› Adélio Amaro
O 1.° Fórum Português da Suíça que se realizará no dia 22 de maio 2022, domingo, na Sala de Espetáculos de Renens, entre as 9:15 e as 18 horas, organizado pela Federação das Associações Portuguesas na Suíça (FAPS), conta com o apoio institucional da Embaixada de Portugal em Berna, do Município de Renens e do jornal Gazeta Lusófona, assim como de diversos patrocinadores, e terá como mote “O que é ser português/portuguesa na Suíça de hoje?”
Este evento, que contará com a presença do Gazeta Lusófona e colaboração na moderação do mesmo, será uma grande oportunidade para os portugueses residentes na Suíça refletirem sobre a sua importância naquele país helvético, tanto no aspeto social, como cultural, associativo e económico.
O programa é rico e durante todo o dia é possível partilhar ideias, experiência e lançar desafios. Este Fórum pretende ser um espaço de diálogo entre os portugueses residente na Suíça, a sociedade de acolhimento e os órgãos do estado Português, assim como uma rede de competências diversas ao serviço das instituições e dos meios de comunicação social e ser uma estrutura aberta à diversidade de opinião, elo entre os diversos atores da comunidade portuguesa.
Tanto de manhã como de tarde as entradas são livres. Contudo, a inscrição é obrigatória para a parte da manhã através do e-mail fps.pt.ch@gmail.com ou telefone (+41) 76 425 62 50.
Assim, após a receção dos participantes, a abertura será da responsabilidade de António Cunha, da FAPS, pelas 9h30.
Às 9h45 terá início a conferência “Quem fomos? Quem somos? Quem queremos ser” da responsabilidade de Nazaré Torrão, professora na Universidade de Genebra.
Os ateliers participativos com a temática “O que é ser português na Suíça hoje” terão início às 10h30 com os temas Família, Juventude, Envelhecimento, Cultura e Emprego. Por volta das 12 horas será feita a síntese dos ateliers.
A manhã terminará, pelas 12h15, com as intervenções do embaixador de Portugal na Suíça, Júlio Vilela, do presidente da Comuna de Renens, Jean-François Clément e Maria de Lurdes Gonçalves, coordenadora do Ensino Português.
Após o almoço, a tarde será cultural e recreativa. Assim, a partir das 14h30, o programa será o seguinte: Diana Gil (voz) e Gonçalo Vitorino (guitarra); “Vista para o mar”, Jovens dos Cursos de Língua e Cultura Portuguesas (Prof.ª Paula Santos); Fado com Salomé Oliveira (voz), Paco da Silva e Nuno Tomás (guitarras); “A Saudade”, Jovens dos Cursos de Língua e Cultura Portuguesas (Prof.ª Carla Azevedo); Hip Hop com Dany da Silva e Black Diamond’s; Leitura de José saramago, Jovens dos Cursos de Língua e Cultura Portuguesas (Prof.ª Cindy Santos; Concertinas portuguesas “Os verdadeiros amigos” e “O que é ser português”, vídeo e apresentação dos Jovens dos Cursos de Língua e Cultura Portuguesas.
Durante o evento, cujo encerramento está previsto para as 17h15, estarão patentes exposições com trabalhos dos jovens dos Cursos de Língua e Cultura Portuguesas de Conthey, Martigny, Monthey e Visp, com a coordenação da professora Amélia Pessoa.
A Comissão organizadora
Para Ana Caldeira Tognola (Fribourg), Diretora da Biblioteca Intercultural, LivrEchange, António Cunha, (Renens), aposentado, e Filomena Rodrigues (Bussigny), Secretária de Contabilidade, o presente Fórum surge da constatação de “que tanto a população portuguesa como o associativismo português na Suíça se alteraram e diversificaram ao longo das últimas décadas. Verifica-se que o modelo da Federação das Associações Portuguesas de Suíça (FAPS), como estrutura formal criada em finais dos anos 1980 para facilitar a coordenação entre as associações existentes em diferentes pontos do país, bem como para agilizar a interlocução com diversas instituições da sociedade suíça, se encontra esgotado no contexto atual. O funcionamento de uma estrutura de articulação precisa, portanto, de ser repensado. Para tal, importa criar condições para um debate alargado que reúna um conjunto diversificado de pessoas e organizações das comunidades portuguesas na Suíça, no qual possam ser abordados desafios atuais e perspectivas futuras”.
Na opinião destes três elementos da comissão organizadora, o “Fórum Português na Suíça” pretende ser:
– um espaço de encontro e diálogo onde se possam debater as questões relativas à relação entre os emigrantes a sociedade de acolhimento e o Estado português face a um processo de integração que parece ser cada vez mais absorvente;
– uma rede de competências diversas que possam assegurar a função de centro de recursos, nomeadamente quando pessoas, instituições ou meios de comunicação procuram um/a interlocutor/a de origem portuguesa;
– uma estrutura de coordenação, informal e ágil, aberta à diversidade de opinião, que desempenhe o papel de elo de ligação entre diferentes atores da comunidade portuguesa, mas que permita também capitalizar a disponibilidade de cada um.
