“O turismo continua a afirmar-se como um dos principais motores da economia portuguesa”. É o que afirma Pedro Machado, Secretário de Estado do Turismo de Portugal, que avança que, “atualmente, o turismo em Portugal tem vindo a expandir-se para além dos destinos tradicionais”, tendo apresentado “um crescimento significativo em regiões como o Porto e Norte, Centro de Portugal, Alentejo e Açores”.
Este responsável explicou que o objetivo das ações da Secretaria de Estado que lidera “é continuar a desenvolver um turismo sustentável e autêntico, que valorize o património cultural e natural, enquanto simultaneamente assegura benefícios económicos para todas as regiões”. Pedro Machado citou ainda o protocolo existente com o Programa Regressar, que, na sua opinião, “tem sido importante no apoio ao retorno de emigrantes portugueses”, apoiando a área do Turismo beneficiando “alguns dos investimentos que são feitos por estes portugueses recém-regressados”.
Em entrevista ao Gazeta Lusófona, Pedro Machado, mestre em Ciências de Educação e doutorando em Patrimónios Alimentares: Culturas e Identidades, falou sobre as ações e os resultados recentes do Turismo de Portugal, que visa apostar numa estratégia de promoção que passa por “destacar a autenticidade, a cultura e a diversidade do país”.
Qual o impacto real do turismo na economia portuguesa? Pode partilhar números recentes sobre o contributo do setor para o PIB nacional e a criação de emprego?
Tendo por base as Receitas do Turismo, o turismo representa cerca de 11% do PIB nacional, um aumento significativo face aos 9,6% registados em 2023, evidenciando o seu papel estruturante na economia portuguesa. O turismo continua a afirmar-se como um dos principais motores da economia portuguesa, com um impacto significativo no crescimento do país. Além da sua importância direta para a economia, o turismo assume um papel essencial na criação de emprego ao gerar milhares de postos de trabalho diretos e indiretos em diversas áreas, desde a hotelaria e restauração até aos transportes e atividades culturais.
Portugal tem batido recordes no setor do turismo nos últimos anos. Como avalia o desempenho do setor em 2024 e quais são as projeções para 2025?
O desempenho do setor do turismo em 2024 foi notável, refletindo um crescimento sustentado e a consolidação de Portugal como um destino de referência a nível internacional. Os dados mais recentes apontam para 31,6 milhões de hóspedes e mais de 80 milhões de dormidas registadas, fator que reforça a crescente atratividade do país. Além disso, Portugal ocupa atualmente a 12.ª posição no ranking mundial de competitividade no turismo e demonstra a eficácia da estratégia adotada pelo Governo e entidades do setor para tornar o setor mais inovador, sustentável e resiliente. Para 2025, as perspetivas mantêm-se otimistas, com a continuidade do crescimento em valor assente na diversificação da oferta, na aposta na qualificação dos serviços e na valorização dos territórios. O compromisso com a sustentabilidade e a inovação será determinante para garantir que o setor continue a gerar valor económico, promovendo simultaneamente um turismo mais equilibrado e inclusivo.
Qual o estado atual e resultados do protocolo existente entre o Turismo de Portugal e o Programa Regressar para quem decide voltar a viver em Portugal e escolhe o Interior do país para investir no ramo do turismo?
O Programa Regressar, com vigência recentemente alargada até 2026, tem sido importante no apoio ao retorno de emigrantes portugueses, e o sector do turismo vindo seguramente a beneficiar de alguns dos investimentos que são feitos por estes portugueses recém-regressados. O protocolo entre o Turismo de Portugal e o Programa Regressar continua a ser uma peça-chave na estratégia nacional de valorização do interior, proporcionando aos investidores que regressam o apoio e as ferramentas necessárias para o sucesso dos seus projetos turísticos. Este apoio visa estimular a criação e expansão de empreendimentos turísticos em áreas menos densamente povoadas, contribuindo para a dinamização económica e a coesão territorial. Em cinco anos, já regressam mais de 33 mil portugueses através do Programa, que oferece incentivos financeiros e fiscais para facilitar a reintegração profissional e social de quem regressa.
A diversificação dos mercados emissores de turistas tem sido uma prioridade para Portugal. Como está a ser feita a promoção do país junto de mercados estratégicos como a Suíça?
