Sem deixar de começar por vos saudar a todos de forma calorosa e dirigir as primeiras palavras ao Sr. Professor António Cunha e a toda a sua equipa, por esta louvável iniciativa e trabalho implícito que soube coordenar e liderar, permitindo colocar em cena um relevante encontro da e para a Comunidade Portuguesa, que não esqueceu o indispensável envolvimento e mobilização das autoridades locais, depois de tudo o que já foi explanado esta manhã, cumpre-me, sobretudo, sinalizar aspetos que me parecem incontornáveis no quadro da temática em redor da qual discutimos, trocámos impressões e postulámos desafios para o futuro.
Uma Comunidade com mais de cinquenta anos de presença migratória consolidada na Suíça, deixou já marcas incontornáveis na sociedade local e na economia deste país, podendo e devendo, ambicionar ser mais presente e sentida na vida cívica e política local.
Assim o entendo desde logo pela dimensão da Comunidade Portuguesa: a 3ª mais numerosa Comunidade estrangeira depois da alemã e da italiana.
À data de 31/12/2020 (últimos dados oficiais suíços), residiam na Suíça 262 mil nacionais com particular incidência nos três Cantões dependentes de Genebra, que acomodavam 45% do seu total.
Nestes três Cantões, os portugueses representam 7% ou mais do total de residentes independentemente da sua nacionalidade.
A presença nacional em Cantões como Friburgo (7,7% da população), Neuchatel (7% da população) ou Valais (8,8% da população) são evidência clara do seu número mas, também, e por isso, do seu potencial no plano da afirmação linguística (sim, porque o português, como S.Exa. o SECP bem o afirmou nas declarações proferidas, é o 2.º idioma mais falado na Suíça depois do inglês e à margem das línguas oficiais).
Mas é também um sinal claro da afirmação empresarial (inúmeras empresas fundadas por portugueses atuam na Suíça com sucesso, possuem laços comerciais com Portugal mas, também, com países vizinhos da mais variada natureza e projetam-se como agentes vivos de inovação e crescimento económico local, apoiantes também de uma visão do Portugal moderno), a par da crescente presença cívica e política de cidadãos portugueses ou luso-descendentes junto dos municípios de Genebra, Fribourg, Lancy, Montreaux, Nyon, Thônex, Versoix, Vernier, mas também em Amriswil e Volketwil (estes últimos nos Cantões de Thurgau e Zurique).
E com uma Comunidade que aqui procurou novos horizontes para as vidas de cada um e suas famílias, com plena integração atingida (mais de 78% dos cidadãos nacionais, residem há mais de cinco anos na Suíça), importa reforçar e fortalecer Portugal, sendo-se genuíno na ligação à Pátria que muitos viu nascer, transmitindo aos mais jovens já aqui nascidos factos e símbolos de Portugal.
Isto é tanto ou mais relevante dado que 1/3 da Comunidade já nasceu na Suíça e temos cerca de 56 mil jovens com menos de 18 anos de idade neste País.
Igualmente, importante é o envolvimento tão ativo quanto possível, na vida municipal e política da Suíça (pois não se é menos português por se ter a nacionalidade suíça), facto que no quinquénio 2016/2020 e bem, foi já assumido e querido por perto de 16 mil compatriotas.
Pegando nas palavras que são o mote deste Fórum, ser-se português hoje na Suíça, é, seguramente:
- Falar português, transmitir aos mais novos essa nobre língua que hoje abraça mas de 260 milhões de falantes em todo o mundo, tirando-se o máximo partido de termos na Suíça uma importante rede de 75 docentes, representativos de um investimento anual de mais de 6 milhões de euros e o facto incontornavelmente conhecido que um jovem multilingue será, sempre, um ator interventivo da sociedade futura, com mais recursos ao seu alcance para ter sucesso profissional e social.
Daí o meu apelo a todos os pais para que inscrevam os vossos filhos nas aulas de português: hoje mesmo, sempre melhor que deixar para amanhã.
- Ser cidadão cumpridor dos seus deveres cívicos e ser agente vivo de participação na vida cívica e política locais. Participem na vida comunal, na vida escolar junto das instituições educativas, na vida pública afirmando também os vossos conhecidos valores de solidariedade que caracterizam o povo português.
Nas circunstâncias que todos vivemos desde o passado dia 24 de fevereiro, com a ocorrência de acontecimentos trágicos no continente europeu que, seguramente, todos julgamos serem memória de um passado de mais de 70 anos, mais do que nunca todos os cidadãos portugueses devem orgulhar-se do seu país que desde o primeiro momento por palavras e atos expressou a sua solidariedade e apoio à causa e luta do povo ucraniano, pela sua independência, pelo direito a decidir o seu próprio destino coletivo, pela integridade territorial do seu país e pela dignidade do Povo ucraniano e pelo respeito do Direito Internacional e dos Direitos Humanos.
- Afirmar Portugal de forma livre, mas moderna, numa Suíça diversa, fazendo valer os vossos direitos junto das entidades locais e das autoridades portuguesas e pedindo apoio sempre que necessário.
Para o Estado Português, são tão relevantes as necessidades da numerosa Comunidade portuguesa no Cantão de Vaud, como todos quanto vivem em Schaffhausen (678 residentes), Nidwalden (593) ou Appenzell Innerrhoden (235). Com portugueses em todos os Cantões, estaremos atentos a esta dispersão e diversidade geográfica, característica de um Pais onde cabem 26 Suíças diferentes.
- Ser partícipe na promoção e divulgação da nossa Cultura e História, acompanhando a ação do ensino junto dos mais jovens, mas também o trabalho universitário empreendido em Genebra e Zurique ou as ações culturais que Associações e outras entidades várias, possam e queiram organizar na Suíça.
- É ser cumpridor de obrigações cívicas, vigiar a sua identificação civil portuguesa, renovar os seus documentos com tempo e não fora do mesmo e tomar conhecimento das múltiplas inovações tecnológicas em curso no nosso país com impacto na vida do cidadão, que as pressente de maneira muito viva quando, indo a Portugal, toma conhecimento destas mas também do dinamismo das mudanças em curso.
- É explorar as potencialidades de investimento em Portugal, aproveitando as vantagens de medidas em curso destinadas a manter vivos os municípios do interior de Portugal e promover o crescimento sustentável de regiões e populações.
- É, finalmente, e assim se querendo e tendo-o como importante, unir esforços coordenados para almejarmos um 2.º Fórum, reforçando o diálogo entre outros agentes, com as autoridades locais, empresários, escolas profissionais, universidades, centros de investigação.
Ser-se português na Suíça, será, no futuro, tudo quanto a comunidade portuguesa quiser e souber construir, na base de esforço conjunto, solidariedade constante, sacrifícios coletivos e vontade firme.
Muito obrigado pela vossa atenção.
Júlio Vilela
Embaixador de Portugal em Berna