› Adélio Amaro
Miguel Traquina nasceu em Alcobaça e chegou a Genebra em 2021, com 18 anos, para começar os seus estudos na Haute École de Musique de Genève (HEM), tendo começado, nessa altura, a sua licenciatura em música. Apresar de frequentar uma instituição de ensino superior em Genebra, reside em Gaillard.
Começou a aprender percussão com o professor Paulo Assunção quando ingressou no ensino articulado de música – Academia de Música de Alcobaça – no início do quinto ano do ensino básico (2013). Durante os 5 anos em que fez parte daquela instituição, teve a oportunidade de realizar diversos projetos com vários grupos, nomeadamente os concertos realizados com a Banda Sinfónica de Alcobaça no âmbito do festival “Cistermúsica”, destacando o concerto em julho de 2017 pelo maestro Jean-Sébastien Béreau. No ano seguinte, 2018, com apenas 15 anos, ingressou na Escola Profissional de Música de Espinho (EPME), a 200 quilómetros de casa, onde lhe foi possível aprofundar os seus estudos na área da música. Orientado pelos professores Nuno Simões, André Dias, Eduardo Cardinho, Rui Rodrigues e Joaquim Alves, conseguiu continuar a realizar diferentes projetos de grupo como os de orquestra e música de câmara, assim como “a descobrir-me enquanto músico e artista”, segredou Miguel Traquina ao Gazeta Lusófona, acrescentando que “esta opção de formação académica trouxe-me também a possibilidade de contactar com outros músicos e artistas de todo o mundo, realizando, inclusivamente, projetos em comum com muitos deles”.
Em maio de 2021 teve a oportunidade de se apresentar, enquanto solista, com a Orquestra Clássica de Espinho, com quem tocou o concerto para marimba e orquestra de cordas do compositor Peter Klatzow.
Determinado a alargar a sua experiência musical e a aumentar os desafios a nível académico, concorreu à Haute École de Musique de Genève (HEM), onde se encontra, desde 2021, a realizar a sua formação de nível superior, com a orientação dos professores Philippe Spiesser, Christophe Delannoy, François Desforges e Claude Gastaldin. Desde então, tem estado concentrado em desenvolver as suas competências no repertório a solo contemporâneo para percussão, nunca deixando de se apresentar em projetos de grupo e com programas diversificados. Nesse âmbito, por exemplo, realizou sete concertos com a Orchestre de la Suisse Romande (OSR). A concluir a sua licenciatura, pretende continuar em Genebra e frequentar um mestrado a partir do próximo ano letivo.
Embora jovem, começa a ter uma grande experiência musical. Já trabalhou com vários artistas, maestros e compositores consagrados e alcançou diversos prémios.
O seu gosto pela música nasceu muito cedo, no âmbito familiar, “tendo sido «exposto» a diversos estilos musicais, desde a música clássica até aos grandes clássicos dos anos 80 e 90”, refere Miguel Traquina. O músico recorda que “quando era criança, talvez com 5 ou 6 anos, uma das primeiras coisas que fazia ao chegar a casa ao fim da tarde era ouvir o famoso concerto dos Queen em Wembley que tínhamos num DVD. Fi-lo por inúmeras vezes, e, por estranho que possa parecer, nunca me cansei. Ainda hoje sou um grande fã do grupo e a sua música continua a fazer parte da minha vida. Além disso, alguns dos membros familiares que me
são mais próximos estão ligados à prática musical, ainda que de forma amadora. Tudo isto me levou a desejar aprender a tocar um instrumento musical, o que me levou a ingressar no ensino articulado da música na cidade onde cresci. Isto possibilitou-me não só desenvolver as minhas competências no instrumento que acabei por escolher (percussão), mas também entrar e fazer parte do meio musical da minha região. Alguns anos mais tarde, após a realização de diversos projetos musicais, deparei-me com a típica e inevitável questão sobre o meu futuro profissional e percebi que era nesta área que gostaria de fazer carreira”, contou Miguel Traquina ao nosso jornal. Contudo, revelou, também, que aquela decisão “foi a natural consequência do gosto que adquiri, no início da minha formação musical, por realizar performances musicais e por superar os diversos e inesperados desafios que a prática instrumental diária me apresenta. Aliás, foi isto que me levou a querer especializar e aprofundar os meus estudos musicais o mais cedo possível, ingressando na Escola Profissional de Música de Espinho (EPME) para cumprir a minha formação de nível secundário”, revelou Miguel Traquina.
Embora focado nos seus projetos a solo, não deixa de participar, ocasionalmente, em projetos de grupo, apresentando-se em concerto com diferentes orquestras da cidade de Genebra (incluindo a Orchestre de la Suisse Romande) e fazendo parte do projeto “Strasbourg Instantanés”, uma parceria entre a Haute École de Musique de Genève, a associação Contrechamps e a Unidade de Musicologia da Universidade de Genebra (UNIGE), em torno de obras do compositor Georges Aperghis.
Quando questionado sobre os seus objetivos a curto prazo, refere, sem exitar que dada a sua vontade de desenvolver uma carreira a solo, tem como objetivo “participar em diferentes concursos internacionais, esperando, naturalmente, vir a obter bons resultados, para me dar a conhecer no mundo da percussão contemporânea, o que seria favorável à carreira que desejo construir e permitiria, eventualmente, realizar futuros projetos em diferentes partes do mundo. No âmbito do meu desenvolvimento enquanto músico solo, tenho ainda como meta poder fazer parte do conceituado programa de solistas oferecido pela Universidade que frequento aos alunos de mestrado, direcionando assim a minha formação para as minhas necessidades futuras enquanto artista a solo. Por fim, tenho ainda como principal objetivo crescer enquanto músico, através de contactos e encontros com outros artistas ou através de outras experiências pessoais que a minha estadia na Suíça me poderá proporcionar”, desvendou o jovem músico ao Gazeta Lusófona.
Miguel Traquina reconhece que o investimento na cultura na Suíça é enorme e permite oferecer um “vasto e diversificado leque de opções de eventos musicais à população”, de tal forma que “permite que os músicos se apresentem frequentemente em concerto, independentemente do estilo de música que praticam ou até do facto de poderem ser «apenas» músicos amadores. Além disso, enquanto ainda músico estudante, é de destacar a quantidade de oportunidades que a escola que frequento oferece aos seus alunos, possibilitando-nos trabalhar com artistas de renome internacional e promovendo eventos para que nos apresentemos em concerto regularmente e facilmente em diversas salas do país e em diversos contextos. Posto isto, apesar das oportunidades que Portugal tem para oferecer aos músicos, considero que estas estão ainda aquém do que encontro na Suíça, e esta foi uma das razões que me levou a partir para solo helvético”, desabafou Miguel Traquina.