A diversificação dos mercados emissores de turistas é uma prioridade estratégica para Portugal, no sentido de aumentar a resiliência e a sustentabilidade do setor turístico. Nesse contexto, o país tem intensificado a promoção em mercados como o Brasil e a Suíça, beneficiando Macau do trabalho desenvolvido na China. (…) Na Suíça, o Turismo de Portugal desenvolve ações promocionais específicas, incluindo workshops e eventos direcionados ao trade turístico e ao público final. Estas iniciativas visam apresentar as diversas regiões portuguesas e os seus produtos turísticos, adaptando a oferta às preferências do mercado suíço. A plataforma oficial de promoção turística, VisitPortugal, desempenha um papel crucial nesta estratégia, oferecendo conteúdos em múltiplos idiomas e adaptados a diferentes mercados. Através deste portal, potenciais visitantes podem explorar informações detalhadas sobre destinos, eventos e experiências em Portugal, facilitando o planeamento das suas viagens.
Que resultados pode apontar na área do Turismo, em termos de promoção e receção de turistas, relativamente à Suíça?
Os números de 2024 mostram um cenário positivo para o turismo suíço em Portugal. Com um aumento de 4,2% nas dormidas, 6,0% nos hóspedes e 10,4% nas receitas turísticas, o mercado suíço demonstra um interesse crescente em Portugal como destino. O aumento de 8,3% no número de passageiros desembarcados e de 6,1% no volume de compras com cartões bancários também reforça essa tendência. A promoção de produtos turísticos de luxo, natureza e bem-estar tem sido uma estratégia eficaz para atrair turistas suíços, que apreciam a qualidade dos serviços oferecidos por Portugal.
Quais são os projetos e investimentos mais relevantes atualmente em curso para reforçar a oferta turística em Portugal?
Mais do que reforçar a oferta turística, estamos empenhados em manter Portugal como um destino sustentável e responsável. É com esse objetivo central em mente que temos implementado um conjunto de projetos, ações e iniciativas e de que dou apenas alguns exemplos: Somos o 1º país a cobrir todo o território com uma Rede de Observatórios de Sustentabilidade – utilização da análise de dados para monitorizar tendências turísticas e avaliar o impacto do turismo nos ambientes e comunidades locais, permitindo uma tomada de decisões informada e que prioriza um crescimento sustentável; Fundámos o NEST – Centro de Inovação do Turismo que promove a inovação e o uso da tecnologia na cadeia de valor do turismo e tem como prioridades de atuação: a experiência dos turistas, big data & analytics, soluções em sustentabilidade e competências digitais. O seu objetivo é apoiar o desenvolvimento de novas ideias de negócio, a experimentação de projetos e a capacitação das empresas na transição para a economia digital, posicionando-se como um polo de referência internacional em termos de empreendedorismo e desenvolvimento de soluções inovadoras para o setor; Criámos o REVIVE – Programa destinado à recuperação de imóveis públicos de elevado valor patrimonial que não estão a ser usufruídos pelas comunidades e seus visitantes, através da realização de investimentos privados que os tornem aptos para afetação a uma atividade económica lucrativa, com vocação turística, nomeadamente, nas áreas da hotelaria, da restauração, das atividades culturais, ou outras formas de animação e comércio, preservando-se os valores e pressupostos que determinaram a criação e existência; Lançámos o Programa Empresas Turismo 360º – que tem na sua base a capacitação das empresas do turismo em sustentabilidade e em gestão ESG – Environmental, Social and Governance; Implementámos o Programa “All for All – Portuguese Tourism” – dirigido a todos os empresários turísticos, bem como as entidades públicas ligadas ao setor turístico, tendo em vista a sua mobilização, numa atuação concertada de tornar acessível a oferta turística nacional; Apostamos e reforçamos a promoção de iniciativas que criem um impacto positivo nos territórios, ambiente e comunidades locais e incentivam a adoção de comportamentos de visita mais responsáveis – caso da Campanha “It’s not tourism. It’s futourism” (mais do que uma campanha é uma iniciativa que ambiciona mobilizar as pessoas e transformar as suas viagens em experiências autênticas e sustentáveis, por isso, capazes de gerar um impacto positivo nos territórios, no ambiente e nas comunidades; caso das majorações dos apoios financeiros concedidos às empresas para os projetos que incorporem estes aspetos.
Qual tem sido o papel do Turismo de Portugal e da atual gestão na promoção do país como destino turístico de excelência? Que novas estratégias estão a ser desenvolvidas para consolidar a marca Portugal?
Temos estado empenhados em consolidar a marca Portugal a nível global e graças a este esforço contínuo, Portugal já é amplamente reconhecido como um dos melhores destinos turísticos do mundo, tendo recebido inúmeros prémios e distinções internacionais. Atualmente, a estratégia de promoção passa por destacar a autenticidade, a cultura e a diversidade do país, com novas campanhas inovadoras do Turismo de Portugal como “Portugal is Art”, que valoriza o património artístico e cultural, e a mais recente “Portugal, uma receita por escrever”, que posiciona a gastronomia como um fator diferenciador da experiência turística. Estas campanhas reforçam a imagem de Portugal como um destino único, que alia tradição e inovação, oferecendo experiências memoráveis a quem nos visita. A atual gestão do Turismo de Portugal continua a apostar na sustentabilidade, inovação e digitalização.
