› Ígor Lopes
A equipa do jornal Gazeta Lusófona acompanhou, entre os dias 14 e 16 de dezembro de 2023, na cidade de Viana do Castelo, na região do Minho, em Portugal, mais uma edição dos encontros do Programa Nacional de Apoio ao Investidor da Diáspora. A edição de 2023 foi organizada pelo município de Viana do Castelo em parceria com a Comunidade Intermunicipal do Alto Minho e com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte. Esta iniciativa é coordenada pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas e pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Regional.
O evento, que juntou cerca de 600 participantes, alguns deles oriundos da Suíça, com destaque para empresários, investidores e empreendedores. O encontro decorreu no Centro Cultural de Viana do Castelo, foi uma “montra privilegiada para o networking com vista a estabelecer parcerias e lançar as bases de futuros negócios, com toda a rede de organismos públicos envolvidos no processo de criação de empresas a marcar presença no recinto, do IAPMEI à AICEP, passando pelo Instituto dos Registos e Notariado”, disse Cristina Coelho, coordenadora do Gabinete de Apoio ao Investidor da Diáspora. Ao todo, 15% dos participantes vieram do estrangeiro de 34 países diferentes, em especial da França e do Brasil. Foram uns encontros essencialmente empresariais sendo que mais de 60% dos participantes eram empresas, empreendedores e investidores. Houve 104 intervenientes ativos, 67 oradores, 37 pitch e 56 expositores. O local contou com a presença de vários nomes ligados às comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, bem como empresários e elementos do movimento associativo luso-suíço.
Paulo Cafôfo, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, revelou à nossa reportagem que “este foi um evento de grande magnitude e que acaba por ser um momento para falar não só dos investimentos da diáspora portuguesa, mas da importância estratégica da diáspora portuguesa para Portugal. (…) não há futuro para Portugal sem uma integração e interligação com a diáspora portuguesa, este é o nosso futuro, um futuro coletivo que depende muito daqueles que estão fora de Portugal, mas que nunca se esqueceram do nosso país”.
Isabel Ferreira, secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, disse estar “muito satisfeita, desde logo pela enorme adesão que tivemos, com quase 700 participantes presencialmente em Viana do Castelo, mas, certamente, muitos mais tiveram oportunidade de acompanhar o encontro que foi transmitido por via digital. E é também uma oportunidade que nós temos para partilhar os resultados de um programa tão importante para o Governo, (…) e tive também a oportunidade de, mais uma vez, conhecer inúmeros exemplos de investidores interessados da nossa diáspora em regressar a Portugal para viver, trabalhar e investir neste nosso território e, por isso, queremos mesmo continuar as medidas de apoio a esse regresso e, ao mesmo tempo, medidas complementares que apoiem o investimento empresarial, que apoiem a ideia de negócio e que apoiem também o emprego e a contratação de pessoas para desenvolverem esse mesmo negócio”.
Paulo Pisco, deputado eleito para atuar na Assembleia da República de Portugal pela emigração pelo círculo europeu, referiu que “este encontro não é apenas para os investidores da diáspora, é para aqueles que querem investir no nosso país, que vivem no estrangeiro, é também um momento em que os portugueses que estão espalhados pelo mundo se encontram para constituírem ligações para reforçarem uma rede de conhecimentos e de contactos e, assim, reforçar também a capacidade de afirmação das nossas comunidades. É claro que o objetivo principal tem a ver também com a atração de investimento, dar a conhecer as oportunidades e criar networking para pôr as pessoas em contacto para saber quais oportunidades existem e, neste caso, tem corrido bem, tem havido muitos contactos com pessoas que têm empresas em Portugal e que querem atrair o investimento e compatriotas nossos que vivem no estrangeiro e que querem também investir em Portugal e exploram as possibilidades desse investimento. Portanto, os objetivos do encontro são atingidos e o encontro é muito positivo. Além desta dimensão do investimento, tem também a dimensão da capacidade de afirmação da nossa diáspora e do reforço da dimensão de rede entre os portugueses residentes no estrangeiro”.
Para Luís Nobre, presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, o PNAID 2023 foi também uma “oportunidade, num primeiro momento, para a cidade mostrar à nossa diáspora a capacidade que tem para organizar eventos na área da promoção territorial e na perspetiva de alavancarmos a área do turismo”, além de “gerar uma dinâmica em que os múltiplos agentes promovam a nossa cidade e o nosso Conselho”.
José Andrade, diretor Regional das Comunidades do Governo dos Açores, explicou que o objetivo da sua participação no evento em Viana do Castelo foi “divulgar a gestão das políticas regionais relacionadas com a diáspora, bem como auxiliar na afirmação dos Açores no mundo”.
“Foi uma oportunidade de podermos reencontrar algumas questões estratégicas que nos representam, como a cumplicidade açoriana, designadamente nos Estados Unidos, no Canadá, no Brasil. E, ao mesmo tempo, a oportunidade de podermos alargar horizontes, estabelecer novos contactos. Nós, que estamos estrategicamente posicionados em pleno Atlântico Norte entre o velho continente e o novo mundo, temos essa posição privilegiada de poder ser a frente avançada de Portugal e da Europa relativamente ao continente americano, onde temos, aliás, a maior parte das nossas comunidades”, disse José Andrade.
