Jessica Linda Antunes Frangi tem 35 anos de idade e vive na Suíça, onde nasceu. Filha de mãe portuguesa e pai italiano, Jessica é natural de uma localidade perto de Chur, onde cresceu. Em Portugal, tem família no Norte do país, em Amares, que pertence ao distrito de Braga. Tem um primo e a esposa no Porto e também primas perto de Lisboa e Fátima.
“Nós sempre passamos as nossas férias em Esposende, onde também temos uma casa”, contou.
Jessica considera que a sua vida na Suíça “é muito normal, porque cresci aqui e nunca vivi de outra forma”.
“Aprendi com a minha mãe que a vida e a cultura são diferentes. Para mim, os serviços são mais controlados e reservados, menos abertos do que em Portugal. Mas a minha vida aqui é boa; estudei aqui, fiz cursos de enfermagem e depois de podologia. Atualmente, trabalho na área de saúde natural, ajudando a eliminar toxinas emocionais e físicas com produtos naturais. Ajudo mulheres, e também homens, a crescerem na vida e a viverem os seus sonhos de maneira independente e livre do sistema”, contou.
Esta cidadã luso-suíça defende que viver na Suíça tem muito a ver com segurança.
“As pessoas que vêm para a Suíça buscam essa segurança financeira para construir as suas vidas. A Suíça é um país com muitos sistemas e seguros, existe seguro para tudo. Acho que viver na Suíça dá a muitas pessoas essa sensação de segurança. No entanto, também acredito que a Suíça está se tornando cada vez mais cara, o custo de vida é alto. Para mim, viver aqui significa trabalhar muito e não ter tanto tempo livre ou não aproveitar o tempo livre tanto quanto seria possível em Portugal”, avançou.
Jessica conta que trabalhou muitos anos como podóloga, cuidando dos clientes num consultório próprio durante 13 anos, “e adorei o meu trabalho”.
“Gostava de ajudar os clientes com problemas de saúde nos pés e de conversar com eles sobre a vida. Atualmente, trabalho como mentora e coach. Ajudo as pessoas a entenderem o impacto das toxinas no dia a dia e a evitá-las, porque afetam a nossa saúde mental e física. Falo muito sobre este tema na minha conta no Instagram. Desde os meus 16 anos, já não uso medicamentos, apenas quando necessário. Acho que as pessoas hoje em dia abusam muito dos comprimidos e das toxinas. Sou vendedora de produtos naturais, como óleos essenciais, vitaminas e outros produtos sem toxinas. O meu trabalho é em marketing de rede, ajudando pessoas a alcançarem a liberdade financeira e pessoal”, disse Jessica, que mantém “vários contactos com portugueses na Suíça, mas não participa em grupos específicos.
“Contudo, sempre respeitei as minhas raízes e a cultura portuguesa. Ajudei várias pessoas de Portugal a encontrar trabalho na Suíça e sempre tive algum contacto com os portugueses, especialmente através de familiares e amigos. (…) Acredito que os portugueses são bem recebidos na Suíça, mas é sempre complicado deixar o país de origem e se mudar para um país estrangeiro sem falar a língua local. Os portugueses geralmente ajudam-se muito uns aos outros, o que é bonito. No entanto, há casos em que alguns se aproveitam de outros compatriotas, o que acho muito triste. No geral, os suíços gostam dos portugueses e confiam neles porque sabem que são trabalhadores dedicados”, relatou Jessica.
A nossa entrevistada recorda que, “quando era pequena, frequentava a escola portuguesa e algumas associações portuguesas. Na juventude, costumava sair com amigos para jantares ou eventos em associações. Hoje em dia, já não participo tanto, pois tenho amigos suíços e portugueses fora desses grupos. No entanto, acredito que essas associações são importantes para quem quer se sentir em casa e preservar a cultura portuguesa”.
Sobre a forma como consegue matar as saudades de Portugal, Jessica não esconde que, “durante muitos anos, ia de férias para Portugal, também come portuguesa, ouve música portuguesa e passa o tempo com portugueses na Suíça, mas, recentemente, sinto que as minhas raízes são de lá, e tenho um desejo muito forte de voltar a viver em Portugal para me sentir plenamente conectada às minhas origens”.
“Vivo com o meu marido e as minhas duas filhas numa pequena aldeia perto de Chur. Gostamos de viver aqui, mas sentimos falta de Portugal e da energia que nos atrai para lá. (…) Para mim, regressar a Portugal de férias é como voltar para casa. Portugal dá-me uma força enorme; adoro o mar, o ar, a comida, a energia das pessoas e o carinho que têm uns pelos outros. A energia e o bem-estar são diferentes, e a qualidade dos alimentos a nível de vitaminas e toxinas é melhor do que aqui na Suíça, assim como a energia mais pura do país, que também é são diferente”, explicou.
Jessica revela que pensa em voltar a viver em Portugal e está a planear este projeto juntamente com a família.
“Sinto-me muito feliz com essa decisão. (…) Na Suíça, concluí os meus estudos em enfermagem e podologia, tive uma empresa de sucesso durante 13 anos, e abri outra aos meus 32 anos. Aos 35 anos, consegui ser empreendedora de duas empresas com muito sucesso. Conquistei um bom nível de vida, casei, tive filhos e fiz muitas amizades”, adiantou.
Jessica tem duas filhas, de 5 e 9 anos, “que gostam de estar aqui na Suíça”. Hoje, as duas raparigas aprendem português, “pois estamos nos preparando para o regresso a Portugal”. “A Suíça, para mim, representa uma segurança ilusória. Muitas pessoas vêm para cá em busca de melhores condições financeiras, mas o custo de vida é muito alto. Acredito que é possível ter uma boa vida em Portugal com menos dinheiro e mais tempo para desfrutar das coisas simples. (…) Portugal, para mim, é um país com muitas possibilidades. Tem uma natureza espetacular, uma infraestrutura boa e pessoas de muito bom coração”, ressaltou Jessica, que contou um pouco da história da chegada da sua família à Suíça.
“A minha mãe veio para a Suíça como estudante para trabalhar e ganhar dinheiro, conheceu o meu pai e nunca mais voltou. Eu cresci aqui, mas sempre senti falta das minhas raízes em Portugal. Aqui na suíça eu nunca me senti completa. É como se uma parte minha faltasse”, revelou.
Sobre o futuro, Jessica diz esperar “alegria, saúde, liberdade e momentos únicos. Quero que as minhas filhas cresçam em Portugal, cercadas de amor e amigos”.
Em relação à diferença de vida entre Portugal e a Suíça, na opinião de Jessica, é que, embora ainda não tenha vivido muito tempo em terras lusas, “sinto que em Portugal há mais amor, respeito e uma qualidade de vida mais autêntica, com mais simplicidade e menos custos. Portugal tem tudo o que precisamos para fazer uma boa vida”.
“Acredito que os portugueses na Suíça sentem saudade do seu país. O dinheiro pode dar uma falsa sensação de segurança, mas o coração sempre sente falta das tradições, da família e da cultura”, finalizou Jessica.
Ígor Lopes