Clément Puippe
E esta, hein?!, é a famosa expressão do antigo jornalista Fernando Pessa nascido em 1902 que adorava andar de bicicleta e que chegou aos 100 anos. O jornalismo, como o ciclismo, não têm idade. Fernando Pessa exerceu a sua profissão de jornalista ao serviço da RTP até aos 90 anos. Mais uma razão para seguir este exemplo de longevidade, boa forma e lucidez, escolhendo a bicicleta para atravessar Portugal de Norte a Sul.
Há muitas boas razões para andar de bicicleta. Agora com o desenvolvimento da bicicleta elétrica com preço mais plausível e maior autonomia da bateria, já não há desculpas para não recorrer a este meio de transporte ecológico e simples, no dia a dia e sobretudo durante as férias. Portugal tem ainda muita relutância, sendo já o primeiro fabricante europeu de bicicletas. Seria desejável acelerar o movimento da utilização das duas rodas.
E porque não descobrir o interior de Portugal de bicicleta seguindo a famosa Estrada Nacional 2 inaugurada em 1944 que vai de Chaves até Faro sobre 739 km. Uma aventura certamente, com muito para viver e apreciar.
Não é necessário uma grande organização. Bastam algumas bicicletas, uma carrinha para acompanhar e estabelecer um programa das regiões a visitar atravessando grandes regiões vitícolas como dos vinhos do Douro, do Dão e do Alentejo. E ao limiar das zonas dos Vinhos Verdes por exemplo de Ribeira de Pena.
Temos bons planos para si nesta “Road 66” portuguesa. Selecionámos algumas etapas (6) deste percurso, com pequenas traições à EN2 para visitar lugares de relevo como o Caramulo e Tomar:
- Peso da Régua – A Região Demarcado do Douro começa precisamente em Mesão Frio, início do Douro Vinhateiro, perto de Peso da Régua, e até à fronteira espanhola. Além dos Vinhos do Porto, vale também a pena provar os tintos do Douro. É possível apanhar o comboio histórico do Douro, de Peso até Tua, numa viagem de 41 minutos, numa locomotiva a vapor construída em 1925. Também há a opção de ir de barco. O restaurante “Castas & Pratos” instalado num antigo armazém ferroviário, perto da estação de Peso da Régua, oferece uma carta de vinhos ímpares e excelentes pratos.
- Ciclovia Viseu – Tondela – Santa Comba Dão: www.ecopista-portugal.com
Desativada em 1988, a Linha do Dão, a obsoleta linha ferroviária entre Santa Comba Dão e Viseu foi transformada em 2011 na Ecopista do Dão. Um percurso de sonho pelos ciclistas. Nos 49 km desta antiga via ferroviária, foi construída uma ciclovia que utiliza as pontes e os túneis antigos. Um lugar ideal para andar de bicicleta ou a pé em família. Talvez a Ecopista mais bonita e convivial de Portugal.
- Caramulo (perto de Tondela), entre serra, museu de arte e coleções de carros antigos: a serra do Caramulo é um sítio privilegiado para apreciar a natureza. O Caramulinho culmina a 1074 metros. No início dos anos 1920, a vila do Caramulo foi criada de raiz para acolher convalescentes. Em 1928 o Grande Hotel passou a sanatório e recebeu doentes com tuberculose. O Caramulo chegou a ser a maior estância da Península Ibérica com 19 grandes sanatórios. A partir dos anos 60 e com a erradicação da doença, os sanatórios foram encerrados e abandonados. Nos anos 90 houve a transformação do sanatório Salazar em Hotel do Caramulo. Ao lado existe hoje a casa do Instituto de Prevenção do Stress e Saúde Ocupacional. Um museu abriga coleções de arte moderna e contemporânea, algumas obras de Amadeo de Souza-Cardoso, Matisse, Dufy e Picasso. A coleção de carros antigos merece mesmo uma visita. E para ficar no tema da bicicleta, terá a oportunidade de admirar alguns exemplares de velocípedes, por exemplo o Tipo Michaux de 1869.
- Tomar (perto de Vila de Rei) – O convento do Cristo é uma obra monumental. Tomar, antiga sede da Ordem dos Templários, exerce um fascínio impressionante, tal como o seu castelo construído no século XII que está classificado como Património da Humanidade. Prestar atenção à sua famosa Janela Manuelina da Sala do Capítulo. A Festa dos Tabuleiros que se realiza todos os quatros anos é uma das mais antigas e maiores de Portugal, em 2019 contou num só dia com 600 mil pessoas.
- Ferreira do Alen-tejo – Existe um local com achados arqueológicos romanos a 3 km de Ferreira do Alentejo, Monte da Chaminé, dedicado à produção de azeite. Tratava-se da Villa romana do Monte da Chaminé. Espaços residenciais e equipamentos vários, como, presume-se, um conjunto termal. Outro ponto de interesse, a Capela do Calvário evoca o martírio do Cristo com as suas paredes “salpicadas” de pequenas pedras graníticas irregulares que se cravam nas paredes e na cúpula, o verdadeiro símbolo do Município. Descobrimos também o Monte Chalaça, este espaço de turismo rural é inserido na planície alentejana: uma piscina e uma quinta pedagógica oferecem um quadro de tranquilidade e privacidade.
- Castro Verde – Vem de “Castrum Veteris” (associado à instalação de um acampamento militar romano) é um lugar de feiras, uma das maiores feiras agrícolas do Alentejo desde 1620. A Basílica Real Nossa Senhora da Conceição, com as sua duas torres quadradas, é o emblema da vila. A 4 km de Castro Verde, em São Pedro das Cabeças, encontra-se o local onde, segundo a lenda, se terá realizado a Batalha de Ourique. Esta famosa batalha (em 25 de julho de 1139) que marca o início do nascimento de Portugal: lenda ou não, ainda não se conseguiu provar definitivamente o lugar preciso desta batalha. D. Afonso Henriques passa a intitular-se “Rei dos Portugueses” a partir de 1140 e reinou de jure a partir de 5 de outubro de 1143, com a celebração do Tratado de Zamora.
E se tiver interesse em participar com outras pessoas nesta aventura de bicicleta. Procuramos quem esteja interessado e parceiros. Para mais informações e contactos, não hesitem em mandar um e-mail para cp@netplus.ch
Tentaremos organizar e aconselhar grupos de 5 ou 6 pessoas para uma travessia completa ou parcial de Portugal (percurso de 7 até 10 dias, com uma média de 30/40 km de bicicleta por dia – o resto da estrada realizando-se num carro que irá acompanhar. Uma viagem personalizada de grupos de amigos (ou desconhecidos) a efetuar em outubro, maio ou junho.