› Liliana Azevedo
Fórum Português da Suíça
› Maria de Lurdes Gonçalves Coordenação do Ensino Português na Suíça
No passado dia 11 de março, o Musée d’histoire de La Chaux-de-Fonds abriu as suas portas à comunidade portuguesa. E esta, não só respondeu favoravelmente, como se deslocou em peso. Cerca de duzentas e trinta pessoas, jovens e menos jovens, vindas do cantão de Neuchâtel, mas também de Berne, Vaud e Valais, visitaram a exposição “Enfants du Placard. À l’école de la clandestinité” nessa tarde.
A exposição foi comentada por alunas e alunos do Curso de Língua e Cultura Portuguesas no Collège de Promenade, em La Chaux-de-Fonds, que acolheram os/as visitantes. Apresentaram-lhes os diferentes espaços da exposição e explicaram-lhes as circunstâncias em que, na segunda metade do século XX, viviam os filhos e as filhas de trabalhadores “saisonniers”, nome dado aos estrangeiros a quem eram concedidos contratos de nove meses para trabalhar nos setores da construção, agricultura e hotelaria-restauração. Nessa altura, a lei suíça não consentia o reagrupamento familiar, e aqueles que tinham mulher e crianças deviam deixá-las no país de origem. Muitos, porém, recusaram esta separação forçada e aqueles que tinham condições de alojamento suficientes arriscaram trazê-las consigo para a Suíça. Obrigadas a viver em clandestinidade, as crianças eram excluídas do acesso ao sistema de ensino público. A exposição retrata as suas condições de vida, mas também a mobilização de algumas franjas da sociedade suíça e ações de solidariedade em favor destas crianças. Em La Chaux-de-Fonds, por exemplo, a professora Denyse Reymond criou, em 1981, à margem do sistema, a “École Mosaïque” para escolarizar os filhos e filhas de “saisonniers”.
Estas vivências são mais frequentemente associadas à migração de origem italiana e espanhola, porque são mais antigas no território helvético e a sua história está mais documentada. No entanto, entre os/as trabalhadores/as portugueses/as que migraram para a Suíça no século passado, muitos/as foram confrontados/as à separação familiar e ao medo de viver “sem papéis”. E várias pessoas foram expulsas do país, por motivos de denúncia e controle de documentos de identificação.
A adesão a esta iniciativa, organizada conjuntamente pelo Fórum Português da Suíça (FPS) e pela Coordenação do Ensino Português na Suíça (CEPE), superou em muito as nossas expectativas. O espaço da exposição rapidamente se tornou pequeno para acolher tanta gente e foi necessário fazer fila para entrar. Também a sala onde decorreu a conversa que se seguiu à visita se revelou exígua para a quantidade de pessoas interessadas em ouvir e falar sobre a história da migração portuguesa para a Suíça. Os mais pequenos, sentados em almofadas no chão, também participaram da conversa: “Não gostava de não poder ir à escola”, exclamou uma menina que, apesar da sua tenra idade, compreendeu a gravidade do que ali estava a ser contado.
A tarde encerrou com umas breves palavras do Embaixador de Portugal na Suíça, Júlio Vilela, referindo-se tanto à importância da exposição, como à da iniciativa. Dar a conhecer esta parte da história da migração portuguesa é uma forma de consciencializar os mais novos do caminho percorrido desde que os primeiros emigrantes portugueses chegaram à Suíça até à atualidade, declarou.
Foi um dia carregado de emoções para muitas das pessoas presentes. Agradecemos a presença e participação de todas e todos. E deixamos um agradecimento em particular às alunas e alunos que comentaram a visita: Hugo Dias Oliveira (11.º ano), Maria Clara Miguel Santos (12.º ano), Ricardo Miguel Batista Ferreira (7.º ano), Sofia de Almeida Pinho (12.º ano), Stéphanie Fernandes Pinto (7.º ano); e à Professora Isabel Gregório, pelo seu empenho e dedicação na preparação desta atividade. Um agradecimento também ao Paulo Calçada, empresário em Le Locle, que teve a gentileza de oferecer o Porto de Honra.
Foto: Telmo Guerra