› Ígor Lopes
Ana Costa é imigrante portuguesa na Suíça. Completou 50 anos de idade em dezembro de 2023 e é natural de Oliveira do Bairro, Aveiro. A maior parte da sua família reside nesse distrito, embora alguns membros estejam também emigrados, nomeadamente no Luxemburgo e em Espanha. É a única a residir na Suíça, juntamente com o seu filho mais novo.
Ana Costa é imigrante portuguesa na Suíça. Completou 50 anos de idade em dezembro de 2023 e é natural de Oliveira do Bairro, Aveiro. A maior parte da sua família reside nesse distrito, embora alguns membros estejam também emigrados, nomeadamente no Luxemburgo e em Espanha. É a única a residir na Suíça, juntamente com o seu filho mais novo.
Reside no país helvético há quatro anos. Viveu, primeiramente, no cantão de Valais, tendo-se transferido para Zurique há três anos. Considera-se uma pessoa multifacetada, dedicando-se a várias atividades.
Foi professora de Português e de Francês na escola pública em Portugal durante 24 anos, função que exerce desde que chegou à Suíça em escolas de línguas. Sendo essa a sua formação de base, que seguiu e exerce por paixão, refere que tem sido simultaneamente “surpreendente e gratificante” ensinar a língua portuguesa e divulgar a cultura lusa noutro país essencialmente a estrangeiros, designadamente suíços, embora conte também com alunos de descendência portuguesa.
Nos últimos anos tem realizado formação na área do desenvolvimento pessoal, pela qual se apaixonou e na qual se encontra a desenvolver um projeto que visa levar às pessoas a “impactante transformação que vivenciou em si mesma” e, consequentemente, mudou a sua vida, sob o slogan “Semeando sonhos, soprando transformações”. Neste sentido, atua como Coach de Desenvolvimento Pessoal nas áreas de Felicidade e Bem-estar, Coaching Emocial Humanizado e Master Coaching, Practitioner de PNL, Especialista em Reprogramação de Crenças, Inteligência Emocional e Análise Comportamental, Mentora e Palestrante.
É também escritora. Lançou o livro “Legado, o valor de uma vida”, em coautoria, em vários países, e encontra-se a escrever o seu segundo livro, que planeia lançar ainda este ano. No ano passado, começou ainda a desempenhar a profissão de Agente de Segurança, na Apple Store, tendo feito formação que a habilita para tal em Zurique.
Esta cidadã portuguesa refere à nossa reportagem que “a vida na Suíça difere um pouco de cantão para cantão e de região para região”. Pela sua experiência pessoal na Suíça francesa e na Suíça alemã, afirma “registar-se um notório contraste no ritmo de vida e nas pessoas. Em Zurique sente que o ritmo é bastante mais frenético do que em Sion”, acentuando-se ali a exigência que marca o país, mas, em contrapartida, oferece-se um leque de oportunidades muito mais variado do que em Valais, nomeadamente no domínio profissional”.
Relativamente aos sistemas de ensino, refere que são muito diferentes em Portugal e na Suíça, país onde se estimula e promove uma maior habilitação e formação profissional para o desempenho precoce com qualidade de qualquer profissão, sendo a formação académica de nível superior de “mais difícil acesso dado a exigência do sistema”.
Afirma ser com grande satisfação que o feedback que vai recebendo sobre a comunidade portuguesa “nos carateriza como um povo empenhado e muito trabalhador”. Já quanto à integração parece sentir ainda alguma resistência por parte de alguns membros, mas compreende que os valores nacionais falem mais alto e que queiram preservar a nossa identidade.
O balanço que faz da vida na Suíça é “muito positivo”. Agrada-lhe bastante a organização que caracteriza o país, o respeito pelas regras, a eficiência e a qualidade das estruturas, realidade que contrasta com o nosso país, mas salienta que a exigência diária não torna a vida fácil como frequentemente pode pensar-se em Portugal. “A Suíça oferece oportunidades, mas também exige muitas contrapartidas”, frisou.
Confessa-se apaixonada pela cidade de Zurique, uma cidade cosmopolita, onde coabitam pessoas de inúmeras proveniências, “extremamente dinâmica e com múltiplas possibilidades”. Aprecia a oferta cultural proporcionada, nomeadamente na dinamização frequente de atividades de várias índoles.
No país conseguiu realizar um dos seus grandes sonhos: ser professora de Desporto, dada a sua paixão pela área desde tenra idade, tendo sido recordista nacional de 60m com barreiras e campeã nacional de salto em comprimento. No cantão de Valais, foi treinadora de futebol de crianças numa academia inglesa e também de Unihockey num clube, atividades que “lamenta ter interrompido devido à sua transferência para Zurique”.
No que concerne à convivência com a comunidade portuguesa, refere que era “mais estreita” no cantão do Valais, pensa que por estar mais concentrada ali ou tratar-se de um meio mais pequeno, onde é mais notória a sua presença. Ainda assim, no último ano e meio travou conhecimento com vários membros com quem mantem contacto em vários pontos do país, tendo já boas amizades entre eles. Frequenta alguns centros e associações e participa em atividades dinamizadas por portugueses, quer em Zurique, quer em Basileia, o que lhe tem permitido manter a ligação às raízes lusitanas. Manifestou-se orgulhosa de tais iniciativas e referiu ter planeadas para este ano atividades que promoverá no sentido de partilhar os seus conhecimentos e competências e de dignificar as suas origens, esperando uma boa recetividade.
“Claramente que o coração de imigrante é sempre um coração dividido. No meu caso, tento atenuar o impacto deste facto na minha vida, aceitando a oportunidade que me foi proporcionada. Estou grata por todo o desenvolvimento e aprendizagem que a vida na Suíça me tem proporcionado. Viver noutro país a pensar constantemente no seu país seria uma autotortura, que não pretendo vivenciar de todo. Daí que aceitação e a gratidão sejam o caminho que escolho para o meu bem-estar”, esclareceu Ana.
Embora afirme que “não seja fácil permanecer num país estrangeiro apenas com um filho adolescente, mantendo as relações com família e amigos quase exclusivamente de forma virtual”, de momento não equaciona um regresso a Portugal. Ana conclui afirmando que “espera do futuro oportunidades risonhas para o seu filho, bem como o sucesso dos seus livros e do seu projeto, levando sonhos e transformações às pessoas, nomeadamente no seio da comunidade portuguesa”.