade para sermos ainda mais a falar português neste país.
Que ações implementou, está a implementar ou pensar colocar em prática para a boa qualidade dos serviços consulares na Suíça?
Desde o início do ano passado que apostámos em inovar em termos de comunicação e informação. É essencial sermos percebidos e termos melhores taxas de adesão ao serviço público. Cremos ter conseguido passar melhor a mensagem de quem somos, o que fazemos, porque fazemos e como podemos ser mais úteis a todos os portugueses. A nova política de comunicação, com uma nova página na internet, novos conteúdos (de que o guia social e o guia consular são disso exemplos), bem como novos contactos nas redes sociais, são testemunhos de como se pode inovar sem se ser despesista. Continuaremos neste esforço e projetamos inovar mais até ao fim de 2023. Convido todos a estarem atentos.
Tem noção ou informação da reação das pessoas que procuram os postos consulares lusos na Suíça?
Todos os serviços consulares mantêm contacto regular diário com quem os visita e estão sensíveis às suas necessidade e reclamações. Em 2023, foram praticados mais de 90 mil atos consulares, o que diz bem da intensidade do serviço. As estruturas existentes responderam com profissionalismo aos desafios que lhes foram colocados. Temos boas e competentes equipas nos postos consulares. Devemos prezar a sua existência e serviço público que prestam.
Quais os serviços e informações que os portugueses mais procuram nos postos consulares e na Embaixada?
Em geral, o tratamento de pedidos de cartão de cidadão e passaportes são os de maior intensidade, logo seguidos pelos atos de registo civil (nomeadamente nascimentos e casamentos).
Quais são as sinergias criadas entre Portugal e Suíça que possibilitam uma maior ação diplomática e comercial entre os dois países?
Existe uma saudável relação económica e comercial que se tem desenvolvido de forma estruturada e sólida desde há vários anos, como bem o provam os mais recentes dados estatísticos. Portugal e Suíça devem continuar a explorar tal relação e manter a nível elevado o contacto político. A recente visita oficial à Suíça de S.Exa. o Presidente da Assembleia da República, assim o evidencia.
Como Embaixador, tem feito essa aproximação junto dos empresários portugueses?
Tenho mantido contactos regulares com empresários tanto portugueses como suíços e assim continuarei.
Como avalia a vida na Suíça nos dias de hoje?
A Suíça continua a ser uma sociedade de equilíbrios e compromissos, de oportunidades e desafios.