A preparação para a tão aguardada visita de estudo ao Museu Comunal de Ascona, para visitar a exposição Flowers of Desire da consagrada artista Joana Vasconcelos, começou muito antes do dia 19 de Junho, data em que finalmente embarcámos nesta aventura cultural.
Na verdade, posso dizer que tudo teve início logo no princípio do ano letivo, quando tomei conhecimento de que a artista portuguesa, reconhecida mundialmente pelas suas obras monumentais e irreverentes, iria expor em Ascona.
Desde logo percebi que esta seria uma oportunidade imperdível para os nossos alunos. Assim, na primeira reunião de pais, comecei por sensibilizar os encarregados de educação para a importância e o valor artístico das obras de Joana Vasconcelos para a cultura portuguesa. Apresentei alguns exemplos do seu trabalho e partilhei informações sobre a exposição em Ascona, incentivando todos a pesquisarem em casa com os alunos. Acredito que o envolvimento das famílias na educação é fundamental e, felizmente, encontrei grande colaboração e participação.
Abordar outras áreas do saber nas aulas de Língua Portuguesa, como as artes, revela-se não apenas pertinente, mas essencial. A arte, em particular, permite aos alunos explorar a cultura portuguesa de forma mais ampla e envolvente, proporcionando-lhes um contacto direto com o património artístico do país e estimulando o pensamento crítico e criativo. Esta abordagem interdisciplinar contribui para o alargamento dos horizontes dos alunos, promovendo o gosto pela descoberta e pelo conhecimento, ao mesmo tempo que desenvolve competências de comunicação, interpretação e expressão oral, tão valorizadas no âmbito da disciplina de Português. As nossas aulas são um espaço de aprendizagem da língua portuguesa que inclui a cultura portuguesa numa abordagem que estimula a sensibilidade e a criatividade dos alunos.
Propus também um desafio aos alunos: durante a pausa letiva, deveriam criar ou recriar uma obra de arte inspirada nas criações de Joana Vasconcelos. Desde o início, deixei claro que o que seria avaliado seria a apresentação oral da obra — o discurso, a reflexão, a explicação — e não tanto a criatividade ou o talento artístico em si. O mais importante era que os alunos compreendessem o conceito, explorassem os materiais e se envolvessem no processo.
Nas aulas, o entusiasmo foi crescendo. Estudámos o percurso da artista, observámos algumas das suas obras mais icónicas e debatemos o impacto das suas criações, sobretudo pela utilização de objetos comuns e inesperados, como talheres de plástico, rendas, tecidos e utensílios domésticos. A reação dos alunos foi extremamente positiva — muitos ficaram fascinados com a ousadia e originalidade de Joana Vasconcelos.
Depois de várias aulas dedicadas a este projeto, os alunos começaram a apresentar as suas obras de arte. Cada um explicou o processo criativo, os materiais escolhidos, o que correu bem e os desafios encontrados. Foi maravilhoso ver o orgulho e a dedicação de cada um ao apresentar o seu trabalho. Para valorizar ainda mais o esforço, organizámos exposições com os trabalhos realizados em cada uma das nossas escolas — Sion, Crans-Montana e Saillon. Os encarregados de educação foram convidados a visitar as exposições e tiveram a possibilidade de votar nas obras mais criativas. Esse momento de partilha entre escola e família foi fundamental para o sucesso do projeto.
Mas preparar uma visita de estudo como esta envolve mais do que apenas motivação artística. Era necessário garantir toda a logística. A colaboração dos encarregados de educação foi, mais uma vez, exemplar. Com o objetivo de angariar fundos para o transporte até Ascona, organizámos o sorteio de rifas, cuja venda contou com o empenho de alunos e pais. Uma parte do primeiro prémio foi oferecido pelos pais da aluna Inês Ribeiro e o segundo prémio pelos pais da aluna Lara Cerqueira.
Desde o início, mantive contacto com a direção do Museu Comunal de Ascona e com a Coordenação do Ensino. Partilhei com eles o projeto e surgiu, inclusive, a possibilidade de expormos os trabalhos vencedores no museu, durante a nossa visita. Infelizmente, devido ao espaço reduzido da galeria, isso não foi possível. No entanto, para nossa surpresa e alegria, Joana Vasconcelos fez questão de enviar um vídeo de agradecimento aos alunos. Foi um momento emocionante ver a artista reconhecer o esforço e dedicação dos nossos jovens. No vídeo, Joana dizia:
“Olá alunos da professora Cláudia, eu sou a Joana Vasconcelos. Quero agradecer-vos muito pelos trabalhos que fizeram, que estão fantásticos. Adorei! Espero que venham ver a minha exposição e que gostem muito também dos meus trabalhos e que vos inspire para fazerem coisas ainda mais fantásticas. Bom trabalho e boa visita.”
Antes da visita oficial, fiz questão de estar presente na inauguração da exposição. Foi um privilégio poder usufruir da visita guiada pela própria Joana Vasconcelos e partilhar pessoalmente com ela fotografias das obras dos nossos alunos. A simpatia e o entusiasmo da artista reforçaram ainda mais a importância deste projeto.
Finalmente, no dia 19 de Junho, chegou o tão esperado momento. Partimos rumo a Ascona, num dia esplêndido, com céu limpo e muito entusiasmo. A visita contou com a participação de cerca de 150 pessoas, entre alunos, professores e encarregados de educação. Devido à dimensão do museu, foi necessário dividir o grupo em duas visitas. Enquanto uns exploravam as obras de arte, os restantes puderam passear e conhecer a charmosa vila de Ascona.
O feedback não podia ter sido melhor. Durante e após a visita, recebi inúmeras mensagens de agradecimento e elogios por parte dos encarregados de educação. Para muitos, esta foi a primeira vez que tiveram contacto tão direto com a arte contemporânea e, em particular, com o trabalho de uma artista portuguesa de renome internacional.
Organizar esta visita foi, sem dúvida, um desafio — mas também uma grande realização. Foi o culminar de meses de trabalho, dedicação e envolvimento de toda a comunidade escolar. E, acima de tudo, foi uma semente lançada para que os nossos alunos floresçam no caminho da criatividade, da sensibilidade e da valorização cultural.
Cláudia Pereira, Docente CEPE Suíça