› Ígor Lopes
No último mês de julho, e durante 18 dias, o jovem português John Ferreira de Almeida, de 29 anos, viajou de bicicleta desde Delémont, na Suíça, até Figueiredo de Alva, concelho de São Pedro do Sul, em Portugal, terra da sua família paterna.
O motivo poderia ter sido outro, mas a ideia foi, além de mostrar o seu amor pela pátria mãe, homenagear o seu avô José de Almeida, de 97 anos de idade, e a avó Maria Amélia Ferreira, de 92 anos, ambos residentes nessa freguesia do distrito de Viseu. Uma razão mais do que explicada que o fez viajar sobre duas rodas por mais de 1700 km.
No caminho, que percorreu sobre uma bicicleta recém-comprada e vestido, muitas vezes, com a camisola da seleção das quinas ou do Benfica, John de Almeida encontrou paisagens de tirar o fôlego, mas também percalços, até que a indicação de que Portugal estava a poucos metros de distância amenizou o cansaço mental e físico. Como se fosse um atleta no sprint final, John terminou o percurso no dia 21 de julho, em solo português, rodeado de amigos, familiares e personalidades.
Foi este o desafio enfrentado por John, que trabalha na Suíça como instalador de aquecimento e canalização, sendo também, durante as noites e aos fins de semana, bombeiro, caseiro e DJ, além de alugar e instalar equipamentos de som e iluminação para festas e eventos desportivos. John nasceu e reside em Delémont, uma comuna da Suíça, capital do cantão de Jura, mas tem raízes em Figueiredo de Alva. Eclético, John não mediu esforços ao se debruçar sobre esta iniciática pioneira na sua vida, já que raramente anda de bicicleta.
“Neste momento, nem eu sei de onde veio a ideia. Mas eu sou uma pessoa bastante impulsiva. Quando uma ideia me vem à cabeça, tenho tendência para a fazer sem pensar muito”, frisou.
John de Almeida fez a viagem inteira, entre a Suíça e Portugal, por 18 dias, sendo 17 a pedalar e apenas um a aproveitar a praia e a cidade de Ciboure, em França. O percurso completo passou por Delémont, na Suíça, Baume-les-dames, Seurre, Palinges, Deux-chaises, Bourganeuf, Thiviers, Duras, Lesperon, Ciboure, ambos em França, além de Legazpia, Miranda de Ebro, Villanueva de Argaño, Montealegrie de Campos e Zamora, na Espanha. Já em Portugal, e antes de chegar a Figueiredo de Alva, o circuito incluiu Tó e Prova. John realizou o percurso inteiramente sozinho, do princípio ao fim, “com a minha bicicleta, a minha tenda e a minha bagagem”.
Apoio, encontrou apenas na sua determinação e na vontade de chegar ao destino são e salvo. Mas nem tudo foram flores. Quase 20 dias a pedalar mostram desafios grandes, como passar por “sítios muito desertos e, por vezes, era difícil encontrar algo para comer ou beber, pelo que acabei por me abastecer de comida e bebidas para me manter quente”, além de ter tido problemas com o fecho da bagagem, que se abriu no caminho sem que o agora ciclista se apercebesse.
“Perdi algumas coisas pelo caminho. O calor de alguns dias também foi complicado”, recordou John, que não esconde ser um novato nisto de se aventurar numa “pedalada” internacional. “Foi a primeira vez que fiz uma viagem de bicicleta. Normalmente, não ando de bicicleta. Comprei a bicicleta no final de maio deste ano, ou início de junho, para esta viagem. Passei a maior parte das noites em parques de campismo. Tive algumas surpresas quando este locais estavam fechados, pelo que fiquei em hotéis ou pousadas da juventude. Não fiz qualquer preparação para esta viagem. A viagem foi decidida por capricho no final de maio”, afirmou.
Recebido pelas autoridades
e por familiares
“A minha chegada a Figueiredo de Alva foi simplesmente incrível, foi um momento de alegria, de emoção e de grande festa. Nunca esperei ver tanta gente a apoiar-me”, foi este o sentimento de John ao chegar ao seu destino, não só geográfico, mas afetivo. No dia 21 de julho, foi organizada uma receção nas ruas de Figueiredo de Alva a este jovem lusodescendente, com direito a faixa de “boas-vindas” e com a presença do presidente da Câmara Municipal de São Pedro do Sul, Vítor Figueiredo, do vereador e vice-presidente da autarquia de São Pedro do Sul, Pedro Mouro, do presidente da Junta de Freguesia de Figueiredo de Alva, António José Pereira da Rocha, entre outras individualidades, incluindo familiares de John e a ex-deputada Maria Ester Vargas.
“Foi maravilhoso assistir à receção organizada pela família e pelos amigos do John que se juntaram para receber o filho da terra após concretizar o desafio de fazer a viagem para Portugal sozinho de bicicleta. Foi um momento emocionante e foi visível a alegria na cara de todos os presentes. Parabéns ao John e à toda a família”, disse à nossa reportagem Vítor Figueiredo, presidente do município de São Pedro do Sul.
Por sua vez, Pedro Mouro vereador e vice-presidente da autarquia de São Pedro do Sul, destacou o facto de que John percorreu “mais de 1700 quilómetros sempre com a camisola de Portugal ou do Benfica, demonstrando, até nesse pormenor, a realização de um feito heroico com muito sentimento à mistura”.
Por fim, António Rocha, presidente da Junta de Freguesia de Figueiredo de Alva, considerou ser “um prazer termos um jovem na nossa freguesia que se propôs a realizar este feito. (…) A união da família e dos amigos em redor da chegada deste jovem foi notória”.
“A comunidade portuguesa em Delémont, que acompanhei muito de perto no tempo em que exerci funções na Embaixada de Portugal em Berna, é composta por muitas pessoas originárias de São Pedro do Sul e, concretamente, da freguesia de Figueiredo de Alva. O caso do John é mais um exemplo de um grande amor por esta região, pela aldeia onde vivem familiares e o facto de ter decidido homenagear os avós desta forma, fazendo o percurso de bicicleta ao longo de 18 dias envergando a camisola de Portugal, e também a do Benfica, mostra bem a garra das nossas gentes”, atestou Maria Ester Vargas, antiga Adida Social na Embaixada de Portugal em Berna e ex-deputada na Assembleia da República de Portugal, que foi quem estabeleceu a ligação entre a família do John e as autoridades locais portuguesas.
“Foi um privilégio ter estado à chegada deste jovem luso-suíço, testemunhando a alegria dos seus familiares, sobretudo dos avós e, ao mesmo tempo, voltar a encontrar pessoas que conheci e com quem trabalhei enquanto estive na Suíça”, afiançou.
O regresso de John à Suíça aconteceu nos primeiros dias de agosto, deixando para traz bons exemplos, momentos em família e um sabor à saudade, porém, ciente das responsabilidades que poderão determinar uma nova viagem à terra natal em 2024. “Quando chegar à Suíça, vou continuar a trabalhar muito para poder voltar a Portugal no próximo verão”, finalizou John, que deixou uma mensagem de agradecimento “a todos os que estiveram presentes quando cheguei e que me incentivaram ao longo desta aventura”.