Dois jovens criaram a marca de roupa interior MOONA para o conforto das mulheres menstruadas numa vertente bioética e com fabricação eco-responsável em Portugal. Competência, complementaridade e dinamismo de dois empresários simpatiquíssimos.
Encontro no norte da Suíça, em Bassecourt no Jura, com os jovens de 23 anos, Alexandra Déboeuf, natural do cantão do Jura e Florent De Sousa (nascido na Suíça e com pais naturais de Gondomar).
Ter 23 anos e já ter a sua marca própria num mercado inovativo e conseguir tratar do conjunto das operações dum projeto ambicioso com preocupações bioéticas, é a proeza desses jovens apaixonados, um pelo outro, e por um projeto de cuecas menstruais reutilizáveis sob a marca MOONA. Eles efetuam sozinhos todo o processo de criação, de design, de marketing e de vendas. Já houve uma operação muito bem sucedida de pré-encomendas que ultrapassou todas as expetativas desses jovens: no fim de agosto quase 4500 peças pré-encomendadas foram distribuídas aos seus diferentes clientes.
Complementaridade exemplar no trabalho… e na vida
Conheceram-se num campo de esqui e partilham os mesmos interesses e a mesma energia. Falaram de concerto: “Somos ambos bastante desportistas. Desde o início procurámos trabalhar juntos. Primeiro, tentámos desenvolver projetos no desporto, pequenos vídeos online por exemplo. Temos interesses em comum e somos complementares em diferentes aspetos, em particular comunicamos muito entre nós.”
“Trabalhar junto pode tanto construir como destruir um casal, depende da maneira de encarar as coisas. Ficamos rapidamente submersos, dia e noite, em todo lado, falávamos do projeto e tivemos que nos disciplinar a pensar também noutras coisas, senão a situação ia tornar-se tóxica” acrescenta Florent.
Portugal foi uma evidência para fabricar o produto – mas foi também uma aventura
“Sabíamos que na Suíça era complicado e mesmo impossível de fabricar o nosso produto. Não há aqui uma tradição de produção de têxteis. Existe uma pequena fábrica no Tessin, mas a especialização é a lingerie de luxo e queríamos um produto acessível para a nossa clientela. Somos apaixonados por Portugal. Eu desde miúdo, confirma Florent, vou todos os anos de férias para Portugal. O ano que eu não vou, fico triste. Os meus pais são naturais de Gondomar. Pensámos também na hipótese de fabricar em França, mas tivemos uma preferência por Portugal.”
Portugal foi durante muitos anos um berço da fabricação de têxteis. Houve uma grande crise estrutural deste setor que retomou uma certa atividade por volta do ano 2010.
“Em Portugal, não tivemos grandes apoios e conseguimos tratar de quase tudo sozinhos. Tínhamos tudo combinado para visitar uma empresa em Portugal e dois dias antes a empresa anulou o nosso encontro. Voltámos ao princípio. Achámos que isso não era grave, não cancelamos a viagem e os dois primeiros dias passámos horas a procurar na Net as fábricas têxteis. Com o meu português bastante enferrujado, entrei em contacto com essas firmas. Vi que as empresas adoraram o facto de eu tentar falar português. Isso ajudou bastante. Alexandra começou primeiro a efetuar chamadas em inglês, mas não obteve o mesmo atendimento.”, menciona Florent.
“Entrámos em contacto com uma centena de fábricas, conseguimos doze visitas e uma dessas fábricas concordou com as nossas exigências e especificações técnicas e também com o respeito das condições de trabalho, uma produção ética e responsável com a utilização de tecidos ecológicos.”
4 modelos originais
“Temos 4 modelos em algodão bio, com um tecido técnico na parte interior para absorver, o Tencel que é uma fibra de eucalipto, e uma parte waterproof para evitar fugas. Todos os nossos tecidos são certificados OEKO-TEX® que garante a ausência de produtos tóxicos para o corpo e a saúde.”
A nossa mensagem
aos outros jovens
Florent queria deixar uma mensagem a todos os jovens: “Tudo é possível, mesmo com poucos meios, se nós tivermos o gosto e a paixão. Venho da micromecânica, a Alexandra estudou desporto na Universidade e trabalhou num jornal, onde fez um estágio, o que agora lhe serve de muito.
Temos capacidade de base que nos ajudaram imenso. Eu trabalhei como mecânico de precisão, mas não estava a gostar, comecei a realizar vídeos e fotografia. Tive rapidamente uns projetos nalgumas discotecas, desenvolvia isso como paixão, mas não era bem um trabalho, e houve um certo seguimento ao nível do design e do marketing. São elementos importantes para lançar uma marca digital, o packaging, o trabalho com Illustrator, shooting fotos e vídeos. Juntos pudemos criar algo.”
Alexandra gostava muito dos seus estudos, em desporto, mas quando chegou no fim viu que não lhe trouxe o que ela queria, “não encontrava sentido no que eu fazia e tínhamos esta ideia de empreendedores. E achava interessante poder ajudar as mulheres menstruadas. Tive sempre a vontade de criar um projeto com todas as diferentes etapas.”
Quebrar tabus
Alexandra concluiu a entrevista: “Este projeto fazia sentido e Florent estava mesmo muito motivado. Há um problema ecológico e é importante atuar a esse nível. Temos também vontade de abordar a problemática da menstruação com os homens: um assunto bastante fechado para eles, que eles desconhecem em geral e que provoca um pouco de medo. O nosso lema: quebrar tabus e que as mulheres e os homens se sintam mais à vontade com isso e que ficam também mais informados.”
Internet: www.moona-underwear.ch
Clément Puippe