Basil da Cunha nasceu em Morges, Suíça, filho de pai português e mãe suíça. Viveu em Lausanne e, atualmente, está em Portugal a filmar, onde tem por hábito passar as férias. Contudo, mantém sempre a sua ligação com a Suíça onde ensina na Haute école d’art et de design (HEAD), em Genebra.
Basil da Cunha realizou uma série de curtas-metragens, antes de se juntar à “Thera Production”, em 2008, com quem realizou “A Côté”, (Festival de Locarno 2009 e no Grande Prémio no Festival de Vila do Conde).
Em 2009 mudou-se para o bairro da Reboleira, nos arredores de Lisboa, onde, entre 2011 e 2012, realizou “Nuvem” e “Os vivos também choram”, ambos selecionados para a “Quinzena dos Realizadores”.
Mesmo a produzir continuou a aposta na sua formação. Assim, em 2012, completou um curso de formação em cinema na HEAD, em Genebra, com a sua primeira longa-metragem “Até ver a Luz”, também selecionada para a “Quinzena dos Realizadores”, em 2013. Neste ano, até então, tem dado aulas na HEAD.
Realizou “Nuvem Negra” (“Biennale d’art contemporain de Genève 2014” e prémio em Oberhausen) e em 2017 rodou a sua segunda longa-metragem – “O Fim do Mundo” – selecionada para a competição de Locarno, em 2019. Em 2022 assinou o primeiro episódio da série documental “Futura!” e no ano seguinte apresentou “2720” (“Festival Visions du réel” e Grande Prémio Oberhausen). Nesse mesmo ano, deu a conhecer “Manga d’Terra” na competição internacional de Locarno. Atualmente está a preparar a sua próxima longa-metragem – “O Jacaré”…
“Manga d’terra”
“Manga d’Terra” é o mais recente filme de Basil da Cunha. Foi selecionado e teve a sua estreia no Festival Internacional de Locarno, na Suíça. Esta película retrata a vida de Rosa (20 anos), que após a morte do marido deixou Cabo Verde e foi viver para a Reboleira, Lisboa. Foi trabalhar para um pequeno restaurante onde os habitantes locais passam grande parte do dia, tendo como proprietária Nunha, 45 anos e matriarca local.
Um filme de imensa força que dá voz a uma realidade que se passa ainda nos dias de hoje. Basil da Cunha explicou que “aprisionada entre o assédio dos líderes locais e a violência policial quotidiana, Rosa sabe que tem de manter a calma, pois tem uma missão: enviar dinheiro para os seus dois filhos. Para seu consolo, canta à noite sobre a sua desgraça”.
Com o passar do tempo, a sua relação com Nunha deteriora-se e vê-se
sem casa. Desta forma, procura conforto entre as mulheres da comunidade, mas cada encontro traz consigo uma série de contratempos. Basil acrescenta que “Rosa vagueia pelo bairro em busca de salvação, usando a música como escape. É uma música que conta uma história que as imagens não conseguem necessariamente contar”.
Basil da Cunha explicou-nos que na origem deste projeto “esteve a necessidade de fixar as imagens do bairro da Reboleira, na memória coletiva. A destruição deste lugar, onde tenho vivido e filmado nos últimos quinze anos, tem acelerado”, acrescentando que nas ruas da Reboleira “a música ressoa a cada esquina. Nos anos 90, muitos dos pioneiros do funk cabo-verdiano mudaram-se para cá e nunca mais saíram. Estes sons acompanham-me há vários anos e antes que desapareçam nos escombros deste bairro em transformação, senti que era o meu dever recordar, «arquivar» e associá-los aos seus habitantes através do cinema”.
A forma como tudo começou e que deu vida a este projeto, segundo Basil da Cunha, começou “com um bairro, as suas mulheres e a sua música. Durante a preparação deste filme, conheci uma jovem cantora de talento puro, Eliana Rosa. Comovido pela sua voz, carisma e presença em palco, o seu lugar no meu projeto musical tornou-se evidente”. Foi através desta cantora que o realizador descobriu muitos artistas, “particularmente uma nova geração de músicos talentosos, que tiveram a audácia de propor um trabalho que misturava funk, rock, jazz e música tradicional cabo-verdiana. Inspirado pelas várias trajetórias das personagens femininas presentes nas canções de Eliana, imaginei uma narrativa em torno de uma personagem central – Rosinha – uma jovem mestiça que vem de uma pequena ilha e chega a França continental”.
Para Basil, cada canção de Eliana “é um testemunho contado do ponto de vista de uma jovem afro-americana que imigra para a Europa. Tal como as personagens retratadas nas suas canções. Eliana vive esta realidade diariamente. Ela sofre com a forma como os homens a olham e tem poucas razões para esperar outro destino, que não seja o que este mundo oferece a quem tem a sua cor de pele”.
“Manga d’Terra” tem Basil da Cunha como escritor, realizador, produtor executivo e editor.
Os protagonistas são Eliana Rosa, Nunha Gomes, Evandro Pereira, Nuno Baessa, Lucinda Brito, Vera Semedo, Isabel Lopes, João Filipe, José Brasão e Gä.
A produção é da responsabilidade de Nicolas Wadimoff e Palmyre Badinier e tem como coprodutores Basil da Cunha, Rui Xavier e João Nunes. A coordenação da produção é da responsabilidade de Annick Bouissou. Patrick Tresch é o diretor de fotografia e Adrien Kessler é o responsável do design de som, edição e mistrura. Os responsáveis de som são Ricardo Leal e Francisco Veloso. A música conta com Eliana Rosa, Henrique Silva e Luis Firmino.
“Manga d’Terra” é uma produção da Akka Films com coprodução de Basil da Cunha e “Continue Walking”.
Adélio Amaro