No dia 16 de agosto, após cerimonial no Salão Nobre da Câmara Municipal de Viana do Castelo para celebrar a Romaria d’Agonia, mil mulheres de Portugal e de outros dez países integraram o tradicional Desfile da Mordomia das Festas em Honra de Nossa Senhora da Agonia, segundo os organizadores do certame.
A peregrinação partiu às 16 horas do Palácio dos Cunhas até à Cúria Diocesana, no Largo de São Domingos. Esta foi a primeira vez que mil mordomas desfilam na romaria. As festas, que contaram com o apoio de cerca de cinco mil pessoas para celebrar a padroeira dos pescadores de Viana do Castelo, terminaram dia 22 de agosto. Durante nove dias, a população participou nos festejos para orar, se divertir com os espetáculos de bonecos, os concertos musicais, um arraial, entre muitas outras atrações. O evento teve a presença de Fátima Gomes, presidente da Casa do Minho do Rio de Janeiro, e de vários emigrantes que escolhem estas festividades para voltar à casa.
A coordenação das festas informou que o “desfile das mordomas é um dos destaques da Romaria d’Agonia, sendo apelidado como a maior montra de ouro ao ar livre. Nem só do traje, com as várias cores consoante a freguesia e o estatuto, vive este desfile, já que o ouro que adorna a beleza destas mulheres é ‘obrigatório’, variando apenas a quantidade. Este ano, cerca de um milhar de mulheres envergaram o seu melhor traje e desfilaram a chieira ‘à vianesa’ pela cidade, o maior número de sempre na história das festas”.
Com relação às mulheres do Desfile da Mordomia, “a média de idades das inscritas é de 32 anos, sendo que a participante mais nova tem 14 anos e a mais velha 84 anos”. Dados indicam que houve a participação feminina de 12 distritos de Portugal e de dez países, sendo que “760 mordomas são oriundas do concelho de Viana do Castelo e as restantes de várias cidades de Portugal, França, Estados Unidos da América, Suíça, Andorra, Luxemburgo, México, Brasil, Canadá e Países Baixos”.
A nossa reportagem conversou com as irmãs Sandra e Simone que participaram no desfile devidamente trajadas e com cestos de flores. Naturais de Ribeira de Viana, estas duas portuguesas estão emigradas na Suíça. As duas estavam acompanhadas pelos seus maridos, um trasmontano e um italiano. Esta foi a primeira vez que este “quarteto” participou junto nesta iniciativa.
Sandra, que vive na Basileia e integra a direção do Rancho Folclórico de Basileia, conhece bem a emoção desta festividade. Casada com o italiano Dario Romano, Sandra conta que “começou a ganhar amor às tradições por uma questão de perpetuação, para que não acabe”. O seu acervo conta com vários trajes próprios.
“Estar nesta festa é uma emoção muito grande, pois foi aqui que nasci”, disse Simone, que foi arrebatada pelo amor que também sente a sua irmã Sandra.
“A participação na Romaria é para nós vianenses e descendentes da Ribeira uma emoção que não se consegue explicar, principalmente para aquelas famílias que perderam os seus familiares no mar. A Romaria tem a parte tradicional e etnográfica que é uma riqueza única e em que eu tenho um imenso orgulho e vaidade (chieira) em ser vianense e tem também a parte religiosa e de fé, que sinto uma emoção e um sentimento muito profundo recordando as minhas famílias da Ribeira”, explicou Sandra, que não esconde a emoção em participar na “romaria das romarias”.
“Este ano a Romaria de nossa Sra. d’Agonia foi especial. Eu tinha estado três semanas de férias em Viana com a minha família. Dia 6 de agosto voltei para a Suíça e trabalhei uma semana até ao dia 14, quando, nesse mesmo dia, voltei para Portugal só para estar na Romaria. O meu marido quis fazer-me uma surpresa e veio também – era suposto eu passar esses dias sem ele. Participei no desfile de Mordomia com Traje de Mordoma azul de colete com vela votiva, este ano com o recorde de participação de mil mulheres. Nesse dia, estava muito calor e foi bastante doloroso, mas o sacrifício valeu a pena, este ano o final do desfile de mordomia foi especial. Entramos todas trajadas na Igreja de São Domingos, onde o Bispo D. João Lavrador nos explicou o verdadeiro sentido de fé e participação na Romaria em homenagem à nossa Sra. d’Agonia”, comentou Sandra, que contou com o envolvimento da família neste “projeto”.
“O meu marido queria fazer uma surpresa e passar as festas comigo em Viana, mas alguns meses antes eu descobri. E, combinado com a minha irmã e cunhado, inscrevi-o para a participação no cortejo etnográfico, sendo assim, a surpresa foi para ele. Foi a primeira vez que desfilamos os quatro juntos no cortejo etnográfico. Este ano participamos com trajes de Festa da Ribeira Lima”, recordou.
“Com todo o entusiasmo até o meu marido, a minha tia e a minha irmã participaram na realização dos tapetes até de manhãzinha, foi uma noite inesquecível e cheia de carinho e amizade. (…) Finalmente, dia 20 de agosto, dia de Nossa Sra. d’Agonia, dia de muita emoção, participei na eucaristia solene, na procissão ao mar e na procissão nas ruas da Ribeira, com traje de festa da Ribeira. Este ano consegui convencer a minha mãe, a minha irmã e a minha tia a participarem comigo em homenagem à minha avó, às minhas avós – materna e paterna -, eram mulheres da ribeira e atadeiras de redes de peixe. Elas ajeitavam as redes danificadas com uma agulha especial”, comentou Sandra.
O presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Luís Nobre, sintetizou que celebrar a Romaria d’Agonia é “o grande fator de união e coesão social e cultural do concelho”. Para este responsável, a Romaria d’Agonia, “a maior de Portugal”, é “o verdadeiro berço da riqueza cultural e religiosa do Minho, onde cabe todo o Portugal, a diáspora e as cidades geminadas”, como “um ponto de encontro de fé, de espiritualidade e de comunidade”.
Ígor Lopes