Também Sílvia Sá (Lausanne), coordenadora de formações superiores na HEP Vaud e doutoranda e membro da Entrelaçar e Alexandre Gouveia (Lausanne), médico de família na Unisanté, co-fundador e membro da LusoSanté, fazem parte da organização do Fórum e acreditam que este será uma “voz proactiva e transversal que venha da comunidade portuguesa e de diversos sectores profissionais. Julgamos que com uma abordagem mais centrada nas pessoas permitirá ultrapassar algumas dificuldades por vezes existentes no contacto da nossa comunidade com as estruturas formais de apoio. Através do Fórum, cada um poderá contribuir com a sua opinião ou experiência, de forma livre e pontual. Julgamos que será através de uma forte mobilização e de uma alargada rede de contactos que conseguiremos apresentar soluções realistas e poder orientar as pessoas aos serviços e estruturas que ajudarão a resolver os eventuais problemas existentes. A própria comissão organizadora do Fórum é um exemplo concreto dessa abrangência e complementaridade, ao ser constituída por pessoas com experiências muito diversas, quer profissionais quer associativas”.
Outros dois elementos da comissão organizadora são Ana Paula Farinha Zehri (Vaud), presidente da “Entrelaçar”, associação de apoio às pessoas lusófonas na sua integração no Cantão de Vaud e Liliana Azevedo (Lisboa), bolseira de doutoramento e estuda a transição para a reforma de emigrantes portugueses na Suíça.
Quando nos referimos aos portugueses que residem fora do país, existe uma tendência para os identificar como comunidade portuguesa. Contudo, a mesma comunidade apresenta uma pluralidade que pode variar, por exemplo, devido ao facto de novas gerações terem nascido na Suíça.
Conversando com ambas, fizeram-nos um balanço sobre a população portuguesa residente na Suíça que “é hoje bastante mais diversa do que pelo passado. Apesar de ter havido trabalhadores e exilados portugueses já na década de 1960, é somente na década de 1980 que a emigração portuguesa para a Suíça ganha dimensão. A Suíça precisava de mão-de-obra pouco qualificada e o contexto político económico e social português era favorável a que milhares de portugueses com baixa escolaridade preenchessem os postos de trabalho disponíveis na agricultura, na construção e na hotelaria-restauração, principais setores empregadores de trabalhadores sazonais, como eram conhecidos. Com o virar do século e as alterações decorrentes do Acordo de Livre Circulação entre a Suíça e a União Europeia, por um lado, mas também com o desenvolvimento de Portugal em termos de educação e formação, foram chegando à Suíça pessoas com perfis e ambições diferentes. Apesar de uma ampla maioria de portugueses/as que emigraram para a Suíça nos últimos anos continuar a ter apenas a escolaridade obrigatória (que foi alargada ao 12.º em 2009!), são cada vez mais aqueles/as que chegam com uma formação profissional ou superior e a dominar o inglês, e por vezes o francês. Assim, em 40 anos, o perfil dos e das emigrantes de primeira-geração foi-se diversificando. Por outro lado, há várias segundas-gerações: pessoas que hoje terão entre 40 e 60 anos, que nasceram em Portugal e vieram para a Suíça em criança, sem papéis; crianças e jovens que nasceram em Portugal e chegaram nos últimos 10-15 anos; crianças, jovens e adultos nascidos na Suíça, muitos dos quais têm dupla nacionalidade. Há também uma terceira geração, alguns já a chegar à idade adulta, que eventualmente nem terão a nacionalidade portuguesa e pouco entendem de português, em particular são fruto de casamentos mistos. O que não quer dizer que não tenham uma ligação afetiva com o país e a família alargada, nomeadamente em época de férias.
Posto isto, o termo “comunidade portuguesa” não é o mais adequado hoje em dia, dada a pouca homogeneidade da população com origens portuguesas. No entanto, poderá usar-se o termo “comunidade” se for tomado no sentido de “interesses comuns”. Mesmo no caso de uma pessoa de terceira geração, nascida numa família multicultural, que não fala a língua nem nunca esteve em Portugal, existe, mais cedo ou mais tarde, uma ligação com Portugal, mesmo que seja apenas a nível administrativo, por várias razões: por exemplo, pode beneficiar de um passaporte europeu, ou uma herança de um parente distante devido ao facto de o povo português ser predominantemente proprietário das suas casas. Uma última nota sobre este tópico, para salientar que a composição da comissão organizadora do Fórum reflete esta heterogeneidade: é composta por pessoas com perfis muito diversos, que se sentem ligadas a Portugal e à Suíça de distintas formas, mas ao mesmo tempo partilham interesses comuns, bem como dilemas semelhantes em vários aspetos”.
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