Tatiana Pinto Cardoso nasceu e vive em St. Gallen. É uma jovem promissora da nova geração que integra a Comunidade Portuguesa, neste País Helvético.
Tatiana Pinto Cardoso assume-se com uma defensora da Cultura Portuguesa.
Faz parte do Rancho Folclórico Danças e Cantares da Nossa Terra de Arbon, dança, é ensaiadora e faz parte também da Direção e tem um papel motivador em relação a todo o grupo.
Decidida, ponderada, cuidadosa em tudo o que faz a Tatiana é uma jovem responsável, respeitadora e que procura dar à sociedade Suíça e portuguesa o melhor de si.
Nos poucos momentos livres que tem, gosta de dançar, fazer yoga, viajar, comer boa comida e estar com os amigos. Não dispensa um bom prato gastronómico, sendo o seu preferido novos sabores de qualquer canto do mundo.
A sua vida gira um pouco por toda a Suiça. Estuda Sociologia e dentro de pouco tempo irá apresentar a sua Tese de Mestrado sobre os direitos de cidadania.
Vamos descobrir um pouco mais desta mulher sem preconceitos, linda por dentro e por fora lutadora dos seus ideais e ideias.
Como é crescer fora de Portugal e estar totalmente integrada nas duas culturas?
Para mim é muito valioso e gratificante, ter a possibilidade de crescer entre várias culturas. Além da cultura portuguesa e suíça, cresci e convivo com muitas pessoas de diferentes comunidades, etnias, culturas e nacionalidades que é literalmente um enriquecimento poder aprender com elas. Faço muitas vezes a experiência que estando fora do meu país a cultura é ainda mais valorizada e acarinhada por existir a saudade de estar longe. Tudo isso levou-me a apreciar cada cultura com a sua singularidade e inseri-la minha vida.
Tens uma estima elevada por tudo o que diz respeito á cultura portuguesa. Quem te transmitiu estes valores e como construístes em ti este amor à pátria?
A minha avó paterna veio para a suíça quando nasci. Além disso sempre estive rodeada de portugueses. Frequentei a escola portuguesa e os meus pais sempre deram valor a minha aprendizagem sobre a nossa cultura. Cresci num meio de muitas culturas diferentes, onde se partilhava tradições, comidas típicas e línguas. Aprendi assim muito cedo quanto valor a própria cultura tem para as pessoas e que valioso é pode-la partilhar para os outros. Tive uma Professora da escola portuguesa que nos levou a duas visitas de estudo a Portugal. Aí percebi que a nossa cultura foi influenciada por muitas outras. Nasceu assim o meu bichinho por culturas do mundo, de conhecer novos países, etnias e pessoas.
As nossas raízes, é o que nos define. Ir a procurar dos segredos da cultura dos nossos antepassados, é ir a procura da nossa própria história.
As tuas raízes folclóricas vêm de que parte da tua família? Porque assumistes este projecto cultural?
O engraçado é que ninguém da minha família algum dia fez parte de um Rancho Folclórico ou algo parecido. Antigamente dançava Bachata e Kizomba que são estilos completamente diferentes e sinceramente não ligava nada ao folclore. Os meus Pais sempre foram ligados a Centros e Associacões portuguesas. Então sempre tive convivência com portugueses, com a nossa cultura e com o nosso país que visito minimamente duas vezes ao ano. A anos atrás fui com a minha turma da escola portuguesa ao Algarve. Fizemos uma visitia de estudo e a nossa Professora levou-nos a ver um Rancho Folclórico da região. Na brincadeira dizemos que um dia íamos formar um Rancho na Suíça. Quando ouvi falar que se ia fundar um Rancho em Arbon tive curiosidade, então fui ao primeiro ensaio e desde aí a paixão foi crescendo. Uma nota a parte. Dois amigos meus, o Christian e o José que estavam presentes no Algarve quando fomos visitar o Rancho, hoje fazem parte de Direção e juntos abraçamos este projecto.
O Rancho Folclórico de Arbon tem apenas cinco anos e a pandemia não conseguiu abalar o vosso grupo. Como se consegue isto?
T.C. Para nós como Direção sempre foi importante, manter o grupo unido e não perder o ânimo durante a pandemia. Por essa razão tentamos sempre manter o nosso grupo ativo com atividades online, como fazer vídeos ou pinturas para publicar nas nossas redes sociais. Além disso sempre mantivemos contacto através do nosso grupo de Whatsapp. Durante os últimos dois anos, quando a situação melhorou e o estado assim o permitiu, também fizemos alguns convívios com diferentes atividades. O nosso foco como grupo foi sempre manter-nos unidos e manter o contacto com a nossa Família Rancheira.
Foste uma aluna exemplar e dedicada no teu percurso académico. Porque escolhestes a Sociologia para formação profissional?
