› Adélio Amaro
Marta Cardoso Patrocínio nasceu no Porto, iniciou os estudos aos sete anos com Maria João Pimentel e, três anos, depois foi admitida no Conservatório de Música do Porto, na classe de Eduardo Resende.
Premiada em diversos concursos nacionais e internacionais, destacam-se em Portugal os prémios “Margarida Brochado”, “Prémio Casa da Música” e “Prémio Orquestra do Norte”. Este último possibilitou a sua estreia com Orquestra, em 2012, sob direcção do Maestro Ferreira Lobo.
Em 2012, ingressou na Universidade de Artes de Zurique (Suíça), onde terminou em 2015 o “Bachelor of Arts” com nota máxima, sob orientação de Till Fellner. Seguiu-se um Mestrado em Performance e, posteriormente, o Mestrado em Pedagogia com Konstantin Scherbakov. Em 2021-2022 realizou uma Pós-graduação “Concert Soloist” com Sergei Edelmann no Royal Conservatory of Antwerp, na Bélgica.
Marta teve a honra de tocar como solista com a Orquestra Musikkollegium Winterthur, na Stadthaus Winterthur e, no Verão de 2018, com a Jenaer Philharmonie, em Weimar. A música de câmara está muito presente na sua actividade musical, tendo atuado em diferentes formações na Europa. Partilhou o palco com Orfeo Mandozzi, Mischa Chung, Klaus Schwärzler e Andreas Berger. Tem um duo com a violoncelista Hyazintha Andrej desde 2018.
Marta teve o privilégio de trabalhar com prestigiados nomes do panorama pianístico como Maria João Pires, Konstantin Scherbakov, Lilya Zilberstein, Emanuel Ax, José Ramon Mendez, Artur Pizarro, Christian Zacharias, Christine Schornsheim, Paulo Oliveira, Pedro Burmester, entre outros.
A pianista foi bolseira das fundações Zaczkowski, Hirschmann, Elsy Meyer, Freundeskreis ZhdK e fez parte do programa Live Music Now Switzerland.
Como tudo
começou
Atualmente a leccionar no Conservatório de Zurique, na cidade onde reside, afirma que o seu gosto pela música nasceu por intermédio do seu pai e dos avós. Este é “um verdadeiro amante e conhecedor de música de variadíssimos estilos, portanto havia sempre música em casa” Também os seus avós maternos “cantam muito bem”. O seu avô paterno tocava e “tinha um piano e um dos meus tios é músico amador”. Verdadeiramente inserida numa família de músicos, também os meus primos são músicos profissionais, “iniciaram o estudo do piano e eu ficava maravilhada quando os ouvia e eles me ensinavam algumas passagens”. Mas, o principal responsável, acabou por ser o seu avô materno, que a levou à primeira aula de piano, “tive a oportunidade de dar rumo a esta paixão”, segredou Marta Patrocínio. ao Gazeta Lusófona.
A sua carreira é bastante diversa. Tem feito concertos a solo. Toca música de câmara e faz também acompanhamento, como por exemplo na Universidade de Artes de Zurique ou no Conservatório de Zurique. É professora de piano no mesmo Conservatório. Para a Marta “todos estes diferentes focos me realizam bastante e tornam a minha vida versátil, enriquecedora e desafiante”.
Contudo, continua a ter o desejo de estudar, ainda mais, a literatura para piano solo e música de câmara, este “é um objetivo pessoal que tenho sempre presente; realizar concertos e continuar a crescer individualmente e com os meus colegas, com quem tanto partilho nos ensaios e em palco”.
Quando questionada sobre um sonho a realizar, a pianista portuguesa disse-nos que “tinha o sonho em pequena de ver um concerto da Martha Argerich e de ouvir, conhecer e trabalhar com a Maria João Pires, mas ambos já aconteceram e foram momentos únicos para mim. Neste momento o meu objetivo é o de gravar o meu primeiro álbum a solo – esse é um sonho que quero muito concretizar”, afirmou.
Tendo em conta a sua carreira de enorme sucesso, o Gazeta quis saber a sua opinião sobre as oportunidades que Portugal e Suíça oferecem para os músicos, fazendo a comparação entre ambos oa países. Marta Patrocínio reconhecem que “na Suíça há mais possibilidades financeiras e também há mais investimento na cultura e nas artes. A maioria dos suíços tem a possibilidade de adquirir um bilhete para ir a um concerto. Pelo facto de terem também mais tempo livre e melhor qualidade de vida, conseguem ter espaço no seu dia-a-dia para apreciar atividades diferentes das ligadas ao seu trabalho e ao mundo em que se movem”.
Sobre a razão que a levou a estar em Zurique e a sair de Portugal, a Marta afirma que “a decisão de sair não teve a ver com a qualidade dos professores com quem viria a estudar, mas sim com uma falta de oportunidades e perspectivas que eu sentia haver. Não tenho experiência própria no ensino universitário, não obstante sei que o nosso ensino é muito bom pela qualidade dos músicos que se formam em Portugal”.
Todavia, não deixou de salientar, “em particular”, que o Conservatório de Música do Porto é uma “escola excepcional onde tive o privilégio de estudar. Diria que estamos bastante acima da média, pois notei a minha grande facilidade a nível da formação musical, a minha experiência em palco e a escola de dedicação e disciplina que trazia comigo, comparativamente a colegas oriundos de diversos outros países”.
Para a pianista portuguesa, em Portugal “há talento sem fim, uma geração com muita qualidade e cheia de dinamismo, festivais com programações extraordinárias a acontecer e muito potencial para explorar”.
Mas, Marta Patrocínio apresenta, nas suas palavras, o desejo para que houvesse em Portugal “mais apoios, patrocínios, um reconhecimento maior da profissão, direitos para os trabalhadores e remuneração justa. A profissão de músico, ou de qualquer artista, é uma profissão de muito estudo, de disciplina e implica termos um enorme leque de competências (criação e desenvolvimento de projetos, vídeo, áudio, entre outras). Para além disso, somos muitas vezes os nossos próprios «managers». Mas todo este trabalho por trás do palco não é visível e, por consequência, não é remunerado”, esclarece.
Mas, foi com alegria que a pianista Marta Patrocínio nos confessou que se sente uma “privilegiada por poder viver da música, por poder juntar a minha área de formação com aquilo que mais me dá prazer fazer”.