O Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Portuguesas (CP-CCP) anunciou, em novembro de 2024, a criação de uma nova estrutura.
Trata-se da Comissão de Juventude (CJ/CCP), que representa, segundo este órgão consultivo, “um marco significativo na promoção da inclusão e da representação dos jovens portugueses e que evidencia o compromisso em integrar as vozes das novas gerações nas discussões e decisões que impactam a Diáspora”.
Segundo apurámos, a recém-criada CJ-CCP deverá ser uma plataforma para que jovens líderes possam “contribuir com as suas perspetivas únicas e inovadoras, refletindo a diversidade e a riqueza cultural das nossas Comunidades”.
“Este espaço objetiva fortalecer a representatividade dos jovens no CCP e promover um ambiente de diálogo e cooperação entre diferentes culturas e experiências. A expetativa é que possa desenvolver iniciativas que atendam de forma mais eficaz às necessidades e aspirações das novas gerações. É fundamental garantir que a voz dos jovens portugueses seja ouvida, permitindo que as suas inquietações e propostas sejam consideradas”, comentou Flávio Martins, presidente do CP-CCP, e deputado eleito pela emigração pelo círculo de fora da Europa para atuar na Assembleia da República portuguesa.
Integram esta nova Comissão Beatriz Guedes Neves Pereira – São Paulo, Brasil; Daniel Loureiro – Montreal, Canadá; Diogo José dos Reis Barbosa Marques Leal – Angola; Isabel Sebastião Canana – Suíça; João do Nascimento Martins Pereira – Paris, França; João Pedro dos Santos Alves da Cruz – Londres; Kátia Susana Esteves Caramujo – Toronto, Canadá; Martin Fabian d’Oliveira – Argentina; Rui Barata – Estrasburgo, França; Tiago Rodrigues Soares – Haia, Países Baixos; e Vítor Oliveira – Bordeús e Toulouse, França.
Caso suíço de valorização dos jovens
A nossa reportagem entrevistou Isabel Canana Sebastião, 23 anos, que vai apoiar e representar os trabalhos na Suíça. É estudante na área da infância, Estudos superiores, nasceu na Suíça, em Genebra, e tem dupla nacionalidade Portuguesa e Suíça, tendo as suas ligações a Portugal no distrito de Santarém, na Freguesia de Constância.
Isabel conta que conhece o CCP “há longos anos, pois o meu pai foi conselheiro do CCP e eu faço parte desde outubro 2024”. Esta responsável revelou ainda o trabalho que pretende desenvolver no âmbito da Comissão de Juventude no país helvético.
“O CCP tem uma Comissão de Juventude da qual faço parte, e que se reuniu uma vez. Vamos elaborar o plano de trabalho. Na Suíça, não há propriamente uma Comissão de Juventude, mas está planeado, no decorrer de 2025, realizar um trabalho com os jovens da comunidade. É um assunto que me preocupa e, por isso, já intervim junto do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. Não está claro se os manuais escolares para o próximo ano letivo serão distribuídos pelo Estado e se serão gratuitos. Espero receber esta informação do Secretário de Estado o mais rápido possível”, disse Isabel, que adiantou que, “antes de mobilizar um trabalho de informação sobre a importância do CCP, é necessário, junto do CCP, exigir uma quota de jovens em todas as listas”.
Esta luso-suíça considera fundamental “conhecer as exigências dos jovens da comunidade e o objetivo para 2025 para poder dar respostas”. Afirma acreditar que esta Comissão poderá atuar na promoção da inclusão e da representação dos jovens portugueses. “Lutarei para que uma quota jovem seja imposta a cada lista”.
Sobre as políticas para a emigração vindas do governo central em Portugal, Isabel é enfática.
“Sou conselheira desde outubro de 2024. Não posso dizer o que pensam agora os jovens luso-descendentes, mas, como jovem luso-descendente, penso e estou convicta da necessidade de uma maior participação dos jovens a nível político, nas reuniões e atividades dos bairros de residência, nos conselhos escolares na Suíça, mas também em Portugal. É essencial sermos mais exigentes quanto à qualidade do ensino, participar nos conselhos consultivos escolares e exercer o nosso voto não apenas nas eleições na Suíça, mas também em Portugal. Além disso, é importante interessar-nos, candidatar-nos e contribuir ativamente para o CCP”, defendeu, reiterando que, “na Suíça, não há uma Comissão de Juventude. No CCP, não sou a líder, sou membro. A comissão, desde novembro, já se reuniu uma vez e, atualmente, está a preparar os projetos futuros”.
“Eu penso que é fundamental que os jovens tenham voz, mas também é importante que os governantes ouçam os jovens. Mais ainda, é essencial que as reivindicações dos jovens não fiquem apenas na gaveta dos governantes. Acredito nisso profundamente”, adiantou Isabel Sebastião, que está convicta de que, na Suíça, o cenário favorece esta integração entre os jovens e o CCP.
“Penso que sim, um trabalho deve ser feito junto dos jovens, tendo em conta que os conselheiros do CCP trabalham em prol da comunidade de forma voluntária, pois não têm orçamento. No entanto, há temas importantes como a equivalência dos diplomas, a criação de oportunidades para os jovens da comunidade realizarem estágios em empresas em Portugal, e a promoção de mais intercâmbios entre os jovens das comunidades”, mencionou.
Sobre viver na Suíça, onde nasceu após os seus pais emigrarem a procura de “melhores condições”, Isabel diz ser “bom, com tudo o que a Suíça tem de bom e também com tudo o que a Suíça tem de menos bom. Um dos bons aspetos da Suíça é o bom sistema de educação e, sobretudo, a qualidade da formação profissional”.
“Tenho um diploma de assistente em Medicina Dentária, mas não o exerço, pois estou a fazer o diploma de formação de educadora de infância. Estou, atualmente, no último ano”. Em solo helvético, Isabel convive com a comunidade portuguesa. “Não só faço parte de associações na Suíça, como também faço parte de duas associações portuguesas. Se me candidatei ao CCP, é porque convivo com a comunidade portuguesa”.
“O nível de vida na Suíça é alto. A comunidade que trabalha em empregos fixos e bem pagos vive bem, mas há uma parte da comunidade que trabalha em empregos precários e mal pagos, com um nível de vida mais baixo, vivendo com dificuldades de uma maneira precária”, comentou esta jovem sobre os portugueses residentes nesse país europeu.
Em relação à imagem que tem de Portugal, Isabel diz sentir “saudades, é uma imagem de um país que evoluiu muito nas últimas décadas, mas um país que deveria aproveitar melhor as oportunidades. Estamos a entrar na revolução da inteligência artificial, e Portugal não pode desperdiçar esta oportunidade”.
Quando o assunto é as políticas para as comunidades portuguesas por parte do governo central, Isabel revela ter “esperança”.
“Espero não ficar desiludida”, finalizou.
Ígor Lopes
Fotografia: Rui Ochoa/Presidência da República