T.C. Sempre soube que queria trabalhar com pessoas. Estar o dia todo presa a uma mesa, a um computador ou estar fechada o dia todo nunca foi para mim. Eu costumo dizer que tenho a síndrome da Madre Teresa de Calcutá, gosto de entender o ser humano, ajudá-lo com as suas dificuldades e no seu percurso da vida. Sociologia foi o curso que achei mais adequado para entender a pessoa em si, mas também como a sociedade funciona e influência o ser humano ou vice-versa.
És Co-presidente da INES (Instituto Nova Suíça), porque abraçastes este projecto e como pretendes demostrar, que de facto é possível termos uma nova Suíça?
Ao longo do tempo, fui-me apercebendo que havia situações nas quais era tratada de outra maneira, por não ter a nacionalidade suíça e por ser estrangeira. Mesmo assim eu posso falar de uma posição privilegiada, porque há pessoas que sofrem ainda mais de discriminação por causa da nacionalidade, etnia, religião ou recursos externos. A Suíça é um pais caracterizado pela imigração, mas a responsabilidade não é assumida, porque em pleno século 21 os estrangeiros continuam a ser discriminados por varias razões. O Instituto Nova Suíça, pretende mostrar a realidade da nossa sociedade e quais desafios á que enfrentar. A nova Suíça é sinónimo de participação, diversidade e uma nova autoconfiança onde nos queremos livrar da ideia do “nós” e “eles”. O objetivo é concretizar uma Suíça onde todas as pessoas que cá estão e que ainda virão, possam participar e viver sem desvantagens.
Está nos teus planos uma carreira política, neste Pais Helvético?
Neste momento não, além disso não tenho nacionalidade Suíça que me impede disso. Mas no fundo nos projetos em que estou envolvida, entre outros no Instituto Nova Suíça, faço trabalho político e tento assim influenciar a política de uma forma ou de outra.
Ao longo destes últimos anos, tens sido o foco, no jornalismo helvético. Como lidas com pressão que tens tido?
Inicialmente, com a minha jovem inocência, não entendia que consequências isso me poderia trazer. Com o passar do tempo e com os julgamentos principalmente por não ter a nacionalidade Suíça e mesmo assim ser politicamente ativa e defender os direitos dos emigrantes, tive algumas dificuldades. Por algum tempo ausentei-me de propositadamente. Negava qualquer convite para entrevistas, eventos etc. Hoje mais madura, lido bem com os julgamentos e com a pressão de ser uma mulher nova com biografia de migração. Luto pelos meus direitos e os dos outros. Com a minha ideologia de que nós somos todos iguais, luto pelos mesmos direito, mas também pelos mesmos deveres! Tenho tanto direito de expor a minha opinião como qualquer outra pessoa, com ou sem história de migração. Uma estratégia que fui adquirindo com o tempo. Tento entrar em diálogo com as pessoas que me confrontam e tento mostrar assim outras perspectivas.
Dentro de pouco tempo terás o teu mestrado feito. Como projectas a tua carreira profissional. Pensas ficar por cá, ou gostarias de abraçar um projecto internacional?
Por agora planeio ficar por aqui, porque ainda há muito que fazer. Mas sim tenho um bichinho dentro de mim, que me quer levar mais além do que as fronteiras helvéticas. Se calhar para o país onde tenho as minhas raízes, quem sabe…
Estudar Sociologia é estudar a sociedade, relações sociais e cultura? vais dedicar-te a alguma secção ou preferes um ramo mais abrangente?
Neste momento o meu foco está direcionado a alguns tópicos que já mencionei anteriormente. São temas diferenciados, mas que automaticamente são muito abrangentes. Tudo o que engloba pessoas, são assuntos muito complexos e conectados, é difícil traçar uma linha clara. Além disso não sou o tipo de pessoa que se gosta de fixar só numa coisa ou num tema, gosto de manter a mente aberta para desafios novos e poder assim crescer.
De que forma poderás aproveitar os teus estudos, para ajudares mais a Comunidade portuguesa, nomeadamente quem tem mais problemas com a integração?
Já desde muito cedo que exerci uma função ponte entre as duas culturas, em tentar ajudar a quem não entende a língua, os sistemas, a cultura. Com os estudos que tenho e todos os projetos nos quais estou ativa, aprendo cada dia mais como funcionam as diferentes pessoas, sistemas e culturas para poder ajudar. É também por isso mesmo, que sou muito sensível ao termo da integração, porque pode ser interpretado de várias maneiras e ao longo do tempo, na história Suíça teve e tem aspetos negativos. Tento assim ajudar de uma maneira que não haja confrontação nem negação ou até discriminação. Com diálogo, compreensão das duas partes, transparência, sinceridade tento gerir com entendimento geral sem julgamento ou exigências unilaterais.
Estamos em Janeiro 2022. Que desejas para este ano?
Desejo a todas as Pessoas muita paz interior e saúde. Espero que este ano nos traga muitas coisas boas e que possamos ultrapassar esta fase difícil pela qual estamos a passar. Estou ansiosa que comecem outra vez as nossas atividades culturais, das quais sinto muitas saudades. Desejo uma Nova Suíça, onde todos sejamos iguais e que os sonhos de cada um se possam concretizar.
Maria dos Santos