› Ilídio Morgado
Revista sem portugueses? Até parece mal! Em Genebra, Susana Plácido desperta gargalhadas e traz o toque de Portugal a um espetáculo de boa disposição. Ela é loira, alta, elegante, simpatiquíssima, de sorriso aberto e fala, fala, fala.
Um poço de energia que parece inesgotável, um carisma vincado que deixa marca a quem a conhece. Falamos de Susana Plácido, portuguesa nabantina que não passa despercebida por onde passa. Vamos dar a conhecer esta mulher de garra com um sentido de humor contagiante.
Susana, conta-nos quem és.
Sou Susana Plácido, nasci em Tomar, terra lindíssima onde não me canso de voltar, vim para a Suíça na tenra idade de nove meses, não me perguntaram nada. Aqui fiz toda a minha vida até os dias de hoje, estudei, formei-me, casei, tive filhos, o pacote completo. No entanto nunca me considerei suíça, mantenho as minhas raízes bem entranhadas, por isso ando sempre à procura de oportunidades para voltar para Portugal.
Mulher dos sete ofícios, mãe, esposa, produtora, promotora de eventos, empresária, atriz…, consegues dormir?
Pois é! Tenho esse “mau feitio” de fazer coisas. É uma necessidade minha, sou assim, hiperativa (risos). Sempre gostei de estar ocupada, as minhas atividades é onde me sinto eu mesma e faço o que gosto logo, junto o útil ao agradável.
Tens promovido eventos em várias áreas…
É o bicho carpinteiro a funcionar. São áreas que gosto particularmente e que, além da parte mais materialista, completa-me no que eu pretendo na minha vida profissional. Não é muito fácil trabalhar no que gostamos e quando conseguimos conciliar é topo. A Siwell é um evento dedicado à beleza, único salão/feira na Suíça, no qual participo na produção, animação e apresentação, terá lugar este ano entre 4 e 5 de maio na Palexpo. O Talon Aiguille promove alguns eventos para senhoras, alguns engraçados, como por exemplo a corrida que organizámos junto ao lago de Genebra em sapatos de salto alto, 12 cm (risos), um fartote de rir. Entre uns e outros, sou RP num local de diversão noturno, o Village du Soir, ajudo a produzir alguns eventos e no acompanhamento do alinhamento de artistas que ali atuam, bandas, etc.
Como tinha pouco que fazer, há uns sete anos convidaram-me para fazer parte deste espetáculo de revista o que me deixou apaixonada de imediato, tem tudo a ver comigo. Entre outras coisitas. Fiz igualmente uma emissão numa radio local, hoje a Radio Lac. Um programa matinal, das 6h0 às 9h, Good Morning Genève, acordávamos o pessoal com sorrisos e alegria, gostei muito, mas fiquei a saber uma coisa importante, a manhã não é, definitivamente, a minha praia, o meu elemento é a noite onde me sinto confortável e perfeitamente à vontade, como um peixe na água. Tinha de me levantar às 4h30 da manhã, credo! Deus me livre!
Tens o gosto pela representação e contacto com o público. Era algo que sentias querer fazer?
Já. Sentia porque eu estou sempre a rir e a falar, sou uma pessoa bem-disposta. Tanto sentia que para entrar no mundo da representação que fiz várias formações, curso de comédia musical que abrange comédia, dança e canto o que é bem expresso neste espetáculo, além disso não tenho vergonha nenhuma logo é ouro sobre azul.
Um pequeno apontamento, a Susana canta lindamente o Fado…
Aí é?! Nem me lembrava desse meu “dom” (risos). Fiquei a saber…
Quer dizer que o convite para atuar neste modelo de espetáculo de Revista, “Revue et non Corrigé”, é a tua cara…
Sem dúvida! Este formato encaixa em tudo o que me dá prazer de fazer nesta área. A Revista ganhou o seu espaço no meio cultural genebrino, somos a segunda em termos de grandeza, a primeira é a Revue sem ser corrigida e nesta temos essa “vantagem”, podemos dizer quase tudo o que nos vier à cabeça. Fazemos uma sátira mais mordaz, e sem filtros, da vida política, social e mediática da sociedade genebrina e não só. Sarcástica, irreverente, insolente, paródia humorística, é a essência do que fazemos numa toada de bom humor burlesco para rirmos até nos doer a barriga e assim aliviar as preocupações do dia a dia. Além disso, divertimos, divertimo-nos e com um copo de vinho entre amigos passamos noites inolvidáveis. O formato também ajuda, o espaço de atuação é de café teatro, os espectadores que têm a coragem de nos ver comem, riem e saem com um sorriso nos lábios. O que sabemos é que quem assiste uma vez, repete, sinal que funciona e a nossa loucura dá frutos.
Além dos papéis que representam em palco, há a outra parte do espetáculo que também é assegurada pelos atores…
Sim, somos poucos, cinco, mas assumimos praticamente tudo. Eu este ano já comecei também a participar na produção, a escrever o guião de alguns sketchs, mise em scene e outros aspetos logísticos do espetáculo. Além disso, trouxe igualmente a comunidade portuguesa que quando descobriram este formato de revista preferem-na à outra, porque é mais ao nosso jeito, “morde” mais, trata os assuntos de uma forma mais popular, terra a terra. Os meus colegas ajudam-me muito, são pessoas que fazem isto há muito tempo, o Philippe, por exemplo, leva 40 anos nestas andanças.
Esta revista é produzida e apresentada num local icónico de Genebra…
É a maior instituição referência de Genebra, Les Vieux Granadiers, fundado em 1749, que representa as tradições seculares de Genebra. É daqui que são organizados os cortejos das comemorações simbólicas de Genebra, como a Restauração da República, entre outros. O local é na Rue de Carouge, 92, em Genebra, tem restaurante e a sala onde atuamos. Aliás, quero deixar aqui expresso uma curiosidade sobre este local que me aquece os nervos(risos), às quintas-feiras é interdito a entrada a mulheres! Um escândalo!!! Eu estou sempre a picá-los com isso(risos) e de vez em quando, durante o espetáculo lanço uma piada sobre o assunto. Mas são regras e costumes muito antigos que mantém, haja paciência. Não há mulheres granadiers… Farto-me de reclamar, para nada(risos).
Trabalho de representação é apaixonante…
Sim, interpretar e representar personagens diversas que são conhecidas requer um trabalho de investigação aturado e que tem de apanhar todos os tiques que podemos aumentar ou brincar com isso.
Uma portuguesa que “cai” aqui para fazer pouco dos suíços…
Eu não apareci aqui, eles é que me foram buscar (risos). Fui, e sou, muito bem recebida e o facto de ser portuguesa traz uma irreverência diferente, uma mais-valia ao espetáculo, funciona. A comunidade é a maior em Genebra e o nosso sotaque traz uma nuance divertida, apesar de muitas vezes dizerem que sou tudo menos portuguesa, eslava, australiana, sei lá. Não sou a única, quando comecei, havia outra moça portuguesa, mas os rapazes daqui acham que uma já é demais, eu chego para eles todos (risos).
Foi um grande prazer estar contigo e peço-te que deixes uma mensagem aos leitores para virem assistir…
Digo! A Revista está em cena de 9 de fevereiro a 23 de março e quando estiverem mais sombrios, ou aborrecidos com a vida, venham até aqui, há um raio de sol à vossa espera, duas horas de pura diversão, podem comer e ver o espetáculo, o que é raro. Todas as quartas, sextas e sábados é sempre a bombar! Vão adorar e sair com outra disposição. Apareçam! Beijinhos!