O “2.° Fórum dos Portugueses da Suíça”, dedicado à Comemoração do 50.° aniversário do 25 de Abril ultrapassou todas as expetativas. A homenagem dos portugueses residentes, mas também de pessoas das mais diversas origens, à Revolução dos Cravos, aos seus heróis, aos seus artistas e à sua música, teve um forte impacto nas comunidades locais, mas também em todos os meios de comunicação social.
A Festa da Liberdade abriu a 25 de abril e fechou quatro dias depois com “lotação esgotada”. Mas o que não ficou esgotada foi a esperança aberta pelo 25 de Abril de um Portugal melhor.
Os portugueses residentes na Suíça celebraram orgulhosamente o legado do 25 de Abril corrigindo assim a imagem retrógrada e o sabor amargo deixado pelos resultados das recentes eleições. Foram quatro dias festivos e reflexivos marcados por um tributo forte aos valores de Abril: liberdade, democracia, respeito dos direitos humanos fundamentais. Contudo relembrar abril foi também reforçar a ideia que o país que recebemos em herança e que ajudámos a reconstruir nunca será perfeito. É dever de todos velar pelas liberdades, aprofundar a democracia, rasgar caminhos para mais justiça social.
Como relatado anteriormente a iniciativa da Federação das Associações Portuguesas na Suíça (FAPS), tendo como um dos parceiros a Gazeta Lusófona, promoveu cinco eventos durante os quartos dias festivos com os patrocínios do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, os Municípios de Renens e Prilly assim como várias e associações e entidades privadas1 e a colaboração da Coordenação do Ensino Português/Instituto Camões na Suíça. Aproveitamos aqui a oportunidade para agradecer também as honrosas presenças do Exmo. Sr. Embaixador Dr. Julio Vilela, da Exma Sra. Consul de Portugal em Genebra Dra. Maria Leonor Esteves e do Exmo. Sr. Dr. Porfírio Pinheiro, responsável do Departamento jurídico e dos assuntos sociais, Genebra. Acompanharam também as manifestações os presidentes das Municípios de Renens e Prilly, Exmos. Srs. Jean-François Clément e Alain Gilliéron.
O primeiro dos cinco eventos intitulado “Encontros de ilustração” concretizou-se com a exposição dos trabalhos selecionados no centro cultural “Ferme des Tilleuls” em Renens colhendo assim, de maneira simbólica, um dos significados mais profundos do 25 de Abril: a liberdade de expressão. Voltaremos a falar deste evento, como também das quatro outras temáticas, de maneira mais envolvente nas próximas edições da Gazeta Lusófona. Cerca de trinta ilustrações vieram a concurso. Deixamos aqui um primeiro apontamento em imagens: as três ilustrações premiadas por um júri qualificado. A primeira é da autoria de Francisco Sousa. Os dois outros laureados foram: Patricia Oliveira e Sara Antunes.
O segundo dia das festividades intitulado “Conferência – Sarau musical” foi equilibradamente reflexivo e festivo e funcionou como o primeiro em regime de lotação esgotada. A Grande Sala de Espetáculos de Prilly recebeu cerca de 250 pessoas. Um público atento, silenciado pela eloquência de três oradores que visitaram a Revolução dos Cravos através de memórias vivas e de olhares cruzados pondo em evidência a construção do Portugal democrático. Estamos a falar aqui dos contributos da professora Nazaré Torrão, do historiador Reto Monica e da jornalista Charlotte Frossard, cujos conteúdos farão objeto de uma publicação numa próxima edição da Gazeta. A noitada foi animada com um Concerto de Fado, concertina e música popular portuguesa e a carinhosa contribuição dos alunos da Escolas de Língua e Cultura Portuguesa de Prilly e Bussigny que interpretaram de maneira emocionante a inesquecível “Grândola, Vila morena…” de Zeca Afonso.
A Mostra do Jovem Cinema Português trouxe a Renens cinco curtas-metragens de cineastas premiados em diversos festivais internacionais. Cinco retratos da sociedade portuguesa pondo em evidencia processos de exclusão para os quais o 25 de Abril não encontro resposta, mostrando ao mesmo tempo formas de resistência e de resiliência de minorias ainda marginalizadas e esquecidas pela narrativa nacional. Erika Nieva da Cunha abriu a Mostra com “Maria Cobra Preta”. O filme conta a história de Maria e dos seus vizinhos que vão ser expulsos dos seus alojamentos. Maria tenta escapar à sua condição através da música … A Balada de um batráquio – tem a assinatura de Leonor Teles. A cineasta retrata a tradição xenófoba de colocar sapos de loiça à entrada dos estabelecimentos comerciais com o objetivo de evitar a entrada de ciganos. Os filmes de João Salaviza e de Basil Da Cunha nascem de um desejo de cinema espelhando a resistência de populações marginalizadas à destruição dos seus bairros e das suas vidas. Da ficção e do documentário passamos ao registo da animação, com o filme Estilhaços de José Miguel Ribeiro que mostra como a guerra colonial se instalou no corpo das pessoas que a viveram olhos nos olhos, contaminando depois, como um vírus, outros seres humanos. A tarde de cinema fechou com um debate apaixonante, de grande qualidade, conduzido por Mário Augusto, jornalista e crítico de cinema da RTP que deu a entender a linguagem do cinema e a maneira como a Sétima Arte pode contribuir para pôr em evidência dimensões de uma democracia mais inclusiva, a aperfeiçoar pela abertura de novos imaginários.
O último dia festivo reuniu cerca de 500 participantes à volta de dois eventos extraordinários. O primeiro teve lugar pela manhã do domingo 28 de abril e reuniu mais de uma centena de participantes à volta do 1.° Parlamento dos Jovens Portugueses da Suíça. Foi ali debatido o tema “Liberdades individuais, responsabilidade coletiva” que levou à formulação de diversas recomendações apelando a uma revalorização dos recursos humanos do Ensino do Português na Suíça e evidenciando o seu papel em formar cidadãos empenhados nos destinos coletivos (cf. Jovens Cidadãos em Ação : sínteses de dois dias memoráveis, nesta edição da Gazeta Lusófona).
O segundo evento desta jornada foi a destacada presença de Adelino Gomes, jornalista na Revolução, que abriu a tarde com uma envolvente descrição dos quatro momentos do dia 25 de Abril ilustrada por testemunhos radiofónicos originais. Voltaremos a este memorável testemunho numa das próximas edições da Gazeta Lusófona aproveitando também aqui oportunidade para agradecer a inestimável atenção do seu Diretor e caríssimo amigo Adélio Amaro.
A Revolução dos Cravos começou com música, foi também com música que se encerrou a comemoração do 25 de Abril ao cabo de uma semana comemorativa intensa, diversificada, reflexiva e recreativa, intercultural, participada e acarinhada por cerca de mil participantes de todas as idades e cuja mensagem se resume numa só formula: 25 de abril sempre! Ditadura nunca mais!
1 Delta Café, Santander, Montepio, Crédito Agricola, Europeixe, Calcada, Chambre de Commerce, d’Industrie et de Services – Portugal.