Que medidas estão a ser implementadas para garantir um turismo mais sustentável e equilibrado no nosso país?
Portugal tem vindo a implementar diversas medidas para garantir um turismo mais equilibrado e responsável. Existe um forte investimento na descentralização do turismo, promovendo destinos menos explorados e distribuindo melhor os fluxos turísticos, reduzindo a pressão sobre as grandes cidades e áreas mais visitadas. A aposta na mobilidade sustentável também tem sido uma prioridade, com incentivos ao uso de transportes ecológicos e a criação de infraestruturas para facilitar deslocações com menor impacto ambiental. Paralelamente, o país tem desenvolvido iniciativas que promovem a economia circular no turismo, incentivando a redução do desperdício e o uso eficiente dos recursos em alojamentos, restauração e atividades turísticas. Outro pilar essencial é a valorização das comunidades locais, garantindo que o turismo contribui para o desenvolvimento regional e respeita a identidade e cultura dos territórios. Para isso, há um incentivo crescente à criação de experiências turísticas autênticas, que envolvam produtores locais, artesãos e pequenos negócios, promovendo um turismo mais inclusivo e sustentável.
O setor enfrenta desafios, desde a sazonalidade à pressão sobre infraestruturas locais. Que políticas estão a ser adotadas para mitigar estes problemas e garantir um crescimento equilibrado do turismo?
Para combater a sazonalidade, uma das estratégias-chave tem sido a diversificação da oferta turística, apostando em segmentos que atraem visitantes ao longo de todo o ano. É o caso, entre outros, do turismo de negócios, enoturismo, turismo de natureza e bem-estar. Campanhas internacionais e incentivos para eventos fora da época alta também têm contribuído para uma distribuição mais equilibrada dos fluxos turísticos ao longo do ano. Outra medida essencial é a descentralização do turismo, promovendo destinos alternativos que contribuam para uma redução da concentração em zonas como Lisboa, Porto e Algarve. A aposta no desenvolvimento de produtos e ativos que valorizem as regiões e as suas comunidades têm sido fundamentais para distribuir melhor os visitantes pelo território. Para lidar com a pressão sobre infraestruturas locais, Portugal tem investido na melhoria das acessibilidades e transportes públicos, garantindo que tanto os residentes como os turistas beneficiam de deslocações mais eficientes e sustentáveis. Além disso, há um reforço na regulamentação do alojamento local para garantir um equilíbrio entre a oferta turística e a qualidade de vida das comunidades. A aposta na digitalização e inovação também tem sido um pilar importante, permitindo uma melhor gestão dos fluxos turísticos através de ferramentas de monitorização e planeamento inteligente.
Acredita que a vossa participação em ações, eventos e feiras internacionais podem influenciar os resultados do turismo em Portugal?
Sem dúvida que sim. Estas iniciativas têm um impacte significativo e permitem promover o país como destino de excelência, estabelecer parcerias estratégicas e captar novos turistas, seja em mercados já tradicionais, seja em novos mercados. A presença das empresas turísticas portuguesas nesses certames, que proporcionam um contacto direto com o mercado, permite-lhes um incremento do seu conhecimento, mas, sobretudo, facilita e promove o contacto direto com operadores turísticos e potenciais compradores, estimulando assim a possibilidade de concretização de negócios. Em 2024, Portugal, através da presença organizada e promovida pelo Turismo de Portugal, esteve presente em sete feiras generalistas, três feiras exclusivamente para profissionais e quatro feiras dirigidas ao segmento de luxo, na Europa, América e Ásia. Relativamente à Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL) deste ano, que decorreu de 12 a 16 de março de 2025, o Turismo de Portugal esteve presente com uma participação estruturada e abrangente.
Portugal tem sido reconhecido como um dos melhores destinos turísticos do mundo. Como garantir que este sucesso se mantém e continua a beneficiar a economia e a sociedade portuguesa?
A resposta está num crescimento sustentável em todas as vertentes do turismo, isto é, o sucesso de Portugal como destino turístico de excelência só poderá manter-se através de um crescimento sustentável e equilibrado. O foco está em crescer em valor, promover um turismo que beneficia a economia, respeita o ambiente e melhora a qualidade de vida das comunidades. Para isso, é essencial apostar em todas as matérias aqui mencionadas de modo que seja potenciada uma oferta diferenciada e autêntica. Portugal já é reconhecido como um destino de excelência. Agora, o desafio é consolidar esse estatuto, reforçar a competitividade do setor e garantir que o turismo continue a gerar valor, emprego e bem-estar para todos.
Ígor Lopes