A Associação Ul Murín da Curzönas, com sede em Corzoneso, uma vila e antigo município do cantão de Ticino, foi fundada em janeiro de 2015 com o objetivo de “promover o conhecimento e a conservação do património histórico-etnográfico de Corzoneso e arredores, contribuindo para o desenvolvimento turístico de todo o vale Blenio, combinando cultura, paisagem e passeios saudáveis”. No final de maio, muitos cidadãos portugueses residentes nesta localidade assistiram à inauguração das obras de restauro do antigo moinho de Corzoneso, “que utiliza a água da ribeira de mesmo nome para a moagem de milho e centeio e que é o principal projeto desta Associação”.
“Uma vez concluído este projeto, será dada prioridade à futura gestão da fábrica para fins de demonstração educativa. A reforma do moinho faz parte de um projeto maior gerido pela Associação denominado “4 PASS VISÍN A R’ACQUA”, que inclui a criação de um percurso temático ligada à água, a construção de um novo lavadouro para substituir um antigo edifício já presente no século XVII e a instalação de um antigo chafariz”, confirmaram os responsáveis pela Associação, que sublinharam que “o percurso temático ligado à água, com a ajuda de cartazes temáticos, permitirá ao visitante, no moinho e no lavadouro, paragens interessantes para o conhecimento das infraestruturas ligadas à vida de todos os dias dos habitantes da aldeia, tais como: a central microelétrica de Scaradra e a sua tomada de água, o museu fotográfico Donetta na casa Rotonda di Casserio, várias capelas votivas de valor artístico considerável, castanheiros e o tanque de limpeza de ovelhas”.
A portuguesa Josi Pereira Giardelli, que vive próximo a essa zona há muitos anos, presenciou a inauguração do moinho e se mostrou emocionada ao recordar as suas origens em Portugal.
“Não poderia deixar de parabenizar todas as pessoas que se esforçaram por esse resultado admirável. Muito bom. Um dia maravilhoso ficou no meu coração, lembrando da minha infância, com o moinho do meu pai no distrito de Viseu”, enfatizou Josi Pereira Giardelli.
Sobre o moinho Corzoneso
Não há provas seguras, mas com base num texto notarial, consulado pela Associação, é provável que já em 1311 houvesse uma fábrica na área de Corzoneso. Certos dados, por outro lado, são obtidos de tempos historicamente mais recentes. O prédio do moinho foi registado no registo predial da fábrica de 15 de agosto de 1895 e Bozzini Carlo (1839-1924) era o seu proprietário. Do registo predial fica claro que havia outros moinhos entre Corzoneso e Leontica.
Sabe-se também que o moinho funcionou até ao início do século XX e que foi utilizado mais para o efeito de moer centeio, mas também trigo, milho, castanhas e moagem. Testemunhos orais também são prova disso, dois dos quais devidamente gravados por Mario Vicari, preservado no Centro de Dialetologia e Etnografia de Bellinzona.
Financiamento
das obras
As obras geridas pela Associação ligada ao moinho e o percurso temático ligado à água têm um custo estimado de aproximadamente CHF 500.000. Além do apoio financeiro, a Associação pôde contar com 300 sócios-apoiadores, “importantes ajudas de entidades públicas, fundações e particulares e com a contribuição direta de associações e empresas operando na área de construção”.
“Sem isso, o nosso projeto não poderia ser concluído. Além disso, a Associação, ao promover eventos, festivais nacionais e ações direcionadas, contribui diretamente para o financiamento das obras de construção do moinho, lavadouro, tomada de água e canal. A conceção destas obras, excluindo o lavadouro, foi confiada ao arquiteto Thomas Meyer de Chiasso, que tem uma vasta experiência na área de moinhos”, destacou a Associação, que recordou também que “o projeto da lavanderia do município de Acquarossa foi concebido e construído no Comité de Associação tendo como base as formas e dimensões do lavatório de Cumiasca. A reconstrução do moinho em ruínas (2017-2018), de parte do canal a céu aberto que conduz a água do moinho e do lavadouro (2019) foram feitas pelos pedreiros aprendizes do SSIC e conduzida com as mãos do especialista Edo Cima. Paralelamente aos trabalhos de construção civil, a carpintaria Beroggi di Cerentino confecionava e montava as peças de madeira para sustentação e alimentação das mós. Para permitir que as mós operem mesmo em condições de água do rio reduzidas, a instalação de um motor elétrico que, de forma autónoma, pode movimentar as mós. O motor e todas as engrenagens anexadas foram feitas pelos aprendizes da firma AGIE de Losone e montadas no ano de 2020”.
Apurámos que, durante o ano de 2020, a Associação colocou a concurso as restantes obras de engenharia civil. Em abril de 2021, a empreiteira contratada iniciou as obras de engenharia civil. As obras foram concluídas no início do verão de 2021. No final de setembro de 2021, foram concluídas as últimas obras de construção do canal a céu aberto, a colocação de uma roda de madeira com um diâmetro de 250 cm e a colocação da calha de madeira que aciona a roda do moinho. Em 1 de outubro de 2021, os trabalhos relativos à captação de água foram finalizados. Após 100 anos, a água voltou a alimentar a roda do moinho com grande satisfação dos membros da Associação, mas, sobretudo, por aqueles que contribuíram para criar o trabalho como um todo. Finalmente, em 6 de outubro de 2021, o milho pode ser moído pela primeira vez usando força motriz de água”.
Ígor Lopes