Depois das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em três concelhos do distrito de Leiria afetados pelos incêndios de 2017: Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera; além de Coimbra, no dia 10 de junho, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, seguiram para a Suíça para celebrar a data nacional lusa junto da segunda maior comunidade de emigrantes portugueses no mundo, com cerca de 260 mil residentes de nacionalidade portuguesa. Esta foi a primeira deslocação conjunta de ambos ao estrangeiro, e envolveu um programa que decorreu nos dias 11 e 12 de junho, passando por cidades como Genebra, Berna e Zurique. O Gazeta Lusófona acompanhou de perto as comemorações oficiais na Suíça.
As celebrações começaram no dia 11, à tarde, em Genebra, com um encontro com alunos do ensino de português no estrangeiro (tema desenvolvido na página 21), que tiveram a oportunidade de colocar questões a Marcelo e a Montenegro, seguido de um encontro com a comunidade portuguesa, que culminou com um concerto da fadista Cuca Roseta e com a participação da jovem fadista luso-descendente Diana Gil.
À chegada à escola “Les Grand-Communes”, com alunos do ensino de português no estrangeiro, na primeira iniciativa na Suíça âmbito das comemorações do Dia de Portugal, uma dezena de professores de português aguardavam pelo presidente da República e pelo primeiro-ministro para “alertar” para a injustiça da falta de atualizações dos salários dos docentes num país onde dizem ser particularmente castigados pela desvalorização cambial.
Neste ponto do programa, o primeiro-ministro português afirmou que o Governo vai “tentar encontrar uma solução” para as reivindicações dos professores de português na Suíça, uma vez que há falta de atualização salarial há 15 anos.
Montenegro, perante alunos da referida escola de ensino português em Genebra, afirmou que deseja que sejam felizes na Suíça, mas frisou que também são necessários em Portugal.
“O nosso objetivo é que sejam felizes e realizados nos locais onde se encontram – alunos, professores e comunidade –, mas nós também precisamos de vocês em Portugal”, afirmou Luís Montenegro, que apelou a que estes jovens continuem a aprender “a língua, a história e a cultura portuguesa” e que “mantenham vivos os laços” que os unem às famílias, amigos e interesses em Portugal.
“O Governo de Portugal, o vosso governo acolher-vos-á no nosso território para ajudar a criar uma sociedade mais forte, social e economicamente, para ser mais justa e dar uma oportunidade a todos”, afirmou.
“grande admiração pela comunidade portuguesa”
Já no dia 12, as celebrações tiveram lugar em Zurique. Horas antes, porém, a comitiva passou pela capital Berna para um encontro e almoço com a presidente da Confederação Suíça, Viola Amherd, que manifestou “grande admiração pela comunidade portuguesa” residente na Confederação e aceitou o convite para ir a Portugal ainda este ano.
“A principal mensagem foi de admiração pela comunidade portuguesa. A senhora presidente, por várias vezes, nomeadamente mesmo na parte mais formal do almoço, em que há um brinde, fez um elogio à comunidade portuguesa aqui na Suíça e à sua presença e à importância para o futuro. E, ao mesmo tempo, aceitou o convite para ir a Portugal até ao fim do ano”, revelou Marcelo Rebelo de Sousa, que disse ter ficado “muito claro” que as relações bilaterais “estão francamente boas e que devem muito à comunidade portuguesa” na Suíça.
Em Zurique, Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Montenegro encontraram-se com representantes da comunidade portuguesa e com a própria comunidade. Houve um fantástico momento com música clássica da responsabilidade de músicos portugueses, que encerraram o programa da dupla comemoração na Suíça (tema desenvolvido nas páginas 22 e 23).
A delegação parlamentar portuguesa desta ‘segunda parte’ das comemorações do Dia de Portugal, sendo estas as primeiras que Marcelo Rebelo de Sousa assinala com o atual primeiro-ministro, Luís Montenegro, que tomou posse no início de abril passado, foi constituída pelos deputados Hugo Carneiro (PSD), Pedro Coimbra (PS), Rui Paulo Sousa (Chega), Mariana Leitão (Iniciativa Liberal), Fabian Figueiredo (Bloco de Esquerda), Alfredo Maia (PCP), Paulo Muacho (Livre) e Paulo Núncio (CDS-PP). Estiveram presentes também o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, e os deputados Paulo Pisco (PS) e José Dias Fernandes (CHEGA), ambos eleitos pela emigração, pelo círculo europeu, entre outros nomes, bem como os conselheiros das comunidades portuguesas eleitos na Suíça.
