› Adélio Amaro
Rui Lopes, natural da freguesia de Escapães, Santa Maria da Feira, foi considerado pelo “The New York Times” como um fagotista extremamente dotado.
Iniciou a sua formação em fagote com 18 anos e após estudar na Escola Superior de Música do Porto partiu para Basileia, onde prosseguiu os estudos, aos 24 anos. Depois de chegar à Suíça trabalhou com Orquestras em diversos países.
O seu temperamento musical e virtuosismo, rapidamente reconhecidos, levou-o a procurar mais conhecimento em Munique, Alemanha, tendo regressado, posteriormente, ao país helvético.
Fez a sua estreia no Carnegie Hall, em Nova Iorque, em 2015, e o seu gosto pela música surgiu por volta dos 14 anos quando escutava música em casa dos tios e aproveitava para passar os vinis para cassetes com o intuito de escutar em casa no seu simples rádio que tinha no quarto. Aos 17 anos, o fascínio pela música começou a ampliar quando teve a oportunidade de escutar e ver, presencialmente, a Orquestra Gulbenkian em Santa Maria da Feira. A experiência foi mais dilatada, Rui Lopes teve ensejo, após o concerto, de falar com os músicos e ficar, ainda mais, fascinado pela música e o lado “boémio dos músicos, pelas viagens que fazem, entre outros aspetos”, como referiu ao Gazeta Lusófona.
Pouco tempo depois, falou com alguns colegas para poder experimentar alguns instrumentos, como oboé e clarinete. Recusou tocar flauta porque “a minha irmã já tocava e muito bem”, segredou Rui Lopes. Surgiu o gosto pelo fagote após uma colega lhe apresentar um professor “que era muito bom. Fui ter uma aula como ele. Desde aí, então, com 18 anos, em vez de ir estudar arquitetura, tenho-me dedicado ao fagote”, acrescentou.
Com dupla nacionalidade, portuguesa e suíça, Rui Lopes foi laureado em vários concursos, entre os quais com o 1.º Prémio no Concurso de Interpretação do Estoril 2008. Participou em diversos festivais, como os de Schleswig-Holstein, Martinu, Davos, Lucerna, SoNoRo, Oficina de Música de Curitiba e Stellenbosch e apresentou-se como solista com a Orquestra Sinfónica Portuguesa, a Orquestra da Ópera Nacional Finlandesa, a Orquestra Sinfónica de Zurique, a Orquestra Sinfónica de Basileia, a Orquestra de Câmara Checa e a Orquestra de Câmara Kremlin, entre outras.
Tocou como 1.º Fagote na Orquestra de Paris, na Camerata de Berna, na Orquestra de Câmara de Zurique, na Orquestra de Câmara de Basileia, entre outras, trabalhando com músicos como Maurizio Pollini, Christoph Eschenbach, Bernard Haitink, Esa-Pekka Salonen e Pierre Boulez.
Foi 1.º Fagote Solo da Ópera Nacional Finlandesa, Fagote Solista do Ensemble Nacional Espanhol de Música Contemporânea em Madrid e, posteriormente, professor de Fagote e Música de Câmara na Universidade de Aveiro, na Academia Nacional Superior de Orquestra e no Conservatório do Luxemburgo.
Rui Lopes é membro dos grupos Camerata Variabile Basel, Trio Estoril, Mythen Ensemble, Portuguese Chamber Soloists, e apresenta-se regularmente com músicos como Konstantin Lifschitz, Patricia Kopatchinskaja, Teodoro Anzellotti, Nabil Shehata, Sebastian Manz, Ramon Ortega, Nicholas Daniel e Loïc Schneider.
É um apaixonado pela música contemporânea e colabora com compositores como Sir Harrison Birtwistle, Dieter Ammann, Wynton Marsalis, Helena Winkelman, Marcelo Nisinman e já estreou várias obras a si dedicadas.
Apresentou um CD a solo, “Through Time”, onde toca como solista com a Orquestra de Câmara Inglesa, tendo sido grandemente elogiado pela crítica.
Já com uma carreira fascinante e de enorme reconhecimento, tem como objetivo, a curto prazo, continuar a promoção do seu mais recente CD, “Close Encounters”, que acabou de ser lançado em colaboração com o Quarteto Gringolts, tendo sido recebido com grande entusiasmo pelos especialistas. A sua capacidade técnica e a expressão musical de Rui Lopes, neste trabalho, levaram-no a ser distinguido com o prémio “Supersonic”.
Sendo professor na Escola Superior de Música de Estrasburgo, tem outro objetivo a curto e médio prazo. Isto é, pretende que os seus alunos consigam integrar boas Orquestras ou Escolas de Música.
Além de toda esta dinâmica, Rui Lopes deseja continuar as suas digressões, mas o seu grande sonho é “continuar a gostar tanto da música ao ponto de me dar força para estudar todos os dias e ter um nível alto. Muitas vezes as pessoas esquecem o nível de preparação e a quantidade de horas diárias, quase sempre sete dias por semana, para se chegar a um nível alto e depois mantê-lo”, desabafou ao Gazeta Lusófona.
Todavia, tem, ainda, o sonho de a “música clássica conseguir atingir públicos mais jovens e continuar a conseguir ter salas cheias, porque o público tem vindo a envelhecer e o fenómeno das plataformas digitais, por vezes, afastam alguns jovens dos concertos e das salas extraordinárias que temos o privilégio de tocar”.
Comparando as oportunidades que existem na Suíça e em Portugal, Rui Lopes entende que a “Suíça, além de ter uma situação económica muito superior a Portugal, é um país que tem uma tradição musical muito mais intensa e é um país que está situado no meio de outros países de forte tradição musical como a Alemanha, a Áustria, a França e a Itália”, reconhecendo que se vivesse em Portugal “não tinha hipótese de ter o percurso musical que tenho vindo a ter”, acrescentando que “a música clássica precisa de bastantes apoios e estar num meio onde existe mais interesse, mais pessoas a assistirem aos concertos, assim como patrocinadores e mecenas interessados em investir na organização de espetáculos”, elogiando, no entanto, os excelentes projetos e músicos, “de enorme qualidade”, que existem em Portugal, “um país que tanto gosto”, afirmou Rui Lopes.