José Albano, diretor executivo do Ponto de Contacto para o Programa Regressar, esteve no evento em Viana do Castelo horas depois de ter passado por localidades como Martigny, La Chaux-de-Fonds, Lucerna e Basileia a promover os apoios existentes no âmbito do programa que lidera.
“Ainda há poucos dias estivemos na Suíça onde realizamos cinco sessões com muita participação de portugueses, onde subtendemos que existem muitos cidadãos lusos que desejam regressar a Portugal e aos quais podemos apoiar. Ao ajudarmos, estamos a tentar realizar o sonho desses portugueses. Com estes eventos, sabemos o sentimento e os anseios das nossas comunidades”, mencionou José Albano.
Na visão de Flávio Martins, presidente do Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Portuguesas (CP-CCP), “o PNAID 2023 foi um momento de encontros, de troca de experiências e eu espero que o resultado seja o melhor possível, não apenas para aqueles que vivem aqui em Portugal, para a economia portuguesa, mas também para aqueles que, vivendo no estrangeiro, têm interesse ou de trazer a sua experiência para Portugal ou mesmo de investir em projetos que sejam apresentados por aqueles que cá vivem. Portugal, hoje, dá uma atenção muito grande às questões da sustentabilidade, da transição energética, da transição climática, do desenvolvimento social e económico, fundado também na garantia, na preservação das futuras gerações. Acho que Portugal está no caminho certo. Há quem tenha interesse nas nossas comunidades e quem procura investir também nessa área”.
Movimento associativo
Diversos responsáveis por entidades e associações lusófonas sediadas um pouco por todo o mundo estiveram presentes com o objetivo de estreitarem os laços com o governo de Portugal, bem como com outras estruturas públicas e privadas.
Manuel Cunha, presidente da Associação Empresarial de Viana do Castelo, aproveitou o evento para divulgar que a entidade foi, recentemente, reconhecida como Câmara de Comércio, o que “aumenta a escala de serviço, a tipologia de serviços e cria novas responsabilidades e oportunidades, como a possibilidade de alcançar a grande indústria transformadora e as multinacionais que se instalam no território minhoto para podermos também promover eventos e fazer todo o trabalho de representatividade e, obviamente, o nosso foco maior na Câmara de Comércio é a internacionalização das nossas empresas”.
Já António Fiuza, presidente da Câmara Portuguesa de Comércio e Indústria do Rio de Janeiro, destacou que a entidade que lidera comemorou, no ano passado, 112 anos, e, por isso, “não poderia deixar de estar presente num evento com esta grandeza e importância para a diáspora portuguesa como é o PNAID”.
De igual forma, Bruno Gutman, diretor norte do escritório europeu da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (FUNCEX Europa), acredita que participar no PNAID assume uma grande relevância estratégica para a entidade.
“É importante a Funcex ter um papel relevante no seio da diáspora no sentido de ajudar, mas, também, de colaborar com empresários e investidores que queiram vir para Europa ou que queiram ir para os países de língua portuguesa, no ambiente CPLP. Por isso, estamos jutos ao PNAID para que possamos atrair esses lusodescendentes para que venham investir em Portugal e, a partir daqui, para todo o resto da Europa”, defendeu Gutman.
Por seu turno, Carlos Vinhas Pereira, presidente da Câmara de Comércio Franco-Portuguesa, atestou que o trabalho central da entidade passa por “procurar e identificar empresas lideradas por portugueses, com capitais e afinidades portuguesas, para poder contactá-las e convencê-las a investirem em Portugal e o PNAID é mais um trunfo que vai permitir dar vantagens a estas empresas, pois temos que informar os nossos associados sobre as medidas existentes, o que vai facilitar a internacionalização dessas mesmas empresas”.
Outras entidades também marcaram presença, como a Câmara de Comércio da Região das Beiras, a Plataforma – Associação dos Órgãos de Comunicação Social Portugueses no Estrangeiro, da qual o jornal Gazeta Lusófona é signatário e fundador, entre outras estruturas.
Trabalho cultural
O PNAID 2023 contou ainda com um espaço cultural dedicado a escritores. Adélio Amaro, diretor do Gazeta Lusófona, participou com o livro “Insignes Açorianos”; Ígor Lopes, coordenador de redação do nosso jornal, levou o livro “Maria Alcina, a força infinita do Fado”. Já os colaboradores do Gazeta Lusófona, João Morgado e Daniel Bastos, apresentaram as suas mais recentes obras literárias.
“Estamos numa altura política complexa, com eleições no dia 10 de março, mas eu considero que, independentemente do governo que venha a dirigir o nosso país, a diáspora portuguesa e as comunidades portuguesas devem ser alvo de um amplo consenso nacional. Não pode haver aqui, seja na política externa portuguesa, mas também na diáspora portuguesa, qualquer divergência de fundo relativamente aos diversos partidos, pois a diáspora é demasiado importante para ser alvo de disputas político-partidárias, porque aquilo que está em jogo é o interesse do País e o interesse do País inclui aqueles que vivem fora deste País”, finalizou Paulo Cafôfo.