“os portugueses são muito impor-tantes na Suíça”
Durante a passagem pelo país europeu, o presidente da República destacou a importância da comunidade portuguesa na Suíça, afirmando que este país “não seria o mesmo sem os portugueses”.
“Celebramos aqui porque os portugueses são muito importantes na Suíça. A Suíça não era a mesma se não houvesse portugueses”, disse o presidente da República.
Por sua vez, e diante dos emigrantes portugueses na Suíça, Montenegro pediu ajuda para estreitar as relações económicas entre os dois países, reiterando o apelo para que a comunidade lusodescendente mantenha “a chama viva” da ligação a Portugal.
“O que vos peço é que ajudem o Governo e as instituições portuguesas a ter ainda mais oportunidades para podermos exportar bens e serviços para este país e para podermos acolher em Portugal turistas e investimentos financiados por empresas e investidores que possam contribuir para o nosso desenvolvimento”, defendeu.
“Eu queria agradecer-vos hoje aquilo que vos devemos em todos os níveis – no prestígio na atividade desenvolvida, na respeitabilidade aqui na Suíça, no serem a comunidade portuguesa que no último ano mais contribuiu em remessas em todo o mundo, ultrapassando a comunidade francesa, e no manterem as ligações à nossa pátria comum. (…) Mas eu também sei que, no meio de tantas virtudes e tantos méritos, a vossa luta nem sempre é fácil. Chegámos e tínhamos aqui problemas com professores porque têm um estatuto que não é exatamente o mesmo, por razões cambiais, de outros colegas deles”, explicou Marcelo, que prometeu à comunidade portuguesa na Suíça que pode contar com “mais presença e mais atenção” aos problemas que afetam os emigrantes portugueses pelo mundo, defendendo encontros regulares.
“Hoje quisemos ouvir o que é que duas dezenas de luso-suíços, conselheiros das comunidades, conselheiros da diáspora, dirigentes associativos, responsáveis ou protagonistas podiam dizer, vindo de diversos cantões, acerca dos problemas da comunidade portuguesa na Suíça”, adiantou o presidente, sublinhando que estes representantes “falaram em nome de 260 mil”, o número oficial de portugueses com cartão de cidadão radicados na Suíça.
No final do encontro, ficou no ar a expetativa de que Marcelo Rebelo de Sousa possa vir a realizar as comemorações do Dia de Portugal, em 2025, junto dos portugueses na Venezuela, na América do Sul.
Embaixador ficou agradado
Nas duas sessões protocolares apenas usaram da palavra Marcelo Rebelo de Sousa, Luís Montenegro e Júlio Vilela, embaixador de Portugal na Suíça. No fim do evento o embaixador manifestou total agrado pela forma como tudo decorreu, com “elevada participação da comunidade portuguesa residente na Suíça, as celebrações da Festa Nacional que contaram, pela primeira vez, com a presença simultânea de Suas Excelências o Presidente da República e o Primeiro Ministro. Reuniões com professores e alunos de português, encontros com membros da comunidade, receções e dois concertos em Genebra e Zurique, constituíram pontos altos do programa, que incluiu, também, reunião e almoço de trabalho em Berna com a Senhora Chefe de Estado Suíça, Viola Amherd”, referiu Júlio Vilela.
“Caminho” do 10 de junho
Quando assumiu a chefia do Estado, em 2016, Marcelo Rebelo de Sousa lançou, em articulação com o então primeiro-ministro, António Costa, e com a participação de ambos, um modelo inédito de duplas comemorações do 10 de Junho, primeiro em Portugal e depois junto de comunidades portuguesas no estrangeiro.
Recorde-se que a Suíça é o sétimo país estrangeiro a acolher a celebração, após França (2016), Brasil (2017), Estados Unidos (2018), Cabo Verde (2019), Reino Unido (2022) e África do Sul (2023), sendo que em 2020 e 2021 só houve cerimónias em Portugal devido à pandemia da covid-19.
O presidente da República, que já havia realizado uma viagem oficial à Suíça em 2016, teve, entretanto, novos compromissos no país helvético, quando chefiou a delegação portuguesa durante a Cimeira de Paz para a Ucrânia que decorreu perto de Lucerna nos dias 15 e 16 de junho. Nesta oportunidade, Marcelo esteve acompanhado pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Rangel.
Texto: Adélio Amaro e Ígor Lopes
Fotografia: Miguel Figueiredo Lopes / Presidência da República