Recentemente, Pedro Araújo foi convidado pela rádio suíça para falar do seu trabalho no âmbito de uma pesquisa de vários sociólogos sobre as elites na Suíça e no mundo. Quem detém realmente o poder económico? Como são formadas as elites que dirigem a economia mundial, na Suíça e noutros países?
Com o coletivo World Elite Database, que reúne sociólogos de cerca de 20 países, o sociólogo Pedro Araújo observa as elites através de um amplo estudo internacional.
As elites no mundo são na sua maioria homens de 57-59 anos que concentram muito poder. E precisamos de muito mais transparência. Ele é também investigador na Fundação Suíça para a Investigação em Ciências Sociais (FORS).
Economia e sociologia, para ter um olhar mais crítico
Estudou primeiro em Lausanne e Yverdon na HEG (Haute Ecole de Gestion) e fez um bacharelato em economia de empresa. Quando iniciou esta primeira formação em economia e gestão, faltava-lhe uma dimensão mais crítica e verificou que as ciências sociais, ciências políticas eram algo muito interessante.
Não queria parar o seu percurso académico e decidiu optar por uma transição para sociologia. Escolheu a Universidade de Neuchâtel porque o instituto de sociologia de Neuchâtel era o único que tinha também sociólogos economistas. Obteve depois um master em sociologia em Neuchâtel.
Tem um doutoramento em ciências sociais pela Universidade de Lausanne, mas estudou também em França e nos Estados Unidos
Passou também um ano de estudo em Paris em 2010 na prestigiada “Ecole Normale Supérieure” e encontrou em Paris a comunidade portuguesa. Antes da sua experiência em Paris, Pedro Araújo não tinha muito contacto com portugueses a não ser com a sua família. Morou na “Maison du Portugal”, dentro da Cidade Internacional Universitária de Paris.
Foi uma forma de abertura em relação à cultura portuguesa e de encontros enriquecedores com vários portugueses, a falar sobre música, literatura, arte. Em relação à “Ecole Normale Supérieure” em Paris, Pedro Araújo confessou que esta Escola ofereceu uma grande riqueza intelectual ao nível do ensino, mas não gostou do carácter elitista do ensino e do lado competitivo.
Nunca utilizou a língua portuguesa no âmbito profissional
“Este ano é a primeira vez que tive a oportunidade de ter reuniões de trabalho em português. Sou membro do secretariado do World Elite Database, somos mais de 80 sociólogos oriundos de 21 países (com Portugal e o Brasil). Ultimamente conduzi uma reunião profissional com o Brasil. Tinha um pouco de receio, faltavam-me algumas palavras técnicas. Eu escrevo muito em inglês e em francês. Em português, tenho um vocabulário mais passivo”.
Importância da interdisciplinaridade nas suas pesquisas
Está tudo interligado: história, sociologia, economia, política. Tem um doutoramento em ciências sociais. Assistimos agora a uma internacionalização das elites e há também mais mulheres. Torna-se importante seguir a evolução. Nesse sentido existe já há mais de 10 anos em Lausanne o Observatório das Elites Suíças (OBELIS).
Tem um projeto com um historiador para estudar as principais firmas suíças no Japão, mas ainda não se concretizou. É importante saber como as empresas conseguiram desenvolver-se no Japão. Não se conhece muito bem as relações entre empresas suíças e japonesas.
Grande interesse pela arte
“Estou muito interessado na arte. Tudo o que é um pouco ilegítimo interessa-me. Cresci com a cultura hip-hop. No meu tempo livre, organizei exposições de grafiti. Lisboa é uma das zonas mais importantes do street art, com Vihls e Bordalo II.”
“Acontece em Portugal a descoberta ou a redescoberta da cultura portuguesa, de quem somos, somos uma mistura de muitas influências culturais, daí a riqueza desta cultura, com a mistura trazida de vários países, é uma potencialidade da qual não tínhamos consciência. E agora com reconhecimento ao nível internacional.”
Uma vida justa… em Portugal
“Eu sigo muito o movimento “Vida justa”, o movimento que foi criado em Lisboa, um movimento que integra as questões raciais também. E a precariedade que é de ter acesso a um alojamento decente. As pessoas mais vítimas desses problemas são pessoas que vivem na zona metropolitana de Lisboa como Amadora, Benfica, etc.. São pessoas que têm trabalho, vivem uma vida normal, por vezes têm dois trabalhos, mas mesmo assim não conseguem ter um nível de vida decente. Este movimento nasceu com isso. E muita gente que faz parte deste movimento são pessoas racializadas.”
Pedro Araújo acrescentou:
– “Nunca estudei realmente a sociedade portuguesa. Mas eu gostaria de ver um observatório das elites em Portugal.”
– “O meu último trabalho é sobre a importância na Suíça dos casamentos entre as famílias patrícias (les familles patriciennes). ”
– “Ensinei a microssociologia do meio familiar no seio do “Centre d’étude sur les parcours de vie”. Isso quer dizer estudar os indivíduos de forma dinâmica; como isso evoluiu; analisar a estratégia e a evolução do percurso de vida.”
Clément Puippe, cp@netplus.ch