Clément Puippe
Claude-Alain Giroud, nasceu em 1948, é de nacionalidade suíça e desenvolveu uma atividade nos negócios internacionais. Gostou sempre de pintura e interessou-se por gravura há já 27 anos. Viveu quatro anos em Angola e, nas suas viagens, apaixonou-se por Lisboa, pela cultura portuguesa e pelos seus poetas. Comprou em Lisboa um livro de poesia numa edição bilingue francês/português e decidiu criar umas gravuras inspiradas nesses grandes poetas. Já editou um livro sobre o poema de Mário de Sá-Carneiro “Quase” e em breve irá sair um livro sobre um poema de Fernando Pessoa. São livros de arte, tiragens de poucos exemplares, resultado de um trabalho de quase um ano, livros preciosos de uma beleza rara.
Negócios internacionais e África
Claude-Alain Giroud recebeu-nos no seu atelier em Yverdon, no Village 48, dentro dos antigos prédios da fábrica Leclanché. Esta “aldeia” oferece também um espaço para vários artistas e artesãos, um sítio ideal para a criação artística.
Depois de uma carreira nos negócios internacionais, nomeadamente em África no ramo dos cereais, ele decidiu abrir este espaço consagrado a gravura em 2010 em Yverdon. Ele viveu também na Guiné-Conacri e em Angola. “As circunstâncias da vida decidiram a minha ida para o estrangeiro. No caso da Guiné, de facto, uma outra pessoa estava prevista para viajar e fui eu quem finalmente a substituiu. Estava interessado em trabalhar para uma firma que tinha escritórios nos quatros cantos do mundo”.
Aprendeu português em Angola, num período conturbado, mas nunca teve qualquer receio. “Nos anos 80, havia muito poucos europeus em Luanda, havia portugueses, claro, mas poucas empresas europeias. A maioria dos europeus que estiveram em Angola eram diplomatas. Durante este período, fiz também muitas pinturas de aguarela.”
Sempre interessado pela pintura ele formou-se na gravura em Lausanne em 1995.
Exposição de gravura em Portugal
Desenvolveu uma grande atividade artística no domínio da gravura em talho-doce desde 2010 e participou em inúmeras exposições na Suíça e no estrangeiro. As suas obras foram adquiridas por grandes museus e colecionadores.
Na ocasião das suas viagens para a África, ele fazia escala em Lisboa. Descobriu a cultura portuguesa, visitou várias vezes a Fundação Gulbenkian e apaixonou-se por esta cidade.
Teve a oportunidade de participar numa exposição em 2016 em Portugal – na 8ª Bienal Internacional de gravura do Douro, em Alijó.
Contactos com artistas portugueses e livros altamente preciosos
e únicos
Numa livraria em Lisboa, ele comprou um livro de poemas, numa edição bilingue e descobriu o poeta Mário de Sá-Carneiro. Então veio-lhe a ideia de fazer gravuras à volta do poema “Quase” há alguns anos. Existem só 8 exemplares desta obra. A gravura está no meio da folha e de cada lado são impressos os versos em francês e português.
“Tenho agora contactos em Portugal com gravadores. Existe, entre outros, uma associação em Lisboa, perto da Assembleia da República, a “Associação de Gravura Água-Forte”, pessoas muito simpáticas. No ano passado, reuniram todos os seus membros para ver o meu último livro sobre Mário de Sá-Carneiro.”
Claude-Alain Giroud está agora a trabalhar num livro consagrado a um poema de Fernando Pessoa, uma obra que irá ser concluída no fim do ano
No seu atelier de gravura, está também a dar cursos. Ele trabalha sobretudo o buril e a maneira negra*, uma técnica de talho-doce inventada no século XVII, e gosta da cor preta e das suas nuances.
“Eu adoro o preto”
– das trevas à luz
com a maneira negra
Este trabalho de gravura é moroso, pede uma paciência e uma precisão extraordinárias. Só reservado às pessoas apaixonadas e dedicadas. “Com o berceau, levantamos as farpas, fazemos buracos na placa, o material áspero foi levantado. Quando fazemos a tiragem depois, dá-nos este preto profundo e aveludado, típico da maneira negra”.
Afinal, ele parte de uma placa de cobre que seria completamente preta se não fizesse nada antes da tiragem. “Existe várias gradações de preto, é difícil de ver quantas, são todas uma série”. É um pouco o contrário do pintor ou do desenhador que tem uma página branca. Na gravura em maneira negra, ele tem uma página preta e deve chegar à luz. “Aqui ensino 21 técnicas de gravura em talho-doce e estas são apenas técnicas tradicionais. Existem também todas as técnicas assistidas por computador, mas que não me interessam”.
Contacto
para formação
em gravura e venda
de livros de artista:
Atelier Manière Noire, Av. de Grandson 48, 1400 Yverdon-les-Bains – 077 451 30 50