› Ígor Lopes
“Quando cheguei à Suíça foi bastante difícil. Estranhei muito a comida e, não sabendo falar as línguas, dificultou muito a integração na comunidade. Fui viver para Emmenbrücke, no Cantão de Luzern, onde vivo hoje e aqui vivem muitos portugueses”.
É desta forma que Paula Cristina Gomes da Silva, de 47 anos de idade, explica a sua experiência na Suíça.
Natural de Mós da Serra de Montemuro, situada em Castro Daire, Viseu, Paula diz sentir-se muito orgulho das suas raízes e faz questão de lá voltar todos os anos para rever a sua família e amigos que lá deixou quando emigrou para a Suíça em 1996.
Em Portugal tem família na aldeia de Mós, onde residem quase todos os seus familiares. Tem família também em Lisboa, mas a maior parte reside no concelho de Castro Daire. E alguma família da parte do meu ex-companheiro, que foi o que me ajudou na altura.
“Viver na Suíça não é fácil, mas já não está fácil em lado nenhum e, assim, optei por ficar aqui, onde tenho família e amigos de longa data. Aqui, pelo menos, temos mais oportunidades de uma vida melhor”, comentou Paula, que, em solo helvético, já trabalhou em hotelaria no Hotel Waldstätterhof em Luzern durante dez anos. Depois mudou de área e foi trabalhar na Fábrica de Produção da Brezelkönig, onde trabalhou por 14 anos. Hoje, é proprietária da Pastelaria Famosa em Emmenbrücke.
Sobre conviver com a comunidade portuguesa na Suíça, esta lusitana emigrada diz ter tido essa oportunidade, já que em Emmenbrücke há muitos portugueses.
“Desde que estou na Pastelaria Famosa tenho mais convivência ainda. A Pastelaria é o ponto de encontro de muitas famílias portuguesas. Vêm cá para matar as saudades do nosso país. Falando por experiência própria fui sempre bem recebida. Foram raras as vezes que sofri algum preconceito por ser emigrante. Hoje em dia, temos vários clientes suíços que gostam de vir à Pastelaria pelo clima e para provar e saborear os bolos tradicionais”, comentou esta empresária.
Em relação às associações portuguesas, Paula afirma que frequenta esses espaços “com muito gosto”.
“Gosto bastante de ir ao Centro Português de Obernau pela comida saborosa e por termos amizade com a Gerência. Frequento também o Centro Português de Büron. Acho que temos de ser uns pelos outros. Há muitas associações aqui na Zona que também recomendo, mas os que mencionei são os que mais frequento e com os que tenho parcerias”, atestou.
Para matar as saudades de Portugal, Paula prefere, durante o ano, utilizar recursos informáticos e a Internet para estar em contacto com familiares e amigos, através, também, de videochamadas.
“Sempre que posso tento ir a Portugal para estar com os meus”, elucidou esta responsável, que, de momento, vive com o seu companheiro de vida e o seu filho mais novo de 22 anos. A sua filha já saiu de casa para ser mais independente. Todos ajudam-na, segundo Paula, a gerir a Pastelaria.
Ao regressar a Portugal de férias, Paula diz sentir-se emocionada ao ver a placa de Castro Daire, um sentimento de “alegria muito grande”, pois “sinto que acabei de chegar a casa”.
“Penso sempre em voltar a Portugal apesar de gostar da vida que levo aqui. O mais tardar penso em voltar a Portugal quando estiver na reforma. Na Suíça, com muito suor e trabalho árduo, passei de funcionária a proprietária do meu próprio negócio, do qual tenho imenso orgulho. Contudo, foi-me atribuído o nome da Rainha das Bifanas de Emmenbrücke”, revelou Paula, que tem dois filhos. A Melanie de 25 anos e o Micael de 22.
“A Suíça é um país de referência. Chamo de minha segunda casa porque, apesar de já ter mais anos de Suíça do que de Portugal, não me consigo desapegar do meu país. A Suíça é um país muito bonito, com muita oportunidade e melhor qualidade de vida. Mas por ter mais oportunidade não quer dizer que seja fácil”, disse ao reconhecer, ainda, que Portugal é “o país mais bonito à face da terra, é a minha casa, onde me sinto feliz, acolhida e contente. É onde quero passar os meus últimos dias quando chegar a hora”.
Recorda que chegou à Suíça por influência do seu ex-companheiro que já trabalhava no país, vim à procura de uma vida melhor. Só soube que falavam uma língua diferente quando cá cheguei. Na altura, foi tanto o meu espanto que tive de ter aulas de alemão e italiano para conseguir navegar nesta aventura da vida”, confessou esta portuguesa, que está na Suíça há 27 anos.
“Espero um futuro sorridente e de muito sucesso para a minha Pastelaria. Espero ter saúde e desejo isso a todos”, não esconde esta castrense.
Sobre a diferença de vida entre Portugal e a Suíça, Paula explica que “Portugal é só para usufruir nas férias. Já saí de Portugal há muito tempo, então, não tenho muita noção de como é viver lá no dia a dia”.
“A vida do imigrante português na Suíça é sempre com muita saudade e com muita vontade de que cheguem as férias para poder ir a Portugal outra vez. No entanto, desde que tenho a Pastelaria, custa-me menos porque estou sempre rodeada de portugueses e, para mim, é um pequeno Portugal e já ajuda a matar um bocado as saudades”, finalizou Paula.