› Ígor Lopes
“Somos uma comunidade muito resiliente, que, com todas as dificuldades que a sociedade atual nos impõe, consegue levar em frete uma vida repartida em duas sociedades. Que cumpre com o dever laboral e social. Temos o hábito de ser ruidosos em algumas questões, mas, pouco participativos nas ações”.
É desta maneira que Domingos Augusto Ramalho Pereira, conselheiro das comunidades portuguesas na Suíça, avalia a comunidade portuguesa residente no país helvético. Aos 52 anos de idade, este responsável sublinha que a habitação e a estabilidade laboral são algumas das principais dificuldades desses portugueses.
“O caminho da regularização laboral e falta de controlo em diversas áreas está a abrir portas à exploração laboral. O oportunismo e o individualismo no seio da comunidade e na sociedade em geral. A euforia da digitalização dos serviços públicos não acompanha a literacia digital da comunidade. A falta de sentido reivindicativo, a renúncia ao dever cívico. E o afastamento da segunda e terceira gerações da aprendizagem da língua portuguesa, do associativismo tradicional, o que está a resultar na perda de identidade”, frisou Domingos Pereira, que foi eleito para as atuais funções em abril de 2016.
Este membro do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) na Suíça explica que ações e discussões têm conquistado mais espaço do ponto de vista do CCP nesse país.
“No decorrer desta legislatura foram várias as ações, dependendo sempre da conjuntura socioeconómica do momento, sendo, no entanto, o atendimento consular e o ensino das temáticas que mais assiduamente se debate porque existe um desconforto, uma interação mais ativa por parte da comunidade. De todas as matérias, existe uma que se destaca de todas as outras, foi e ainda é muito atual, devido ao imposto das mais-valias, a questão fiscal, em especial o acordo de troca de informação automática”, atestou este conselheiro, que defende o trabalho do CCP na Suíça.
“Como é do conhecimento geral, o trabalho dos conselheiros resume-se, por ser um órgão de consulta do Governo, da Assembleia da República e das Regiões Autónomas, com deveres de imitir pareceres, produzir informações e formular propostas sobre matérias relativas às comunidades portuguesas. Sendo assim, a comunidade tem em nós uma voz, um meio de comunicação para fazer chegar ao governo e outras instituições as suas preocupações, as suas propostas. Devo ainda frisar, que, o trabalho, o tempo que se dispõe para executar este trabalho, é voluntário e gratuito”, contou.
Sobre as eleições do CCP, marcadas para 26 de novembro deste ano, Domingos Pereira, que é motorista de pesados e técnico de controlo de qualidade de construção e manutenção na empresa ERZ Stadt Zürich, criticou a postura do governo português.
“Em cima do joelho. O Senhor Secretario de Estado das Comunidades Portuguesas apenas preocupou-se em cumprir os prazos mínimos que a lei permite. Não ponderou a conjuntura territorial e social que existe em muitos países, assim como o desconforto que a nova lei veio provocar na constituição de listas, como o aumento de conselheiros e a paridade de candidatos”, avançou.
Residente em Zurique e natural de Vieira do Minho, no Distrito de Braga, Domingos Augusto Ramalho Pereira confessa não ter intenções de se recandidatar ao posto, mas prefere “não fechar a porta”.
“Caso exista um conjunto de pessoas disposta a formar uma lista e que eu faça parte da mesma, pois, farei parte”, finalizou este conselheiro.