Adélio Amaro
José António vive em Oerlikon, Zurique, e está na Suíça desde 1984.
Em Portugal foi carpinteiro e na Suíça trabalhou na restauração, no ramo automóvel e é técnico eletromecânico. Aos 59 anos, verdadeiramente integrado na Suíça, continua a ser um amante do modelismo, das suas maquetas e do artesanato.
Como tem sido a experiência de viver longe do país natal?
O primeiro ano foi um pouco complicado, mas depois adapetei-me bem, tive bons colegas de trabalho e amigos que ajudaram a ultrapassar algumas dificuldades. Nos primeiros sete anos trabalhei na Restauração, depois passei para o ramo automóvel, o que me deu grande sastifação, inicialmente como ajudante, frequentei vários cursos (mecânica) e comecei a fazer manutenção/reparação, hoje estou bem, realizado profissionalmente e entregado neste País.
Mesmo com a pandemia tem conseguido visitar Portugal?
Em 2020 só fui em fevereiro poucos dias antes de começar a pandemia, no Verão não quis arriscar (Quarentena). Em 2021 também só fui uma vez, mas no Verão, este ano espero ir em março e no Verão.
Sabemos que em Portugal foi carpinteiro.
Sim, com 14 anos fui trabalhar para uma casa de móveis, fiz a aprendizagem de marceneiro e carpinteiro até aos 19 anos (meu avô era carpinteiro e o meu pai também), creio que foi por isso que os meus pais me mandaram para a carpintaria.
Aos 19 anos um vizinho de casa, diretor de uma empresa de porcelana, convidou-me para ir trabalhar para lá na parte de manutenção das máquinas/serilharia/electrecidade, eu disse-lhe que não era mecânico e ele respondeu-me: «eu sei, mas já vi o que tens feito e sei que aprenderás bem rápido» – eu já fazia reparações das motorizadas dos amigos e algumas coisas de eletricidade nos carros. E, assim, entrei no ramo da metalurgia mecânica que me deu grande satisfação porque era e é uma arte da qual me dá muita satisfação.
E na Suíça, qual a sua área profissional?
Trabalhei vinte anos numa oficina de automóveis e estou, desde 2010, numa empresa de empilhadores como técnico eletromecânico.
Como surgiu a sua paixão pelo artesanato e pelo modelismo?
Já em criança fazia e criava brinquedos. O primeiro barco “caravela” em cartão, andava na escola primária 4.º ano. Aos 14/15 anos fiz mais uma, mas forrada a fósforos queimados. Foi aqui na Suíça que comecei a fazer trabalhos mais complicados. Um dia comprei uma caravela em kit plástico para montar, mas não me agradou muito, voltei a fazer uma caravela em fósforos, mas já detalhada e com iluminação interior. Entretanto tive conhecimento da existência dos planos para fazer os barcos à escala e… assim comecei a fazer trabalhos mais perfeitos e económicos porque os kits em madeira são muito caros.
Podemos dizer que o modelismo é uma arte que requer muito tempo e paciência. Tem noção de quanto tempo pode levar a montar ou a fazer uma peça? Quer dar alguns exemplos?
Sim, são trabalhos que requerem muita paciência só pelo simples facto de que não se fazem em dois dias. Por exemplo, o último barco que fiz, “Riva Aquarama, barco italiano anos 50, escala 1:10 em madeira mogno com dois motores elétricos pronto para navegar, mais o reboque para o mesmo e o carro para o transportar, tem cerca de 390 horas de trabalho em 10 meses, todas as peças cortadas e trabalhadas por mim.
Já na “Fragata D. Fernado II” e “Glória” estão mais de 800 horas de trabalho em 2 anos. O plano comprei-o no Museu de Marinha em Lisboa, mas todo o resto foi feito por mim, inclusive os canhões, este é o maior de todos, C. 180 cm X L. 70 cm X A. 130 cm.
Tem feito exposições com as suas peças? Onde? Tem alguma exposição projetada ou que deseje fazer?
Não, nunca fiz nenhuma exposição. Com o Adelino Sá, anterior diretor do Gazeta, chegamos a falar nisso, mas até hoje ainda não tive tempo para a realizar, talvez um dia quando (reformado) voltar a Portugal. Até lá ainda poderei fazer mais algum barco dos planos que estão na gaveta. O último plano que entrou na gaveta é do “Navio Sagres” do Museu de Marinha e Lisboa e creio que vai ser este o próximo que vai para o estaleiro.
Um pouco antes de começar esta pandemia um dos representantes do Centro Lusitano de Zürich falou-me para fazermos lá uma exposição. Talvez quando tudo isto acalmar se possa fazer alguma coisa simpática.