› Ígor Lopes
“As Comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo são fontes de vantagem comparativa para as empresas portuguesas: consomem produtos portugueses, são fontes de recursos humanos e deram origem a classes empresariais bem-sucedidas. Por essa razão, é do interesse de Portugal que as suas Comunidades Portuguesas conservem o seu principal trunfo: as dimensões bilingue e bicultural”.
É com esta afirmação que o Conselho Regional das Comunidades Portuguesas na Europa (CRCPE) aborda, em formato de conclusão, “o contributo e o potencial económico das Comunidades Portuguesas”, num documento que foi disponibilizado ao público e às autoridades portuguesas em abril de 2021.
Neste documento, ao qual a nossa reportagem teve acesso, esta entidade avalia que “Portugal deve participar na manutenção das ligações com a língua, a cultura e a sociedade portuguesa junto da Diáspora, sob pena de perder esse trunfo que viabiliza o desenvolvimento de relações económicas entre Portugal e os países onde estão estabelecidos os portugueses residentes no estrangeiro. Para o efeito, o desenvolvimento da rede de cursos de português dirigido às Comunidades Portuguesas parece ser a pista mais evidente a seguir. Tal rede de ensino foi mantida com alguma consistência entre 1970 e 2010. Todavia, tanto a crise económica de 2008 (que levou à implementação de uma propina) como a adoção de políticas que priorizaram o ensino de português como língua estrangeira, a partir da década de 2010, tiveram um impacto considerável na rede oficial do ensino de português no estrangeiro (EPE), quando dirigida a um público português e luso-descendente”.
O CRCPE, presidido por Pedro Rupio, explicou que, “neste documento, também foi abordada a problemática das imagens recíprocas entre portugueses “de cá e de lá”, essencialmente alimentadas por preconceitos”, o que, segundo este estudo, “impede ou poderá impedir o estabelecimento de relações entre ambas as partes, no domínio económico e não só”.
Em relação à imagem que a sociedade portuguesa tem dos emigrantes, pode-se ler que “convém divulgar o novo rosto das Comunidades Portuguesas e o papel que desenvolvem atualmente nos setores económico, cultural ou ainda político. Nesse aspeto, uma pista de solução poderia ser a inclusão da RTPI na plataforma gratuita da televisão digital terrestre. Mas a melhoria das imagens recíprocas também passa por uma melhor relação entre a Diáspora e o Estado português. Com que legitimidade o Estado pode pedir às Comunidades Portuguesas uma maior cooperação se estes últimos nutrem relações tensas com a figura do Estado por causa dos cortes orçamentais que se verificaram nos últimos 10 anos na rede consular e na rede oficial do EPE? Embora se tenham verificadas melhorias nesse aspeto (a implementação do recenseamento automático no estrangeiro ou a celebração do 10 de junho junto da Diáspora nos últimos anos), são muitos os assuntos em que o país deverá se debruçar para poder se reencontrar com a sua Diáspora de forma a potenciar cooperações em domínios chave e assim reforçar o soft power nacional através da sua “rede multinacional portuguesa””.
“Finalmente, fica o registo da dificuldade em encontrar dados sobre o contributo económico dos portugueses residentes no estrangeiro em setores como o turismo e o imobiliário, ou ainda no plano fiscal. Sobre este aspeto, urge o Governo promover, na parte que lhe toca diretamente39, as medidas necessárias para ultrapassar os entraves referidos”, finalizou este documento.