O empresário suíço Thyeri Sierro, especialista em soluções operacionais e equipamentos para os setores sucroalcooleiro e alimentício, está envolvido no processo de internacionalização para Portugal da empresa “O Mundo da Ovelha Béé”, com sede em Chapecó, Brasil.
A ideia central é trazer para a Europa um gelado “único”, feito à base de leite de ovelha, laticínio que pode ser encontrado com facilidade no meio do agronegócio nas Beiras. As primeiras conversas surgiram no âmbito da “Missão Santa Catarina 2025”, promovida pela Câmara de Comércio da Região das Beiras (CCRB) na região Centro de Portugal. O programa, que decorreu entre os dias 30 de junho e 6 de julho, incluiu passagem por Câmaras Municipais, entidades, empresas, culminando numa apresentação dos gelados no âmbito de uma das principais feiras agrícolas do município do Fundão.
Érico Tormem, gestor da empresa “O Mundo da Ovelha Béé”, confessa que o passo inicial do processo de internacionalização pode passar pela região Centro de Portugal.
“Iniciamos a produção do gelado em 2010 e nós temos muita procura no Brasil. Apesar de ainda não termos franqueados, queremos expandir a nossa operação e trazer os nossos produtos para Portugal. Estive na Europa há cerca de três meses e falei sobre a gelataria, e teve muita gente que se interessou pelo tema. Com o apoio da CCRB estivemos na Feira de Inovação Agrícola do Fundão, promovendo o nosso produto. Trouxemos toda a nossa equipa, incluindo técnicos, para demonstrar o que podemos fazer. A nossa intenção é encontrar investidores na Europa, principalmente em Portugal e na Espanha para que possam instalar as lojas e produzir o gelado”, disse Érico Tormem, que acredita que, “quando estabelecermos as nossas lojas em Portugal vai ser um sucesso, porque o gelado é da melhor qualidade e provém de um animal de muita estima também”.
Na opinião de Thiago Canal, diretor de expansão nacional e internacional de “O Mundo da Ovelha Béé”, o grande potencial da empresa é contar com a “única gelataria no mundo exclusiva com produtos à base de leite de ovelha”.
“Fabricamos hoje um gelado exclusivo de leite de ovelha, considerado um leite A2, rico em proteínas de alto valor biológico e com menor índice alergénico, muito recomendado para pessoas com sensibilidade a outros leites. Através desse leite, desenvolvemos o gelado. No Brasil, inúmeras indústrias e produtores de leite de ovelha decidem pelo caminho do fabrico do queijo e nós optamos por ir para o mundo da gelataria”, comentou Thiago, que sublinha que a visita a Portugal tem uma “proposta clara de internacionalizar o produto, mas também a marca através da nossa autenticidade do produto”.
“Este é um passo bem importante para nós, tanto na vinda para Portugal como para a Espanha, o que marca um novo estágio na empresa. Até então, éramos uma gelataria numa cidade pequena, no sul do Brasil, onde somos muito conhecidos em função do nosso produto e pela sua qualidade. Mas o nosso fundador, Erico, é muito visionário, começamos esse projeto de estruturação para expandir a “Béé” para o mundo. Em Portugal, contactamos autarcas e conhecemos um pouco melhor o modo de trabalho dos produtores de ovelha e da cultura dessas regiões. Precisamos dar esse novo passo de forma estruturada”, adicionou este diretor.
Também integrante da comitiva brasileira, Josiane Kilian, engenheira de alimentos e responsável pela produção dos gelados da marca, explicou que o sucesso do produto tem a ver com o facto de ser “feito com leite fresco de ovelha direto da quinta, tendo apenas a gordura do próprio leite de ovelha, o que faz surgir um gelado cremoso, saboroso, com bom tempo de retenção na boca. É sensacional”.
“Experiência sensorial única”
Esta responsável recorda que, com o apoio de uma gelataria local portuguesa, Moien, teve acesso à estrutura para fabricar os gelados nas Beiras, com sabores a baunilha, pistache e chocolate, além de uma experiência nova, “a título de degustação”, um gelado de azeite de oliva.
“Pensa no leite de ovelha com azeite de oliva! Tem tudo a ver com Portugal. O leite de ovelha é conhecido pela sua densidade e qualidade nutricional. É um leite de baixa alergenicidade. Para as pessoas que são intolerantes à lactose o leite de ovelha facilita a digestão. Então, esse leite é um superalimento. Cada ovelha produz em média um litro e meio de leite por dia. Se nós comparáramos com o leite de vaca, por exemplo, esse animal produz mais de 30 litros por dia. Então, não é um leite tradicional, é uma iguaria. E ter um gelado de leite de ovelha é uma experiência sensorial única. O leite de ovelha harmoniza muito bem com qualquer sabor. Estamos abertos a “invenções”, então, os portugueses vão adorar, com toda a certeza, os sabores que podem vir a ser desenvolvidos aqui na região”, contou Josiane.
Autarca do Fundão conheceu projeto internacional
Durante a apresentação dos gelados no âmbito da Feira de Inovação Agrícola do Fundão, Paulo Fernandes, presidente da Câmara Municipal local, mencionou as potencialidades da chegada do produto à região.
“Temos tido, com a Câmara de Comércio da Região das Beiras, grandes interações nos últimos anos, nomeadamente aproveitando todas as redes de contactos e aquilo que são as missões permanentes que a CCRB promove um pouco com todos os países, mas, em muito especialmente, com o Brasil. E nós, obviamente, temos aqui mais uma oportunidade de desdobramento daquilo que é a cadeia de valor, nomeadamente, dos ovinos. A parte das ovelhas e das cabras são os nossos pequenos ruminantes que são tão relevantes para nós, nomeadamente, na fileira do queijo. E foi com grande satisfação, e as provas que estamos a fazer demonstram bem a qualidade do produto e até a sua diferenciação, e agora vermos uma linha de gelados feitos com leite de ovelha, o que pode aumentar ainda mais a cadeia de valor e tornar esta atividade absolutamente essencial para nós, que é a pastorícia e tudo o que são os seus produtos transformados, obviamente, ainda mais sustentável”, disse Paulo Fernandes.
Ana Correia, presidente da Câmara de Comércio da Região das Beiras, alega que a missão traz “revoluções” para o mercado regional e nacional.
“Esta nova missão que organizamos em Portugal cria pontes. E, desta vez, trazendo aqui para a região, uma zona realmente que tem muitos ovinos e deveria ter mais, um movimento muito inovador, que é um gelado à base de leite de ovelha. Escolhemos passar pela Feira de Inovação Agrícola do Fundão porque acreditamos que existe um real potencial para que a marca “O Mundo da Ovelha Béé” possa se estabelecer”, atestou Ana Correia, que referiu que a empresa pretende “fazer a internacionalização através do franchising, porém, não põe de parte a hipótese também da criação de uma fábrica de leite em pó no nosso país, já que estão a produzir uma máquina de grandes dimensões e com grande capacidade de produção de leite em pó no Brasil, disponível para exportação já nos próximos meses”.
Ígor Lopes